Quase sem voz, mas a falar sobre o PS que sai destas autárquicas como uma fénix renascida das cinzas da hecatombe das legislativas de Maio. Foi assim que, à meia-noite, José Luís Carneiro se apresentou na Sala da Música da sede do partido, sem bandeiras nem militantes, mas apenas dirigentes do partido, para reclamar que “o PS voltou, depois de uma derrota eleitoral pesada [em que foi relegado para terceira força no Parlamento], como o grande partido da alternativa política ao Governo”. Porém, apesar de ter perdido as eleições autárquicas já que teve menos presidências de câmaras que o PSD, nunca usou a palavra derrota e destacou o facto de duplicar as capitais de distrito (para dez), o que mostra a confiança do eleitorado urbano e “mais exigente”.

Nesta sua primeira noite eleitoral como líder, o socialista puxou ainda para o PS os louros pela travagem ao Chega que, disse, foi “relegado para quinto lugar”, atrás da CDU e do CDS-PP, esquecendo-se até de contabilizar os municípios liderados por independentes. “Para os que achavam que estava em perda, o PS mostrou vitalidade e os portugueses mostraram que continuam a confiar” no partido e nos seus autarcas, insistiu o secretário-geral que não se cansou de referir a “humildade democrática” do partido. “Não alcançámos todos os objectivos mas alcançámos outros que estávamos longe de imaginar”, ou seja, baterem-se “taco a taco” em Lisboa e Porto e ganhar Viseu.

Sobre a avaliação que fez da sua liderança neste processo eleitoral, José Luís Carneiro considerou mesmo que os portugueses mostraram uma “confiança reforçada na liderança do PS”. “Isso parece-me inequívoco”, apontou, apesar de estar a colher os louros das vitórias de candidatos escolhidos pelo seu antecessor, Pedro Nuno Santos.

A ideia da resistência do PS tinha já sido avançada pelas 22h por André Rijo, o coordenador autárquico do partido, que veio dizer aos jornalistas, com voz confiante, que “as notícias da erosão estrutural do ponto de vista eleitoral do PS eram manifestamente exageradas”. Nessa altura, os socialistas ainda acreditavam poder ganhar Lisboa e o Porto.


Nas contas finais, os socialistas terão 130 presidências de municípios, enquanto o PSD deverá somar 134, o que significa que deixarão de presidir à ANMP – Associação Nacional de Municípios Portugueses. Mas duplicam as câmaras de capitais de distrito, de cinco para dez, incluindo alguns bastiões sociais-democratas como Viseu, Bragança e Faro, ou comunista, como Évora. “No Algarve, onde havia profunda preocupação com o crescimento da extrema-direita, o PS fechou com 11 câmaras; o PSD, duas; o Chega, uma; a CDU, uma; e os independentes com uma. Ou seja, uma vitória hegemónica do PS no Algarve”, descreveu.

“A responsabilidade é de todos”

Depois de algum desencontro entre Carneiro e Carlos César sobre a responsabilização pelos resultados, com o segundo, presidente do partido, a dizer que esta cabe às direcções dos partidos por participarem na escolha dos candidatos, o secretário-geral disse que “a responsabilidade é de todos” quando o PS falha municípios que assumira como fundamentais – Lisboa, Porto e Sintra. Sobre a redução geral de municípios, Carneiro lembrou que o PS tinha o “complexo desafio” de substituir 49 presidentes em fim de mandato, mas ainda assim conseguiu manter mais de metade dos municípios onde houve transição para uma nova cara (perdeu 19 desses, manteve as restantes).

Nas capitais de distrito, os socialistas perdem Beja para o PSD, mas acabam a ganhar Viseu que era um bastião social-democrata desde 1989, Coimbra (a ex-ministra Ana Abrunhosa retirou a cidade ao independente José Manuel Silva), Évora (pela mão do ex-eurodeputado Carlos Zorrinho), Bragança (com a ajuda da ex-secretária de Estado Isabel Ferreira, que rompe 28 anos de domínio do PSD), Faro (António Pina foi de Olhão para reconquistar a capital do Algarve que era PSD há 16 anos). Aos comunistas, o PS ganha, por exemplo, as câmaras de Monforte, Grândola, Alcácer do Sal, Vidigueira, Serpa; e ao PSD Penedono, Mação, Vieira do Minho, Tabuaço.