Mas, quanto a estes mísseis norte-americanos, os argumentos de Zelensky deverão cair em saco roto.


Donald Trump afirmou quinta-feira aos repórteres da Casa Branca que todos os mísseis Tomahawk armazenados nos arsenais norte-americanos são necessários, num balde de água fria a eventuais pretensões ucranianas. Ao longo da guerra, Estados Unidos e potencias europeias aproveitaram para renovar as suas reservas de armamento, despachando para a Ucrânia o material mais antigo. Os mísseis Tomahawk estarão fora da equação, exceto se algum Estado europeu quiser enviar os seus a Kiev.

Zelensky aterrou em Washington quinta-feira à noite e, durante a manhã desta sexta-feira, reuniu-se com os principais acionistas da companhia de defesa americana Raytheon, que produz os Tomahawk.

Discutimos as capacidades de produção da Raytheon, as possíveis formas da nossa cooperação para reforçar a defesa aérea e aumentar as capacidades de longo alcance da Ucrânia, e as perspetivas para a produção ucraniano-americana”, escreveu o presidente ucraniano na rede Telegram.

Uma delegação ucraniana de alto nível em Washington, liderada esta semana pelo Primeiro-Ministro Svyrydenko e pelo Chefe de Gabinete Andrii Yermak, reuniu-se igualmente com importantes empresas de defesa dos EUA, incluindo a Lockheed Martin e a Raytheon, antes da chegada de Zelensky.

A Raytheon fabrica os sistemas Patriot e Tomahawk, ambos componentes essenciais das necessidades de defesa da Ucrânia.


A estratégia de Moscovo


A principal preocupação de Volodymyr Zelensky é proteger os céus ucranianos, reforçando a defesa aérea, quando a Rússia intensifica ataques nocturnos com mísseis e drones de grande envergadura. 


O principal alvo russo têm sido as estruturas energéticas, de distribuição de eletricidade e produção de gás. Mas também têm sido atingidos alvos civis em várias cidades, provocando dezenas de mortos e de feridos, incluindo crianças.


A eventual posse de mísseis Tomahawk por parte da Ucrânia tornou-se uma das principais preocupações russas. Moscovo já disse que isso representará “uma escalada” na guerra.


Domingo passado, Trump admitiu entregar os Tomahwak a Kiev, se a Rússia não regressasse à mesa das megociações.


O Kremlin sugeriu depois uma conversa entre Putin e Donald Trump e um dos principais assuntos debatidos na chamada telefónica que ocorreu quinat-feira, numa conversa que demorou duas horas e meia, foram precisamente estes mísseis.


Putin disse a Trump que esse fornecimento prejudicaria o processo de paz e os laços entre os EUA e a Rússia.

Os dois presidentes combinaram ainda encontrar-se em Budapeste, na Hungria, para tentar por um fim à guerra. A cimeira, que Trump disse esperar que ocorra “dentro de duas semanas”, irá adiar a decisão do presidente norte-americano sobre os Tomahawk.


O problema dos Tomahawk


Os mísseis Tomahawk BGM-109, com alcance de 1.600 quilómetros a 880 quilómetros por hora e a poucos metros do solo, iriam expandir dramaticamente as capacidade de agressão ucranianas, colocando bases militares e a própria capital russa, ao alcance de Kiev. A Ucrânia já se comprometeu a atingir somente alvos militares ou energéticos.

Um oficial aposentado da Marinha dos EUA disse esta sexta-feira à BBC que é contudo improvável que os EUA forneçam mísseis Tomahawk à Ucrânia devido ao nível de assistência americana necessária para os operar.

Mark Montgomery disse aos jornalista do canal britânico de notícias que, “com inteligência, direcionamento e roteamento de missões, isso envolverá os EUA de uma forma que deixaria Donald Trump muito desconfortável com o tempo”.

Acrescentou que os mísseis exigem “equipamentos especiais” que os EUA dificilmente quererão entregar.

Montgomery frisou também que há potencial para Trump oferecer os mísseis a Kiev, mas que acredita que seja “mais uma questão política e não militar — não acho que veremos isso no campo de batalha tão cedo”.