Amigo de infância de Gilboa Dalal, Evyatar David, 24 anos, da cidade de Kfar Saba, também tinha ido com ele ao Nova Festival naquele dia 7 de outubro. Trabalhava num café e, tal como o seu amigo, planeava ir ao Japão. E ainda à Tailândia.

“Evyatar adorava sair e vivia a vida ao máximo. Por um lado, era calmo e tranquilo, por outro, era cheio de energia e imparável”, contou a irmã Yeela, citada pelo Haaretz.

“Um esqueleto vivo.” Hamas divulga vídeo com refém a cavar a própria sepultura

As imagens que surgiram de David no cativeiro contavam outra história. Extremamente magro e pálido, o refém aparecia num túnel com uma pá: “A cada dia que passa, o meu corpo fica mais fraco e mais magro”.

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“Parece que estou a escavar a minha própria sepultura”, dizia o refém no vídeo. “Uma na qual me posso vir a deitar”, continuava. Num comunicado, a família lamentou terem sido “forçados a testemunhar o nosso querido filho e irmão deliberada e cinicamente esfomeado nos túneis do Hamas em Gaza”, parecendo “um esqueleto vivo, enterrado vivo”.

Tanto ele como Gilboa-Dalal tinham também aparecido noutro vídeo publicado em fevereiro deste ano, ainda durante o primeiro cessar-fogo na Faixa de Gaza, que durou cerca de dois meses. Segundo o Haaretz, ambos estavam num carro junto a uma cerimónia da primeira grande leva de libertações de reféns em Gaza.

Depois do regresso, a família celebrou o regresso a casa de Evyatar, esta segunda-feira. “Desde o primeiro momento, sabíamos que ele voltaria e, após dois anos de sofrimento, aqui está ele. Agora, uma nova jornada de cura começará para Evyatar e para nós”.

Os irmãos Cunio, nasceram em Israel de pais judeus argentinos que migraram para o país. Cresceram no kibutz Nir Oz, atacado durante o 7 de outubro. David, de 29 anos, tinha tirado informática e testava software numa empresa tecnológica. Já Ariel, 35 anos, é ator, técnico eletricista e pai de duas gémeas, Emma e Yuli, de cinco anos de idade.

Ambos os irmãos têm também a nacionalidade portuguesa, obtida devido à sua origem como judeus sefarditas. Tinham acabado de vir de uma viagem à América Latina quando militantes do Hamas entraram no kibutz e acabaram por ser levados para Gaza.

Durante o cativeiro, Ariel Cunio foi a companhia para o seu melhor amigo, Yarden Bibas, cuja mulher e duas filhas morreram enquanto estiveram presas em Gaza. Depois de Yarden ter sido libertado em fevereiro, contou ter pedido pessoalmente ao então líder do Hamas, Yahya Sinwar, para ficar com o seu amigo.

“Quando nos cruzávamos nos túneis, havia sempre um forte abraço e um beijo na bochecha. Dizíamos: ‘Vai ficar tudo bem, irmão. Amo-te’. Não sei como ele conseguiu continuar. Espero que ele seja forte”, disse então Bibas.

O pai de ambos, Luis Cunio, lançou fortes acusações ao governo liderado por Benjamin Netanyahu num texto de opinião no Haaretz publicado no início deste mês, em que disse terem sido “abandonados”.

“Criámos os nossos filhos aqui [em Israel]; eles serviram no exército, constituíram família, viveram no kibutz – e, de repente, surge este abandono. Israel não é mais o que costumava ser. O povo judeu mudou. A responsabilidade mútua que tínhamos aqui desapareceu, foi atirada para o lixo. Falam em ocupar Gaza, anexar a Cisjordânia. Não era isso que sonhávamos. Há uma grande desilusão”, disse.