Marwan Barghouti, o prisioneiro palestiniano mais antigo e um dos mais carismáticos e consensuais dirigentes da resistência à ocupação israelita, terá sido espancado até ficar inconsciente por guardas prisionais israelitas, denunciou o filho, Arab Barghouti.
A família de Barghouti revelou esta quarta-feira o episódio, baseando-se nos testemunhos de cinco prisioneiros políticos libertados na mais recente troca de reféns. Estes afirmam que Marwan foi “agredido violentamente” por oito guardas prisionais israelitas no dia 14 de Setembro, durante a transferência do homem de 66 anos entre prisões.
Numa publicação divulgada nas redes sociais, a família diz não ter, até ao momento, informações sobre o estado de saúde de Barghouti, preso em Israel desde 2002. O antigo líder da Fatah está a cumprir cinco penas de prisão perpétua e mais quarenta anos, acusado de ter planeado ataques que vitimaram civis durante a Segunda Intifada (entre 2000 e 2005).
O julgamento foi na altura criticado pela União Interparlamentar, um organismo internacional que reúne os parlamentos soberanos, que concluiu que “inúmeras violações do direito internacional”, incluindo a detenção sem comunicação, “por si só, uma forma de tratamento cruel, desumano ou degradante”, tornaram “impossível concluir” que o líder palestiniano teve “um julgamento justo”.
De acordo com Arab Barghouti, citado pelo diário britânico The Guardian, esta é a quarta vez em dois anos que o pai é espancado. Os prisioneiros agora libertados, deportados esta segunda-feira para o Egipto, disseram ter sabido das agressões pelo próprio Marwan Barghouti, quando este chegou à prisão de Megiddo.
“O que sabemos é que, enquanto transferiam o meu pai, pararam no caminho e oito guardas que trabalhavam para a autoridade prisional começaram a espancá-lo de diferentes maneiras, pontapeando-o, atirando-o ao chão, dando-lhe socos, concentrando-se na área da cabeça, do peito e também nas pernas», disse, acrescentando que Marwan Barghouti contou mais tarde aos outros prisioneiros que ficou inconsciente na sequência das agressões.
A suposta agressão terá acontecido poucas semanas depois de uma visita do ministro da Segurança Nacional de Israel, o extremista Itamar Ben-Gvir, a Marwan Barghouti, em Agosto. Os meios de comunicação israelitas divulgaram um vídeo do ministro na cela do líder palestiniano, dirigindo-lhe ameaças e provocações.
“Quem matar os nossos filhos ou mulheres será eliminado. Nunca nos derrotarão”, disse Ben-Gvir, ladeado por dois guardas, a Barghouti, algemado. Segundo Arab Barghouti, o responsável extremista israelita também terá mostrado ao seu pai uma fotografia de uma cadeira eléctrica, dizendo-lhe que merecia ser executado.
O The Guardian refere ainda que Ben-Gvir negou ao jornal israelita Maariv esta quarta-feira quaisquer agressões, mas disse estar “orgulhoso” pela mudança radical da situação de Barghouti durante o seu mandato. “O tempo de brincar acabou, os acampamentos de férias acabaram”.
Na sequência do acordo de paz entre o Hamas e Israel, o Ministério da Justiça de Israel divulgou a lista de 250 palestinianos condenados de homicídio e de outros crimes graves que seriam libertados na troca de prisioneiros. No rol de nomes a libertar não constava, no entanto, o nome de Marwan Barghouti e de outras figuras de relevo dos movimentos de resistência palestinianos – uma exigência do Hamas que ainda não foi concedida, numa altura em que os dois lados ainda definem a lista final de libertações.
O executivo de Benjamin Netanyahu tem sido sempre contra a libertação de Marwan Barghouti, uma voz altamente respeitada pelas várias facções da sociedade palestiniana que poderia reforçar a política no território e servir de voz unificadora. Em Julho deste ano, durante um ciclo de negociações por um cessar-fogo entre o Hamas e Israel, o site israelita Ynetnews já avançara que o grupo palestiniano exigia, na altura, a libertação de Marwan Barghouti para aprovar o acordo que se discutia no Qatar. Tal não se materializou até ao momento.