EXPLICADOR
Madagáscar enfrenta uma grave crise política desencadeada por manifestações da Geração Z, motivadas pela falta de oportunidades, cortes no fornecimento de energia e escassez de água. Os protestos alargaram-se a reivindicações contra a corrupção e a má gestão do país, culminando numa revolta militar e na fuga do Presidente Andry Rajoelina.
Manifestantes exigem a demissão do Presidente Andry Rajoelina em Antananarivo, Madagáscar, terça-feira, 14 de outubro de 2025.
Brian Inganga / AP
Madagáscar atravessa um período de grande instabilidade política, semelhante à que tem afetado países como Bangladesh e Nepal nos últimos meses. Tudo começou com manifestações organizadas por jovens da Geração Z, que rapidamente cresceram e tomaram conta das ruas da capital, Antananarivo, assumindo proporções e consequências incontroláveis.
O que está a provocar estas manifestações?
Frustrados com a falta de oportunidades no país, onde muitos jovens nem trabalham nem estudam, os protestos tiveram início nas últimas semanas devido a cortes no fornecimento de energia e à escassez de água.
Manifestantes exigem a demissão do Presidente Andry Rajoelina em Antananarivo, Madagáscar, terça-feira, 14 de outubro de 2025.
Brian Inganga / AP
Rapidamente, as reivindicações alastraram-se a temas mais abrangentes, como a corrupção, a má gestão e a carência de serviços públicos essenciais, como explica o The Times Of India.
Da revolta dos militares à fuga do Chefe de Estado
Segundo a “Geração Z Mada”, autodenominação dos jovens em protesto, o principal responsável pela instabilidade no país é o Presidente de Madagáscar, Andry Rajoelina, que ocupa o cargo desde 2019 e reeleito em 2023.
O Chefe de Estado tentou impor medidas para conter os protestos, recorrendo às forças de segurança, que acabaram por se recusar a cumprir as suas ordens, exigindo a demissão do Presidente e de outros membros do Governo.
O Presidente Andry Rajoelina numa cerimónia oficial, a 2 de setembro de 2025, em Antananarivo, Madagáscar.
Alexander Joe / AP
Numa publicação no Facebook na noite de segunda-feira, Andry Rajoelina afirmou ter sido obrigado a fugir do país no domingo, para encontrar um local seguro que garantisse a sua proteção e encontra-se atualmente em parte incerta. Esta terça-feira, dissolveu a Assembleia Nacional antes da votação sobre a sua destituição, considerando a ação inconstitucional e qualquer resultado como “nulo”.
No mesmo dia, o Corpo de Administração de Pessoal e Serviços do Exército Terrestre (CAPSAT), unidade militar que se juntou ao movimento de protesto, anunciou que os seus militares tinham assumido o controle do país e dissolvido diversas instituições, exceto a Assembleia Nacional, que votou a favor da demissão do Presidente.
Esta mesma unidade esteve envolvida no golpe de Estado de 2009, que derrubou o antigo presidente e possibilitou a ascensão ao poder do atual líder.
O comandante da unidade militar CAPSAT, coronel Michael Randrianirina, junta-se aos manifestantes para anunciar que as forças armadas estão a assumir o controlo do país em Antananarivo, Madagáscar, terça-feira, 14 de outubro de 2025.
Brian Inganga / AP
O Supremo Tribunal de Madagáscar nomeou posteriormente o coronel Michael Randrianirina como presidente interino, incumbindo-o de organizar novas eleições no prazo máximo de 60 dias.
No entanto, poucas horas depois, a presidência de Madagáscar contrariou essa decisão, afirmando que o Presidente Andry Rajoelina permaneceria no cargo e denunciando uma tentativa de golpe de Estado.
Um dos países mais pobres do mundo
Madagáscar, uma ilha com uma população muito pobre, tem uma longa história de revoltas populares seguidas pela instauração de governos militares de transição, mas estes protestos são os piores que a ilha do Oceano Índico vive há anos e o maior desafio que Andry Rajoelina enfrentou desde a sua reeleição em 2023.
Apesar das riquezas naturais, Madagáscar continua a ser um dos países mais pobres do mundo e quase 75% da população vivia abaixo do limiar da pobreza em 2022, segundo dados do Banco Mundial.