Nos últimos meses, vários casos de contaminação alimentar com origem fora da Europa têm despertado a atenção das autoridades internacionais, levando a novos alertas e inspeções reforçadas em produtos de exportação. Autoridades indonésias confirmaram a presença de material radioativo em camarões e especiarias exportados e o caso está a levantar preocupação junto de agências internacionais de segurança alimentar. A origem da contaminação continua sob investigação.
De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), o Governo da Indonésia anunciou ter detetado traços do isótopo radioativo césio-137 numa plantação de cravinho na ilha de Samatra. A descoberta ocorreu semanas depois de o mesmo elemento ter sido encontrado em camarões congelados exportados para os Estados Unidos, segundo confirmou a Administração de Alimentos e Medicamentos norte-americana (FDA).
As autoridades indonésias criaram uma comissão de emergência para investigar o caso, tendo já inspecionado uma fábrica de transformação e várias explorações agrícolas nas ilhas de Java e Sumatra.
O porta-voz da comissão, Bara Hasibuan, afirmou que os testes laboratoriais conduzidos pela Agência Indonésia de Regulação da Energia Nuclear (Bapeten) confirmaram a presença de radioatividade nas amostras recolhidas.
Plantações e fábricas sob investigação
Segundo a mesma fonte, foram identificados vestígios de contaminação numa quinta produtora de cravinho localizada em Lampung, região sul de Samatra. Como medida preventiva, as autoridades suspenderam a comercialização da especiaria e impuseram restrições à exportação até que os resultados das análises sejam conclusivos. “Enquanto não se chegar a uma conclusão, pedimos que o cravinho proveniente da quinta não seja vendido”, disse Bara Hasibuan, citado pela AFP.
A contaminação não se limita às plantações. De acordo com a publicação, pelo menos 22 unidades de produção de camarões congelados localizadas na zona industrial de Cikande, a cerca de 60 quilómetros de Jacarta, apresentaram níveis anómalos de radiação.
As autoridades sanitárias realizaram exames aos trabalhadores e moradores das redondezas, tendo identificado nove casos positivos ao césio-137. As pessoas afetadas foram submetidas a observação médica e algumas tiveram de ser temporariamente realojadas para permitir a descontaminação das suas habitações, explicou o Governo indonésio.
Possível origem da contaminação
As primeiras investigações apontam para a importação de sucata metálica contaminada como potencial origem da poluição. O Governo indonésio anunciou medidas de controlo mais rigorosas sobre a entrada de materiais metálicos no país e está a cooperar com organismos internacionais de vigilância alimentar e nuclear para rastrear a cadeia de contaminação.
Segundo a FDA, a exposição prolongada ao césio-137, mesmo em doses reduzidas, pode aumentar o risco de cancro. O elemento é utilizado em aplicações médicas e industriais, e a sua presença em alimentos levanta preocupações sobre falhas de controlo ou acidentes com materiais radioativos.
Preocupação internacional
A deteção de radioatividade em produtos exportados gerou preocupação junto de várias autoridades internacionais, incluindo organismos de saúde pública e segurança alimentar na Ásia e nos Estados Unidos.
Especialistas citados pela AFP alertam que, apesar de o risco imediato ser baixo, a situação exige uma resposta coordenada para garantir que nenhum produto contaminado entra na cadeia de exportação global.
O caso continua sob investigação, com a Indonésia a reforçar as inspeções a fábricas e plantações e a monitorizar possíveis ligações entre as duas contaminações.