José Pedro Zúquete considera que “uma boa parte do povo da esquerda, quer mais popular, patriota, enraizado, não se reconhece nas mudanças demográficas nas suas comunidades e dá valor à coesão social e comunitária”. “Quando não se reconhece nas suas elites, esse povo muda de barco”, diz o investigador, justificando que essa mudança é “visível” nos resultados das legislativas de maio deste ano.

“As pessoas sentem-se inseguras, ameaçadas, desorientadas”

Na apresentação do livro de Miguel Morgado (que foi assessor político de Passos Coelho), o antigo líder social-democrata fez uma intervenção sobre o liberalismo. Segundo essa ideologia política, “não devia haver nenhum problema em que as pessoas se sentissem estrangeiras na sua própria terra”, ironizando de seguida que seriam consideradas “cosmopolitas”, o que “era ótimo”. Há no entanto um problema: “As pessoas sentem-se inseguras, ameaçadas, de certa maneira desorientadas, desconfiadas… Tudo aquilo que são características muito humanas e que, em circunstâncias normais, não valem grande coisa, em ambientes destes, as coisas podem descambar.”

Com isto aproveitou para criticar o antigo primeiro-ministro António Costa, dizendo que os governos socialistas liderados pelo agora presidente do Conselho Europeu tinham um princípio: “Deixa entrar. Isto é para ser assim e não pergunto nada a ninguém.”

Segundo Passos, este era o discurso que Costa tinha para os “quadros superiores” do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), entretanto extinto. Quando estes cargos alertavam que “estavam a perder o controlo” sobre a imigração, que estava “a entrar muita gente” que nem se sabia “quem era” e sem ser pedido um “certificado criminal”, António Costa diria (segundo Passos Coelho): “Isto é mesmo assim, está a perceber? Não pense que é um acaso. É mesmo para isso, é para meter essas pessoas cá dentro. Isto é para prosseguir.”