Continuam as longas filas de imigrantes à porta da AIMA para obter visto de residência. De acordo com a SIC Notícias, as filas na manhã desta sexta-feira continuam extensas. Às 8h, centenas de pessoas aguardavam junto à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). Na quarta-feira, até ao meio-dia, foram atribuídas 200 senhas, e na quinta-feira, 120.

O ministro da Presidência afirmou na quinta-feira que as filas “não se justificariam”, alegando que os imigrantes tiveram a possibilidade de tratar dos seus documentos online, e referiu que cerca de 90 mil pessoas já trataram da documentação.

Entre os que passam a noite à porta da AIMA está Ivania Cabral, natural da Guiné-Bissau, que explicou à Lusa: “Estou a dormir na rua por causa do meu documento, desde ontem.”

Ivania veio para Portugal há quase três anos, porque a filha de nove anos sofre de comunicação interauricular — um ‘buraco no coração’ — e precisa de tratamento médico que não é possível no seu país de origem. Na quarta-feira, Ivania passou a noite junto à AIMA, chegou às 21h e não conseguiu receber uma senha na manhã seguinte, pelo que vai permanecer no local mais uma noite

Outro imigrante presente é Abubacar Seidi, também da Guiné-Bissau, em Portugal há quase um ano. Abubacar veio com o irmão para estudar tecnologia e informática, mas não conseguiu ingressar nas instituições porque muitas exigiam o título de residência, que ainda não possuíam: “Foi-nos pedido o cartão de residência. Sem ele, não podemos estudar.”

Abubacar explicou que o pedido de residência foi feito desde fevereiro, seguindo todas as instruções e enviando emails, mas sem resposta. Por isso, ele e o irmão vão passar a noite na AIMA.

Entre os que aguardam está também Jaqueline Resende, do Brasil, em Portugal há seis anos. Ela disse que, a partir de hoje, está ilegal em Portugal, porque o pedido de residência caducou. Para regularizar a situação, foi encaminhada para diferentes serviços, incluindo a AIMA e o Instituto de Registos e Notariado (IRN), que emite documentos como o cartão de cidadão: “Só recebi um e-mail a dizer que iam enviar-me um recibo de pagamento para fazer o agendamento, mas não consegui concluir. Antes disso, já tinha tentado enviar um e-mail e recebi a resposta de que precisava de ir ao IRN. Cheguei ao IRN e disseram-me que tinha de enviar um e-mail para a AIMA, por isso a situação nunca se resolveu.”

Segundo relatos, a primeira pessoa a chegar à AIMA cria uma lista com a ordem de chegada. Algumas pessoas afirmam que nem conseguem dormir, porque durante a madrugada são feitas chamadas para confirmar quem está na lista; se não houver resposta, o nome é riscado.

Por volta das 23h30, a lista tinha 120 nomes, mas apenas cerca de 80 pessoas permaneciam junto ao edifício. Alguns imigrantes explicaram que há pessoas que colocam o nome na lista e depois se ausentam, regressando apenas de manhã.

Na quinta-feira terminou a última prorrogação administrativa do decreto-lei 10-A/2020, que reconhecia como válidos os documentos de residência vencidos, o que levou a uma maior procura na AIMA. Nesse dia, mais de 100 pessoas passaram a noite em frente às instalações.

Uma fonte do Governo disse à Lusa que, desde que tenham feito o agendamento e pago a renovação, os imigrantes têm o título válido por 180 dias, mesmo após a data de quarta-feira.