Assim como há anos se discute a importância de políticas como licença-maternidade e suporte à gestação nas empresas, agora a menopausa ganha espaço no debate corporativo. O objetivo é proteger as mulheres para que esse processo natural não crie um novo estigma que desvalorize profissionais experientes.

Durante muito tempo, o medo da gravidez foi usado como motivo velado para excluir mulheres de processos seletivos e promoções. Com a maior expectativa de vida e a permanência prolongada de profissionais maduras no mercado, a menopausa surge como um novo desafio que pode ampliar as desigualdades de gênero. A questão é clara: como garantir que essa fase da vida feminina não se transforme em mais um obstáculo para o avanço profissional?

“A menopausa, que costuma ocorrer entre os 45 e 55 anos, traz sintomas que vão além das ondas de calor. Alterações no sono, dificuldade de concentração, lapsos de memória, fadiga, ansiedade e mudanças de humor são comuns. Esses fatores podem impactar a rotina e o desempenho, especialmente em ambientes corporativos exigentes. Contudo, o problema maior não está nos sintomas em si, mas na falta de acolhimento e de políticas que reconheçam e saibam lidar com essa fase da vida”, explica a ginecologista Ana Paula Fabrício, especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO).

“As ondas de calor, urgência e incontinência urinária, sono insatisfatório, dores de cabeça, mau humor, irritabilidade, ansiedade, ataques de pânico, perda de concentração e memória são sintomas que afetam a mulher no trabalho. A falta de compreensão sobre a queda no desempenho ou a necessidade de pausas pode gerar discriminação, aumentar a pressão emocional e provocar afastamentos”, destaca a ginecologista Patricia Magier, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

O ginecologista Igor Padovesi, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS), alerta para um impacto recente no mercado: “Relatos indicam que as mudanças hormonais nesta fase têm contribuído para a saída de mulheres do ambiente profissional, levantando a necessidade de ações corporativas mais efetivas.”

“Embora lideranças femininas cresçam, a menopausa ainda é um tabu nas empresas. Os homens ainda predominam entre os líderes e desconhecem esse momento específico”, analisa Dr. Igor.

Dra. Ana reforça que, assim como foi amplamente debatida a licença-maternidade, é urgente incluir a menopausa na pauta das empresas e conscientizar gestores sobre essa etapa da vida feminina.

“O debate sobre fertilidade no trabalho é recente, e algumas companhias já adotaram políticas de apoio ao congelamento de óvulos e tratamentos de fertilização. É fundamental que as mulheres na menopausa também recebam esse suporte”, acrescenta Dr. Igor.

“O risco é criar um novo estigma que desvalorize justamente as profissionais mais experientes, muitas vezes em cargos de liderança ou em fases de grande contribuição”, alerta Dra. Ana.

Existem tratamentos eficazes que vão desde a reposição hormonal, quando indicada e acompanhada, até alternativas não hormonais, além de mudanças no estilo de vida, exercícios físicos e terapias complementares. “Sem informação, muitas mulheres sofrem em silêncio e enfrentam sozinhas os impactos da menopausa, enquanto poderiam preservar sua qualidade de vida”, defende Dra. Ana Paula.

O tema começa a ganhar espaço em discussões internacionais. Empresas na Europa e nos Estados Unidos já adotaram políticas de “menopause-friendly workplace”, com programas educativos, ajustes no ambiente e flexibilização de horários. “No Brasil, ainda estamos engatinhando”, lamenta Dra. Ana Paula.

“O mercado brasileiro precisa entender que acolher mulheres na menopausa é questão de saúde, competitividade e inovação. Ignorar essa realidade significa desperdiçar décadas de experiência, liderança e visão estratégica”, afirma. “Mais empresas deveriam seguir o exemplo das organizações que já promovem mudanças significativas para apoiar suas colaboradoras”, completa Dr. Igor Padovesi.

Entre as soluções práticas estão a inclusão do tema em programas de saúde corporativa, treinamentos para gestores lidarem com diversidade etária, flexibilização de rotinas em momentos críticos, incentivo a check-ups e acesso facilitado a tratamentos. “Essas iniciativas não só reduzem sintomas e melhoram o bem-estar das colaboradoras, como fortalecem a imagem das empresas perante a sociedade”, ressalta Dra. Ana.

Dra. Patricia complementa: “A terapia de reposição hormonal é fundamental para minimizar os sintomas e prevenir complicações a longo prazo. Além disso, é importante incentivar a prática regular de exercícios, alimentação balanceada e mudanças nos hábitos de vida prejudiciais.”

“O futuro do trabalho no Brasil passa por superar preconceitos antigos com soluções inovadoras. Se no passado a maternidade foi vista como obstáculo, hoje é urgente garantir que a menopausa não seja usada para excluir mulheres. Precisamos de políticas corporativas mais humanas, inclusivas e modernas”, conclui a médica.