A União Europeia conseguiu reduzir as desigualdades entre Estados-membros graças às políticas de coesão. Países como a Polónia aproximaram-se significativamente da média europeia em apenas duas décadas. No entanto, segundo o ‘El Confidencial’, à medida que estas diferenças entre países diminuem, crescem os desequilíbrios internos: o crescimento económico concentra-se nas grandes cidades, enquanto regiões rurais e cidades de médio porte ficam estagnadas.

Armadilhas do desenvolvimento

A Comissão Europeia definiu uma “armadilha de desenvolvimento” como uma região que deixa de progredir em relação ao seu passado, ao país e à Europa. Isto gera sentimento de abandono entre os habitantes, que se sentem ignorados pelas políticas públicas. Andrés Rodríguez-Posé, professor de Geografia Económica na London School of Economics, alerta que focar apenas nas grandes cidades é “como pilotar um avião com apenas um motor”: o potencial total do território não é aproveitado e muitas regiões com capacidade de crescimento ficam esquecidas.

As armadilhas do desenvolvimento criam um círculo vicioso: quanto mais tempo uma região permanece estagnada, mais profunda se torna a deterioração de serviços básicos como educação, saúde e transporte, reforçando o descontentamento social e o apoio a partidos populistas de direita. László Andor, ex-comissário europeu para o Emprego, destaca que em vastos territórios rurais a expectativa de vida pode ser até 10 anos inferior à das regiões mais prósperas.

O peso do euroceticismo

A estagnação económica aumenta o apoio a partidos eurocéticos e populistas, que canalizam o descontentamento económico para a xenofobia e oposição à UE. Desde a crise financeira, estes partidos viram o seu apoio disparar, atingindo 27% dos votos em 2022 e governando ou influenciando decisivamente em países como Itália, Hungria, Países Baixos, Finlândia, França, Áustria, Alemanha e Portugal, segundo a publicação espanhola.

Mesmo sem chegar ao Governo, estes partidos promovem forte polarização, nomeadamente no debate sobre imigração. O apoio é mais elevado nas regiões menos desenvolvidas e em transição (34%) do que nas regiões mais desenvolvidas (22%), embora estas últimas apresentem maior percentagem de euroceticismo extremo (15% vs. 9%).

Política de coesão em transformação

A política de coesão e os fundos regionais continuam a ser instrumentos-chave para combater estes desequilíbrios. A UE prepara uma mudança profunda para o período 2028-2034, fundindo a Política Agrícola Comum e os fundos de coesão num bloco financeiro nacionalizado. Serafín Pazos-Vidal, especialista em Desenvolvimento Rural e Territorial, alertou que isto poderá reduzir a influência das regiões e criar competição por recursos, desviando investimentos de longo prazo para objetivos imediatos ou politicamente rentáveis.

Sem reforço dos investimentos em regiões menos desenvolvidas, a UE corre o risco de fragmentar-se numa Europa de três velocidades: norte competitivo, sul dependente e leste em reconstrução. A coesão económica ficaria comprometida, reforçando o euroceticismo. Ainda assim, 67% dos espanhóis apoiam o alargamento da União Europeia, acima da média comunitária de 56%.

O direito de permanecer

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, defende o “direito de permanecer” nas regiões de origem, afirmando que a livre circulação deve ser uma escolha, não uma necessidade. Pazos-Vidal sublinha que transformar este princípio em realidade exige políticas activas que garantam bem-estar e oportunidades reais: reduzir o despovoamento rural no sul da Europa, conter a fuga de cérebros no Leste e implementar estratégias de contração inteligente nos países nórdicos.

De acordo com o ‘El Confidencial’, o desafio agora é assegurar que o investimento e as políticas públicas cheguem às regiões esquecidas, evitando que desigualdades internas se perpetuem e alimentem a polarização política na Europa.