Afastado de cargos públicos por opção própria devido à Operação Tutti-Frutti, da qual foi entretanto ilibado, o antigo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, diz que não pensa ser líder do PS, mas também não fecha a porta a essa possibilidade. E, sem “juras de amor para todo o sempre” ao actual secretário-geral do partido, entende que o resultado obtido pelos socialistas nestas eleições autárquicas não pode ser lido como “um bom resultado” — ao contrário da interpretação feita por José Luís Carneiro. Quanto às presidenciais, reconhece que nunca apoiou António José Seguro, mas que o fará desta vez porque “é a pessoa mais bem posicionada do centro-esquerda”.
Em entrevista ao Observador, Cordeiro diz que deve ser o actual secretário-geral do PS a disputar as próximas legislativas — “O princípio é esse. O líder do PS é potencialmente um candidato a primeiro-ministro” — mas destaca que “as circunstâncias futuras” não se controlam e que não faz sentido “fazer juras de amor para todo o sempre”. O socialista admite que “gostava que [José Luís Carneiro] tivesse maior presença” enquanto líder do partido e, sobre uma eventual disputa da liderança, não diz nem que sim, nem que não: “Não tenho nada na minha cabeça relativamente ao futuro e a qualquer cargo que possa desempenhar.”
Olhando para os resultados autárquicos, Cordeiro diverge de José Luís Carneiro, que fez uma leitura positiva das eleições do último domingo. Para o antigo governante, perante a circunstância do “poder absoluto” do PSD — que venceu a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), a maioria das capitais de distrito e poderá liderar as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto —, o PS não pode dizer que teve “um bom resultado”. “Não me recordo de uma situação em que o PSD tenha tido tanto poder. Mais vale tomarmos consciência deste facto do que nos procurarmos iludir”, resume, num primeiro aviso a José Luís Carneiro. “Meter a cabeça debaixo da areia não é solução”, acrescenta — expressão usada nesta terça-feira pelo antigo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, em reacção aos resultados.
Sobre o Chega, Cordeiro argumenta que o partido de André Ventura “foi derrotado”, mas entende que isso não é motivo para regozijo. “Se somos líderes e avançamos com objectivos e metas, se não os atingirmos temos que dizer ‘tive uma derrota’. E isto é válido para André Ventura e é valido para qualquer outro”, reforçou.
Em relação aos resultados em Lisboa, o também antigo vice-presidente da câmara considera que “Alexandra Leitão também não atingiu os objectivos a que se propôs” — ficou em segundo lugar, elegendo seis vereadores, face aos oito de Carlos Moedas. Cordeiro destaca que os partidos que compõem a coligação de esquerda liderada pela ex-líder parlamentar do PS obtiveram “menos 12 mil votos”, enquanto a CDU conseguiu mais 1200 votos e “o Chega cresceu significativamente”.
Para Cordeiro, estes números revelam que “houve pouca capacidade de mobilização do voto útil à esquerda” e que, em zonas urbanas, o Chega “retira mais votos ao PS” do que ao PSD. “Acho que o PS tem capacidade para recuperar parte desse eleitorado”, defende, mas “tem de compreender um pouco melhor este eleitorado e a mensagem que passa”.
Apoio a António José Seguro
Quanto a António José Seguro, Duarte Cordeiro admite: “Nunca o apoiei. É verdade”. Mas o antigo ministro vai agora apoiar o ex-secretário geral do PS: “Estamos perto das eleições presidenciais. António José Seguro é a pessoa mais bem posicionada do centro-esquerda”, justifica, destacando que “as pessoas que não se revêem noutros candidatos” devem apoiá-lo. Crítico do actual mandato do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Cordeiro entende que “António José Seguro faria um melhor trabalho”.