O Sporting lançou, esta quinta-feira, o documentário ‘The Winner Takes It All edition’ (O vencedor leva tudo), com duração de duas horas e meia, ao som da música dos ABBA, com o mesmo nome, onde são reproduzidas imagens de festejos, palestras no balneário, ambientes fechados ao grupo de trabalho, com muita risada à mistura, com num momento em que Morita e o mítico roupeiro Paulinho cantaram… em japonês, e ainda muitos testemunhos, entre os quais os de Frederico Varandas, Neto, Ruben Amorim, Coates, Gyokeres, St. Juste e ainda o adeus a Aurélio Pereira.
Sorrisos, olhares cúmplices, discursos motivacionais, foco, concentração, jogo após jogo, unidos na transposição dos obstáculos. Lágrimas de alegria e de tristeza. Assim foi construído o caminho rumo à conquista do bicampeonato e também da Taça de Portugal, a tão almejada dobradinha que fugia de Alvalade há mais de 20 anos.
O primeiro assunto abordado por a perda de Coates. Foi Hugo Viana, ladeado por Amorim, que comunicou ao plantel a saída de Coates, realçando que tentaram de tudo para o demover. Foi visível o semblante carregado dos jogadores. «Nem queria acreditar, caiu-me tudo», disse Eduardo Quaresma. «Fiquei muito triste, queria ter jogado com ele mais tempo, mas ele disse-me que eu estava muito melhor», contou Morita.
Hjulmand, que viria a ser seu sucessor, também abordou o assunto: «Estava de férias quando me ligaram a dizer que ia sair. E pensei, a próxima época vai ser muito difícil para nós. E quando me disseram que queriam que eu assumisse o papel de capitão senti-me muito honrado.» Gonçalo Inácio, de lágrimas nos olhos, não escondeu sentimento que o invadiu: «Foi uma tristeza. Não só por ser uma lenda do Sporting, mas por ser uma referência para mim. Deu-nos palavras de confiança e sempre esteve presente, basta estar à distância de uma mensagem ou um telefonema.»
O presidente Frederico Varanda assumiu que foi um obstáculo, mas bem resolvido: «Achámos que não existem ciclos eternos e decidimos começar a preparar a transição, Coates era para ficar mais um ano e, de repente, perdemos os três capitães: Adán, Neto e Coates, mas, por vezes os problemas são oportunidades que surgem, e surgiu-nos um dos melhores capitães que podíamos ter tido.»
Seguiu-se a transferência de Paulinho para os mexicanos do Toluca. «Obrigada por tudo, nunca dei nem darei ao clube o que me deu.»
Trincão não escondeu que se ressentiu da saída do avançado: «Eram exemplo, não só pelos que nos davam dentro do campo, ajudavam-nos muito. Eu já conhecia o Paulinho há mais tempo e ele dava-me muitas duras [risos], era alguém que liderava bastante fora do campo e não deixava ninguém cair e o grupo sente muito, porque saíram grandes figuras, eram como irmãos mais velhos para nós.»
A tensão no primeiro jogo da época foi notória, segundo as palavras de Hjulmand. «Não há amanhã, hoje há um título para conquistar, tenho uma grande ansiedade, não parece que fui campeão», disse Ruben Amorim na palestra antes do jogo da Supertaça, com o FC Porto, que o Sporting viria a perder, por 3-4.
«Estávamos muito confiantes, começamos bem, mas…», realçou Gyokeres, cuja frase foi completada por Hjulmand: «Faltou-nos experiência e maturidade».
Um jogo que, na opinião de Frederico Varandas teve grande importância: «Essa final marcou não só a nossa primeira derrota oficial da época, mas veio a ser muito importante para o desfecho. Estava a ser provavelmente a final mais fácil de que me lembre. Éramos melhor equipa, mas não merecemos vencer esse título e o FC Porto, com toda a justiça, lutou e isso foi importantíssimo para a humildade deste grupo que era campeão, sabia que era muito forte, mas foi um alerta de que não basta o talento, tínhamos de ser sérios e estar ligados durante todos os jogos se queríamos voltar a ser campeões. Esse jogo esteve presente na cabeça dos jogadores durante toda a época.»
«A cada jogo vamos ter uma coisa em mente: voltar a ir ao Marquês», eis a mensagem de Hjulmand, em inglês com português à mistura, no balneário, com os jogadores abraçados, antes de subirem ao relvado.
«A época era longa, mas jogo a jogo tínhamos um objetivo em mente», reiterou Diomande.
E jornada a jornada os leões foram colecionando vitórias rumo à glória. «Até a bola parar, duzentos à hora», dizia Amorim aos jogadores.
Até que chegou o primeiro empate, diante do PSV Eindovhen, para a Champions, nada que abalasse a equipa, que continuou toada vitoriosa na Liga. «Um, dois, três, todos unidos para vencer. Sporting, Sporting, Sporting», eis o grito de guerra dos leões.
«Custou-me mais a mim do que a qualquer sportinguista sair, custa-me muito sair daqui, estou muito confortável e feliz», foi a declaração de Amorim na conferência de imprensa em que admitiu saída para o Man. United, em novembro.
«Muitos pensamentos e ter de lidar com isso», ouve-se da boca de Gyokeres.
E o jogo da despedida de Amorim, em Braga, foi uma roleta de emoções, todos queriam ganhar e Pedro Gonçalves recordou episódio que o afastou durante largos meses: «Estávamos no aquecimento, bati um canto e senti algo no adutor direito, continuei a aquecer e pensei que tivesse sido só uma dorzinha.»
«Estávamos meio chocados com o 0-2, ele chega ao balneário e diz 9malta nós vamos ganhar o jogo’», recordou Eduardo Quaresma.
«Demo tudo e fiquei muito feliz por ajudar a equipa a ganhar [bisou na vitória por 3-2]», disse Harder, com um sorriso de orelha a orelha.
«Foi bom terminar com uma vitória para o Ruben», realçou Gyokeres.
Sem conseguir segurar as lágrimas, no balneário em Braga, Amorim dirigiu-se aos jogadores: «Não gosto de despedidas, mas se formos humildes ganhamos o campeonato, o que fizeram na segunda parte… Vai ser difícil, mas têm de se ajudar. Vocês são inacreditáveis, vão ganhar isto! Quando precisarem de mim, vão ter tudo, vou estar a torcer mais por vocês do que por mim. Obrigada por tudo!»
João Pereira foi o senhor que se seguiu no comando técnico. «Recebê-lo foi estranho, mas no futebol temos de estar preparados para tudo, sabíamos do bom trabalho que o mister tinha feito na equipa B», sublinhou Trincão. «Tentámos dar o nosso melhor», acrescentou Gyokeres. «Tive duas semanas em que entrava e saía acabado, parecia que tudo tinha mudado aqui», confessou Quaresma.
A passagem de João Pereira acabou por ser curta e seguiu-se Rui Borges. «Toda a gente conhecia e adorava o João [Pereira], mas não estávamos, de facto, prontos para aceitar as suas ideias a cem por cento, nada esteve do lado dele. E no dia em que o João Pereira toda a gente sentiu peso na consciência, não conseguimos fazer o luto da saída do Ruben», admitiu Varandas.
Rui Borges teve «a melhor prenda de Natal de sempre». «O interesse surgiu aquando do jogo com o Vitória, surgiu umas ideias de que podia dar em algo. Foi um Natal diferente, muito feliz e ansioso por começar. Senti a equipa com vontade de ajudar, de voltar a jogar e a ganhar», confessou o treinador.
«Trouxe uma aura diferente e uma visão fora do clube. Ele dizia que treinou equipas que jogaram contra nós e toda a gente tinha medo», relembrou Matheus Reis.
Frederico Varandas regozija-se com a decisão: «Quando veio o novo treinador foi um momento chave. Ele disse saber o quão tinha sido difícil para o João [Pereira], sei o que o Ruben Amorim marcou, mas ele já não volta e perguntou aos jogadores se queriam ou não ser campeões. E eles responderam que sim.»
«Quando faltar a inspiração que não falte atitude», a mensagem de Rui Borges que Quaresma diz ter ‘pegado’. «Tínhamos de mudar o chip e voltar a conquistar pontos», acrescentou Gonçalo Inácio. «O dia do dérbi é sempre especial [estreia de Rui Borges] e queremos ganhar ao Benfica», realçou Geny Catamo.
Seguiu-se saída de Hugo Viana, mais um desafio: «O Bernardo [Palmeiro] teve uma integração fantástica, de forma rápida, e hoje ele e o Flávio [Costa] dão um conforto que faz com que o presidente durma muito bem [risos].»
«É uma pessoa muito acessível, fala com os jogadores, transmite bem as suas ideias, acabou por entrar aqui como se já cá estivesse há muitos anos», contou Pedro Gonçalves.
Em mais um dérbi da época, diante do Benfica, o Sporting conquistou a dobradinha, num jogo marcado por algumas picardias.
E Harder que continua sem entender o porquê de ter sido expulso no jogo com o Santa Clara: «Celebrei com os adeptos, foram muito importantes para a equipa. Fui expulso porque o árbitro pensou que estava a provocar os outros adeptos, mas não.»
E a finalizar o documentário, claro, a festa do Marquês, marcante para todos os envolvidos.
«Pontualmente vou falando com os jogadores. Quando entendo que é o momento cirúrgico falo ao grupo. E lembro-me de olhar para o calendário, e ver as limitações devido a lesões e disse-lhes ‘meus senhores, se chegarmos à última data FIFA em primeiro lugar vamos ser bicampeões. Quando olho para trás e vejo o que este grupo fez, a qualidade destes jogadores, um Viktor [Gyokeres], um dos melhores jogadores da história do Sporting, liderados pelo nosso capitão, depois Inácio, Diomande, Quaresma, um guarda-redes [Rui Silva] que veio no momento certo para ser peça-chave na conquista do título. E quando olho três treinadores, o nosso diretor desportivo sai no início de fevereiro, o Sporting que eu cresci a ver era impossível resistir a estas adversidades. Nunca aconteceu isto, nunca em Portugal um clube grande perdeu o seu treinador a meio da época, por bons motivos, e a forma como o clube se agarra, como se torna imune aos tremores que vêm de fora, demonstra como hoje o Sporting é um clube forte e vencedor. É verdade que conquistámos muitos títulos, mas não chega, queremos mais», concluiu Varandas.
O presidente leonino fez ainda uma revelação: «Sou casado com uma sueca, tenho dois filhos, que são suecos e portugueses, e um dia de manhã ouvi o ‘The winner takes it all’ dos Abba, e pensei, este ano the winner takes it all, contei-lhes [aos jogadores] e disse-lhes que íamos sair do Jamor com tudo e ficou o mote nas nossas celebrações internas ‘The winner takes it all’.»
E a finalizar o documentário, claro, a festa do Marquês, marcante para todos os envolvidos.
«Obrigada por tudo, foi uma época fantástica com ótimas memórias», agradeceu Gyokeres.
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