Condenado a cinco penas de prisão perpétua pelo envolvimento em atentados contra israelitas e detido desde 2002, Marwan Barghouti continua a ser uma figura proeminente na política da Palestina. Há até entre israelitas quem defenda que seria a pessoa “mais qualificada” para liderar.
BRENNAN LINSLEY
Há quem lhe chame “o Mandela palestiniano”: Marwan Barghouti está detido desde 2002, condenado a cinco penas de prisão perpétua pelo envolvimento nas emboscadas armadas e atentados suicidas que mataram civis israelitas durante a Segunda Intifada Palestiniana.
Foi também acusado de fundar as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, um grupo designado pelos EUA como terrorista que operava como braço armado da Fatah antes de o movimento anunciar a sua dissolução em 2007.
No entanto, Barghouti nega as acusações e recusa-se a reconhecer a legitimidade do tribunal israelita que o condenou em território ocupado.
Bernat Armangue
“Reservo-me o direito de me proteger, de resistir à ocupação israelita do meu país e de lutar pela minha liberdade… Não sou um terrorista, mas também não sou um pacifista”, escreveu num artigo de opinião publicado em 2002 no jornal norte-americano Washington Post.
A pessoa “mais qualificada” para liderar os palestinianos?
Figura acarinhada pelos palestinianos, muitos prefeririam que fosse o sucessor de Mahmoud Abbas como presidente da Autoridade Nacional Palestiniana.
Durante vários anos, sondagens apontaram Marwan Barghouti como a figura política palestina mais popular e sugeriram que venceria facilmente as eleições presidenciais, que não são realizadas desde 2005.
Mahmoud Illean
Uma opinião partilhada por alguns israelitas: em entrevista à France24, em julho, Efraim Halevy, ex-diretor do Instituto de Inteligência e Operações Especiais de Israel (Mossad), classificou Marwan Barghouti como a pessoa “mais qualificada” para liderar os palestinianos.
O percurso político do palestiniano de 66 anos começou na adolescência, assim como as detenções. Aos 15 anos foi preso por se ter juntado à Fatah e passou quatro anos atrás das grades. Uma vez libertado, estudou história e ciências políticas e voltou ao ativismo político.
Defensor da criação de um Estado palestino em Jerusalém oriental, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, Barghouti subiu na hierarquia da Fatah e acabou por tornar-se um dos mais proeminentes dirigentes do partido, tendo sido secretário da Fatah na Cisjordânia e membro do Conselho Legislativo Palestiniano.
Nasser Nasser
Provocações polémicas
Desde a escalada da guerra nos últimos dois anos, Barghouti tem sido mantido em regime de isolamento e segundo grupos de direitos humanos palestinianos é constantemente atacado por guardas.
Um vídeo divulgado em agosto pelo ministro da Segurança Nacional de Israel, o conservador Itamar Ben-Gvir, mostra o palestiniano a ser confrontado pelo ministro israelita numa cela de isolamento da prisão de Ganot.
“Não vencerás. Aquele que se meter com o povo de Israel, aquele que assassinar as nossas crianças, aquele que assassinar as nossas mulheres, será exterminado”, diz Itamar Ben-Gvir no vídeo considerado uma provocação pela ONU.
Nome de Barghouti fora da lista de detidos a libertar
Terá sido precisamente este ministro a exigir ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que não incluísse Marwan Barghouti na lista de prisioneiros a libertar e obteve garantias que essa seria uma linha vermelha.
Na lista dos que serão libertados também não se encontram outros políticos de relevo, como Ahmed Saadat, ex-secretário-geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina.