A noite caía sobre o Estádio do Bessa a 1 de setembro de 2016 quando, ao intervalo, André Silva pisava o palco mais querido para o tio boavisteiro. Estava a viver a estreia pela Seleção A, contra Gibraltar (5-0), no primeiro jogo após a inédita conquista do Europeu.

No sintético do FC Foz, em entrevista ao Maisfutebol, o ponta de lança de 29 anos desvendou objetivos e não escondeu a mágoa pelos poucos minutos no Euro 2020 (realizado em 2021), depois da melhor época da carreira. Ao cabo de 53 internacionalizações às ordens de Fernando Santos, com 19 golos e chamadas ao Mundial 2018 e 2022, André Silva sonha em convencer Roberto Martínez, até porque leva quatro golos em sete jogos pelo Elche na La Liga.

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Maisfutebol (MF): Em setembro de 2016, ainda no FC Porto, fez a estreia pela Seleção A.

André Silva (AS): Vivia um sonho, jogava pelo clube do coração e estava na Seleção. Para mim era o topo, estava rodeado de jogadores com muitas conquistas.

MF: Para além de Cristiano Ronaldo, quem via como referência na Seleção?

AS: Também o Bruno Alves, pela abertura que teve comigo. E cresci a vê-lo no FC Porto. Foi um bom companheiro e tentava ajudar e ensinar. E ele desfrutava de o fazer. Mas também dava umas “frutas”. Lembro-me em particular de um treino no Mundial 2018. Queria fazer uma tabela e já estava a ver o Bruno Alves. Já tinha sentido as “patadas” dele, então só quis dar a bola rápido e sair, ele já vinha com tudo. Corri para a frente, mas tinha passado mal e permiti um contra-ataque. Reparei nisso porque o mister Fernando Santos disse: «Estás a correr para a frente porquê?». Tudo por influência do Bruno.

MF: (…)

AS: Quanto ao Cristiano, para lá dos conselhos de jogo, lembro-me das dicas quanto à água fria e à sauna.

MF: Em 2020/21 conseguiu a melhor época até hoje, com 29 golos em 34 jogos, ajudando o Frankfurt a atingir o quinto lugar da Bundesliga. Essa temporada valeu a estreia num Europeu.

AS: Orgulho-me de ter alcançado o quarto lugar na Bota de Ouro, atrás de Lewandowski, Cristiano Ronaldo e Messi. Agradeço ao Frankfurt por me permitir atingir esse nível, foi a fase em que senti maior confiança. E estar na Seleção é sempre motivo de orgulho, faz-me sentir recompensado. Mas, nesse verão, senti muita insatisfação, face à época que consegui e o espaço que me foi dado na Seleção. Tinha outras expectativas e sabia o que podia dar.

MF: Nesse verão trocou Frankfurt por Leipzig. Porquê?

AS: Pela amargura que senti no Europeu, porque, afinal, aquela quantidade de golos no Frankfurt não era suficiente. Exigi de mim patamares mais elevados e situações mais exigentes. Essa ambição – e impaciência – levaram-me a assinar pelo Leipzig. Reconheço que não tinha noção da estabilidade que tinha em Frankfurt.

MF: (…)

AS: Em Leipzig tive o privilégio de partilhar balneário com jogadores incríveis e conquistámos a Taça da Alemanha por duas vezes. Aprendi imenso nesses momentos, passei por fases desconfortáveis que desconhecia. Coloquei muitas situações em perspetiva e conheci-me enquanto jogador e pessoa.

MF: Um sonho para a carreira?

AS: Regressar à Seleção. Cabe-me demonstrar que o mereço.

Prossiga para a terceira e última parte da conversa de André Silva com o Maisfutebol.