Teorias da conspiração, negacionismo, capitalismo, guerra de classes, crise de opióides e ecologia são apenas alguns dos tópicos que Yorgos Lanthimos (Pobres Criaturas) usa para fazer de Bugonia, seu remake do sul-coreano Save the Green Planet!, uma reflexão sobre o mundo atual. Depois da decepção com Tipos de Gentileza, que parece nunca ter encontrado o seu tom depois do sucesso estrondoso de Pobres Criaturas, o diretor grego retorna com um discurso ácido em um formato aparentemente simples, mas com muita coisa a dizer.

O pontapé inicial de tudo é a ambição dos primos Teddy (Jesse Plemons) e Don (Ainda Delbis) de provar a todo custo a existência de uma raça alienígena vivendo entre os humanos. Para comprovar a tese, eles sequestram Michelle (Emma Stone), a bilionária CEO de uma farmacêutica que eles acreditam ser representante da espécie extraterrestre.

Vivendo às margens da sociedade norte-americana, a dupla de primos representa a parcela da população dos EUA (ou de qualquer país) não letrada que é influenciada por fake news ou qualquer tipo de informação impressionante. Teddy, o líder do duo, se aproveita da inocência de Don para fazê-lo seguir seus planos insanos criados a partir do consumo de revistas e teorias da ufologia sem qualquer embasamento científico, mas é através desse prisma que Lanthimos faz um estudo sócio-político extremamente atual, pontuando como uma sociedade altamente influenciável leva a consequências absurdas – retrato tragicômico e em certa medida fiel ao momento vivido pelos estadunidenses nos últimos anos.

O título é uma referência a um mito sobre abelhas emergindo de um boi morto; Teddy, interpretado com destreza por Plemons, é um apicultor devastado pela diminuição progressiva da população de abelhas e que atribui isso à devastação ecológica causada por um vasto conglomerado varejista/farmacêutico comandado pela rainha corporativista Michelle. Sua empresa também feriu gravemente a mãe problemática de Teddy, Sandy (Alicia Silverstone), com seus medicamentos experimentais para abstinência de opióides.

Bugonia vive à beira do absurdo completo, mas com credibilidade suficiente em seus momentos mais selvagens para lhe garantir um lugar de honra no gênero de suspense paranoico. Mas Lanthimos jamais se contenta com o básico, e seu impulso criativo é sempre forte o bastante para ir em busca de mais. O lúdico do roteiro de Will Tracy se torna tragicômico à medida que entendemos mais do passado de Teddy, e o que parecia apenas mais um personagem ignorante se torna o expoente da hipocrisia capitalista, onde a população terá sempre importância menor do que o lucro.

O jogo de gato e rato que se estabelece entre Teddy e Michelle é fascinante, com Plemons se esforçando ao máximo para dar um rosto humano tristemente patético a esse sujeito, quase a ponto de você sentir pena dele, por mais equivocado que ele esteja. E isso vale para Don, que aos poucos começa a perceber que talvez eles estejam se metendo em encrenca, que sumir com uma executiva importante não é uma boa ideia. Enquanto isso, Michelle está brincando com eles, tentando convencê-los de que pessoas muito importantes estão por aí procurando por ela e que tudo não vai acabar bem. Mas nada em Bugonia, do discurso à realidade de seus personagens, é o que parece ser, e em cada troca dos personagens o roteiro de Tracy se torna ainda mais fascinante.

Dentro do cinismo das obras de Lanthimos, Bugonia destaca-se tanto pela sua insensibilidade quanto pelo seu otimismo contido quanto à nossa vontade ou capacidade de reverter cursos. Mas o longa logo expande-se de forma hilária – e nada sutil – à reflexão de que, no final, não aprendemos nada enquanto sociedade. Uma mensagem sincera sobre um presente em desintegração, com uma visão incrivelmente negativa que soa quase como um aviso de que provavelmente estamos atrasados ​​demais para efetuar qualquer mudança real no mundo que tão vaidosamente destruímos.

Entre filmes que, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, buscam definir o século, Bugonia é um dos que mais se aproxima desta missão. Se na execução pode parecer simples, é através da visão crítica de seu diretor que a obra circula encontrar a genialidade.

Bugonia

Bugonia

Ano:
2025

País:
EUA

Duração:
120 minutos min

Direção:

Yorgos Lanthimos

Elenco:

Jesse Plemons
,
Emma Stone
,
Alicia Silverstone

Onde assistir: