É uma viagem iniciada em 2013 e ainda em curso, conduzida por José Manuel Silva. Noventa crónicas, publicadas por José Manuel Silva — investigador, docente e especialista em liderança e gestão de instituições educacionais — no REGIÃO DE LEIRIA ao longo da última dúzia de anos, foram agora reunidas num livro apresentado esta tarde.
Com o título “Passageiro do Tempo”, nome que a sua rubrica recebeu quando se iniciou no jornal, o livro acaba por ser o reflexo do percurso da opinião de José Manuel Silva. Mas esta não é uma viagem suave e sem solavancos. Antes pelo contrário. A polémica e o debate são efeitos secundários das suas crónicas.
“Quando desassossegamos as pessoas, não é para virar as pessoas de pernas para o ar, é para provocar o debate”, explicou o autor na apresentação do livro. A costela provocadora do autor, autoassumida, mas também apontada por Francisco Santos, diretor do REGIÃO DE LEIRIA, e Acácio de Sousa, autarca e investigador, nas intervenções que o antecederam, tem um propósito. José Manuel Silva fez questão de explicar que o seu intuito passa por suscitar a reflexão e contrariar o imobilismo na forma como se encara o mundo.
O próprio deixou a confissão de que, apesar de na essência permanecer o mesmo, mudou com o tempo. “É uma pena que as pessoas olhem para nós como se fôssemos estáticos: se mudamos fisicamente, é natural que as nossas ideias e a forma como olhamos para o mundo vão mudando. [Isso] não quer dizer que na essência não sejamos os mesmos”, adiantou.
Autor assume que pretende suscitar o debate e provocar reflexão Foto: Fernando Rodrigues
Afastando-se das críticas de quem considera que mudou de campo ideológico em relação a outros tempos, José Manuel Silva, socialista e ex-vereador na Câmara de Leiria, deixou a certeza de que permanece no centro-esquerda, apostado na defesa dos mais desfavorecidos da sociedade. Mas isso não significa que não tenha mudado, à semelhança do que aconteceu com a realidade, explicou.
Coube a Acácio de Sousa, investigador e autarca socialista, amigo do autor, apresentar a obra. E situou o autor na bússola ideológica do presente: “É um homem do PS e criou algumas situações de alguma controvérsia. Atualmente, é um socialista liberalizante e tem algumas crónicas que questionam o papel do Estado.”
Em suma, “gosta de andar em contramão, não gosta de ser morno e provoca alguma polémica: não estarei sempre de acordo com ele, mas procuro a sensatez de não ter reação primária às suas ideias”. José Manuel Silva, explicou ainda, gosta de “levar as pessoas a pensar.”
A capacidade de agitar consciências e provocar reações que obriguem à reflexão foi igualmente um aspeto sublinhado por Francisco Santos. O diretor do jornal salientou que o autor do livro, que reúne 90 crónicas no âmbito da comemoração dos 90 anos do REGIÃO DE LEIRIA, “escreve sem medo, diz o que pensa e não são só palavras simpáticas: causa polémica e convida as pessoas a olharem para outro lado dos problemas.”
Francisco Santos, diretor do Região de Leiria, salientou a relevância da publicação nos 90 anos do jornal Foto: Fernando Rodrigues
Com ilustrações de Mariana Laginha, o livro, editado pela Imagens e Letras e apresentado na tarde deste sábado no Celeiro da Casa do Terreiro – Fundação Caixa Agrícola de Leiria, reúne uma seleção de crónicas que se repartem por quatro grandes áreas temáticas: educação, política, saúde e sociedade. Como resume José Manuel Silva, o livro “é um ato de cidadania”. Até porque “o país podia ser outro se houvesse maior participação na vida cívica”. Palavra do passageiro do tempo.