Os Estados Unidos aumentaram a partilha de informações de inteligência com a Ucrânia para incluir dados sobre alvos mais profundos dentro do território russo, como parte de uma mudança estratégica que ambos os países esperam que relance as negociações com Moscovo. Estas negociações tinham ficado estagnadas depois da cimeira entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder russo, Vladimir Putin, no Alasca, neste verão, não ter produzido um acordo de paz, segundo fontes familiarizadas com o processo.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deverá pressionar Trump por mais armas de longo alcance capazes de atingir alvos dentro do território russo quando se reunir com ele em Washington, DC, na Casa Branca, na sexta-feira.
Trump indicou estar aberto à ideia nos dias que antecederam a visita de Zelensky, sublinhando como a sua postura em relação à guerra mudou desde a cimeira do Alasca.
A mudança para fornecer informações de inteligência com foco em locais e instalações relacionados com energia, que a administração Trump anteriormente dissera a Kiev para considerar fora dos limites, ocorreu após o encontro de Trump com Putin numa base militar norte-americana no Alasca neste verão, disseram ambas as fontes. Trump não conseguiu garantir um acordo com Putin que pusesse fim à guerra.
Na sequência da cimeira, os EUA tentaram aumentar a pressão sobre Putin, incluindo através da alteração na partilha de inteligência, que a administração Trump espera que altere o cálculo do líder russo sobre a continuação da guerra.
O Financial Times foi o primeiro a noticiar o apoio dos EUA à campanha contínua da Ucrânia para atingir a infraestrutura energética russa.
A administração Trump tinha pedido à Ucrânia que evitasse atacar a infraestrutura de petróleo, gás e energia da Rússia antes da cimeira, enquanto os responsáveis norte-americanos tentavam alcançar um acordo de paz com Moscovo. No entanto, os EUA deram à Ucrânia luz verde para retomar os ataques contra esses alvos depois de ambos os líderes deixarem o Alasca sem um acordo em mãos, segundo uma das fontes.
Com a aprovação norte-americana, a Ucrânia adotou agora uma estratégia deliberada de atacar a infraestrutura energética russa.
Com as linhas da frente praticamente estagnadas e mais de um milhão de baixas totais durante o conflito, a Ucrânia acredita que atingir a infraestrutura energética russa é uma das poucas formas restantes de produzir efeitos estratégicos, acrescentou a fonte.
“Esta é uma guerra que nunca teria acontecido se o presidente Trump fosse o presidente, algo que o próprio presidente Putin reconheceu, e o presidente Trump está a tentar pôr-lhe fim”, afirmou um responsável da Casa Branca quando questionado pela CNN sobre a mudança na partilha de inteligência. “O presidente também negociou um acordo histórico para permitir que os aliados da NATO comprem armas fabricadas nos EUA. Não temos mais anúncios a fazer neste momento.”
Putin e Trump tiveram aquilo que Trump descreveu numa publicação na Truth Social como uma “longa chamada” na quinta-feira, um dia antes da chegada de Zelensky à Casa Branca.
Permanece incerto quantos alvos energéticos ainda estão intactos e se a Ucrânia mantém a capacidade de ataque de longo alcance para destruir com sucesso instalações localizadas profundamente dentro da Rússia — dados que ajudariam a demonstrar se a estratégia atual pode ser, em última análise, bem-sucedida. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sugeriu que o seu exército precisa de mais ajuda dos EUA para o fazer, pedindo repetidamente armas americanas de longo alcance nas semanas desde a cimeira do Alasca.
Trump indicou estar aberto à ideia, tendo recentemente aventado a possibilidade de fornecer à Ucrânia mísseis de cruzeiro Tomahawk, a menos que a Rússia altere dramaticamente a sua postura nas negociações. Antes da reunião planeada com Trump na Casa Branca, na sexta-feira, Zelensky disse a um grupo de jornalistas em Kiev que os principais temas da sua conversa incluirão “defesa aérea e as nossas possibilidades com mísseis de longo alcance para pressionar a Rússia”.
NO MAR – 29 DE MARÇO DE 2011: Nesta imagem divulgada pela Marinha dos EUA, o destróier lança-mísseis USS Barry lança um míssil de cruzeiro Tomahawk a partir do Mar Mediterrâneo, a 29 de março de 2011. (US Navy/Getty Images/File)
No domingo, o líder ucraniano quis sinalizar que o uso de Tomahawks pode estar mais próximo. “Vemos e ouvimos que a Rússia tem medo de que os americanos nos possam dar Tomahawks, o que é um sinal de que exatamente tal pressão pode funcionar a favor da paz”.
Trump afirmou na terça-feira que Zelensky vai à Casa Branca esta sexta-feira para pressionar os EUA a darem-lhe mísseis de longo alcance Tomahawk, o que permitiria ao país penetrar profundamente em território russo.
“Eu sei o que ele tem para dizer. Ele quer armas. Gostaria de ter Tomahawks”, afirmou Trump enquanto se reunia com o seu homólogo argentino, Javier Milei, na Casa Branca.
Quando questionado no domingo se enviaria os mísseis, Trump respondeu: “Vamos ver… talvez o faça”, acrescentando: “Posso dizer-lhes que, se a guerra não for resolvida, muito provavelmente, ou talvez não, mas poderemos fazê-lo. Querem (os russos) Tomahawks a ir na sua direção? Não creio.”
Um responsável norte-americano sublinhou que, independentemente do que aconteça, o mais importante é que fornecer Tomahawks à Ucrânia está sob séria consideração.
O próprio Trump expressou repetidamente espanto quanto à possibilidade de a Ucrânia ter capacidade para atacar Moscovo ou São Petersburgo, incluindo em chamadas recentes com Zelensky, segundo outra fonte familiarizada com as conversas. Durante uma chamada após a cimeira do Alasca, Trump perguntou a Zelensky se o seu exército tinha capacidade para atingir Moscovo ou São Petersburgo. O líder ucraniano respondeu que poderiam fazê-lo se tivessem as armas certas, segundo fontes.
Entretanto, os EUA aumentaram a partilha de informações de inteligência e aprovaram a venda de 3.350 mísseis Extended Range Attack Munition (ERAM) — que parecem ser os primeiros passos tangíveis dados por Trump para reforçar as capacidades de longo alcance da Ucrânia após a cimeira com Putin.
A administração Trump não impôs quaisquer restrições explícitas sobre como a Ucrânia pode usar esses mísseis de longo alcance que fazem parte de uma venda de armas recentemente aprovada no valor de 825 milhões de dólares (767 milhões de euros), segundo dois responsáveis norte-americanos familiarizados com o assunto.
A administração Biden, de forma semelhante, não estabeleceu quaisquer limitações quanto à forma como a Ucrânia poderia usar as armas fornecidas que eram tecnicamente capazes de atingir alvos dentro da Rússia, mais notavelmente os sistemas de mísseis táticos do Exército, ou ATACMS, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.
Soldados ucranianos observam um ataque fatal de drone contra um soldado russo que tentava atravessar um campo a norte de Izyum, num centro de comando de drones numa localização não divulgada da Ucrânia, a 7 de outubro de 2025. (Ed Jones/AFP/Getty Images)
No entanto, os ATACMS oferecem menos alcance do que os Tomahawks ou os ERAM, exigindo que as forças ucranianas movam e escondam rapidamente os lançadores para os aproximar das linhas inimigas. Os mísseis lançados pelo ar aprovados pela administração Trump oferecem mais flexibilidade.
Mesmo assim, ainda pode ser desafiante para as aeronaves que utilizam mísseis ERAM aproximarem-se da fronteira devido às patrulhas de caças MiG russos, limitações que alimentaram o pedido da Ucrânia por Tomahawks e outras armas de longo alcance.
O alcance de 1.500 milhas (cerca de 2.414 quilómetros) e a velocidade dos Tomahawks significam que eles só fazem sentido para evadir defesas aéreas e atingir infraestruturas valiosas no interior profundo da Rússia. O Kremlin sugeriu que o pessoal norte-americano teria de operar armamento tão sofisticado e que os Tomahawks podem ser capazes de transportar ogivas nucleares — uma ameaça que instrumentaliza os receios em torno de uma escalada não intencional.