Os Tomahawk, mísseis de cruzeiro de longo alcance que fazem parte do arsenal militar dos Estados Unidos desde os anos 1980 e que já foram utilizados em conflitos no Iraque, Síria, Líbia ou Afeganistão, podem ser um trunfo estratégico para a Ucrânia na guerra contra a Rússia. Ainda não é certo que a Administração Trump aceda aos pedidos de Kiev para ter acesso a estes equipamentos, mas, se o fizer, estará a dar a Kiev a capacidade de atingir alvos estratégicos no coração do território inimigo, com ínfima margem de erro. Saiba mais sobre estas armas letais de fabrico norte-americano.

O que faz destes mísseis tão valiosos?

Entre as principais características que os definem estão o alcance e a precisão. Desenvolvidos nos EUA nos anos de 1970, têm sido continuamente actualizados e desde 1994 são produzidos pela Raytheon Missiles and Defense. Estes mísseis de alta precisão existem em várias versões e podem transportar diferentes tipos de ogivas, incluindo ogivas nucleares.

São o míssil de cruzeiro com o maior alcance do arsenal ocidental e podem ser lançados a partir de diversas plataformas para atingir alvos em terra ou em mar. O especialista militar ucraniano Kostiantyn Kryvolap explicou à emissora alemã DW que “têm três variantes” e podem ser lançados do ar, do mar, ou da terra.

O especialista diz que o alcance destes mísseis é de cerca de 1600 quilómetros, embora algumas variantes cheguem a 2500 quilómetros. De acordo com a CNN, o raio de acção dos Tomahawk é muito superior aos restantes mísseis actualmente no arsenal da Ucrânia: os Storm Shadow têm um alcance de cerca de 250 quilómetros e o dos ATACMS é de 300 quilómetros.

Voam a baixas altitudes e desviam-se dos obstáculos

Um dos grandes trunfos é a sua capacidade de voar a altitudes muito baixas e desviar-se de quaisquer obstáculos. “O que é importante sobre os Tomahawk é que eles não vão necessariamente do ponto A ao ponto B em linha recta. Seguem uma rota de circum-navegação para que não possam ser abatidos”, explicou à CNN James “Spider” Marks, major-general na reforma do Exército norte-americano.

O New York Times salienta que esta capacidade de voar a baixas altitudes faz com que os Tomahawks sejam difíceis de captar por radares e também mísseis “voam relativamente rápido: 550 milhas por hora [aproximadamente 885km/h], ou cerca de 70% da velocidade do som”.

Como é que a Ucrânia pode usar estes mísseis contra a Rússia?

Kostiantyn Kryvolap sustenta que a Ucrânia precisa dos sistemas terrestres de Tomahawk. O país, que não tem navios e submarinos de guerra, passaria a ter uma grande capacidade de penetração em território russo. Com recurso a este equipamento, o Exército ucraniano teria capacidade de destruição de alvos estratégicos russos, como instalações militares, energéticas ou fábricas de armamento.

Para isso, além dos mísseis propriamente ditos, os Estados Unidos teriam igualmente de acordar a entrega à Ucrânia do novo sistema de lançamento chamado Typhon, que o NYT descreve como “um contentor de transporte padrão de 40 pés que esconde quatro tubos de mísseis” prontos a disparar para cima. O Exército norte-americano testou pela primeira vez um Tomahawk a partir desse lançador em 2023. O inconveniente, segundo o Guardian, é que há muito poucos Typhon disponíveis.

Qual é a carga habitual de um Tomahawk?

Normalmente, estes mísseis transportam uma ogiva com o equivalente explosivo a cerca de 180kg de TNT, escreve o NYT. O jornal norte-americano explica que existem versões com armas de fragmentação, sendo a mais comum a que transporta 166 pequenas bombas, mas que são muito menos precisas.

Há ainda uma outra versão confidencial que foi desenvolvida para “desactivar temporariamente a rede eléctrica do inimigo, libertando pequenos recipientes de filamentos de fibra de carbono que cobrem as linhas de transmissão eléctrica e causam curto-circuito nos transformadores e outros equipamentos [de rede]”.

Quanto custa um Tomahawk?

De acordo com o Guardian, o preço de cada míssil de cruzeiro ronda os 1,3 milhões de euros. São especialmente caros não apenas pelo poder destrutivo, mas também pela componente tecnológica, como os sistemas de orientação, alcance e adaptabilidade em combate, que os tornam tão letais.