Ninguém em Fuensanta, um bairro pacato de Valência, em Espanha, deu pela ausência de Antonio Famoso ao longo dos anos. O corpo do homem, pedreiro de profissão, foi encontrado neste fim-de-semana na casa onde vivia, 15 anos depois da data da sua morte.

Terá sido visto pela última vez em 2010 pelos vizinhos do prédio de seis andares, que presumiram que estivesse a viver num lar durante este tempo todo. Descrevem-no como um idoso “desorientado, abatido, solitário e descuidado”. Divorciado e com dois filhos, há anos havia “perdido o contacto com o mundo”, como escreve o El País, mais relato que prova a extrema solidão que também existe nas grandes cidades.

A tempestade Alice, que assolou Espanha nos últimos dias, inundou parte do apartamento que se julgava estar vazio, e a água acabou por se infiltrar no tecto da vizinha de baixo, uma mulher de 81 anos, que chamou as autoridades.

Quando os bombeiros entraram no apartamento através de uma janela, este sábado, ficaram chocados com a descoberta macabra. O homem estava deitado num dos quartos, rodeados de pombos mortos, insectos e uma imensa sujidade. Terá morrido com 74 anos de causas naturais, segundo a polícia. “Antonio abandonou a família há três décadas”, referiu fonte da Polícia Nacional ao jornal espanhol, que assumiu a investigação do incidente e afastou indícios de crime.

A vizinha de baixo recorda-se de sentir um mau odor no corredor, mas acabou por não dar importância. Autoridades e vizinhos acreditam que o facto de uma das janelas do apartamento de Antonio ter permanecido aberta todos estes anos ajudou a afastar o cheiro do cadáver em decomposição.

E outro mistério deste caso também já teve resolução: a pensão da reforma do pedreiro continuou a ser depositada regularmente na sua conta. Por causa disso, as despesas da casa, como água e luz, também continuaram a ser debitadas, sem que ninguém suspeitasse da morte do idoso.