Conhecida pelas praias de águas quentes, pela diversão noturna e pelo luxo, a zona da Costa do Sol, no sul de Espanha, tem vindo a registar um aumento dos níveis de criminalidade organizada associada às máfias suecas — um fenómeno que está a preocupar as autoridades. Nos últimos meses, foram vários os episódios de violência, desde tiroteios, ataques à bomba e assassinatos, conta o El País. O último incidente ocorreu a 3 de outubro e ficou gravado: em plena luz do dia, um rapper sueco foi morto, com vários tiros à queima-roupa, numa esplanada nos arredores de Marbella.
Pouco passava do meio-dia, numa sexta-feira de outono ainda tomada pelas altas temperaturas do verão, quando Hamza Karimi, de 23 anos, falava descontraidamente ao telefone numa esplanada. Outro homem, também de nacionalidade sueca, aproximou-se e disparou contra o jovem pelo menos 10 vezes. Karimi ainda tentou refugiar-se mas os ferimentos revelaram-se fatais. Uma câmara de vigilância pública, instalada no local, gravou o assassinato. A vítima era já conhecida das autoridades suecas por fazer parte dos gangues mafiosos de Estocolmo, embora não estivesse referenciada pela polícia espanhola — que entretanto já deteve o atirador, de 35 anos, que, entanto, se recusou a testemunhar em tribunal.
???????? Un sicario de “nacionalidad sueca” mata a un joven de 25 años a plena luz del día en una terraza de Puerto Banus, Marbella, en un nuevo episodio de ajustes de cuentas entre mafias.
El asesinado de 25 años era un rapero llamado Hamza Karimi y también de nacionalidad sueca. pic.twitter.com/swP5S3oYWR
— Hugo de Payns (@IgdePablo) October 6, 2025
A violência entre gangues suecos na zona de Málaga é relatada como uma realidade em crescendo e ligada sobretudo a negócios em torno do tráfico de droga. Nos últimos anos, estes gangues terão estado envolvidos em pelo menos uma dúzia de incidentes envolvendo atentados à bomba, tiroteios e pelo menos três mortes. A polícia espanhola tem registo de mais de 100 detenções. Na maior parte dos casos, os incidentes acontecem por ajustes de contas, vingança, dívidas ou tentativas de ganhar maior quota de mercado no competitivo mundo do tráfico.
“Perderam o respeito: agora matam em plena luz do dia, independentemente de serem vistos”, lamenta o procurador Carlos Tejada Bañales, da unidade antidrogas de Marbella. A onda de violência ligada ao mundo da droga já assola a Suécia desde 2012 mas alargou-se a um dos mais populares destinos de férias daquele país nórdico: a solarenga zona da Costa do Sol, em Espanha.
Gangues suecos usam Spotify para lavar dinheiro. “Tornou-se numa caixa automática para criminosos”
O primeiro incidente relevante ocorreu em maio de 2018, quando David Ávila estava a sair de um evento com filho, em San Pedro de Alcantara (nos arredores de Marbella), quando um motociclista se aproximou dele, o crivou de balas e fugiu. Foi a estreia do chamado “clã sueco”, conhecido pelas autoridades de Malmo, que, meses depois, foi responsável por outro assassinato, em Estepona, a sul de Marbella. No outono desse mesmo ano, o mesmo gangue fez explodir duas bombas em Benahavís. Três membros foram presos e julgados em Espanha. O líder, Amir Mekky, com apenas 21 anos, acabou por ser preso no Dubai quase dois anos depois.
Em 2019, as autoridades espanholas perceberam que a onda de violência ligada a gangues suecos não era passageira. Nesse ano, um homem — também sueco, assim como seus assassinos — foi morto a tiro após ser torturado em Mijas, uma vila nos arredores de Málaga. Surpreendidas com o profissionalismo dos assassinatos, muitas vezes cometidos por jovens na casa dos 20 anos, as autoridades polícias decidiram criar, na Unidade de Combate ao Crime Organizado, uma subunidade dedicada aos ajustes de contas.
Muitos dos criminosos vivem na Costa do Sol, enquanto outros são contratados para levar a cabo os assassinatos e viajam de propósito para a região.
Em outubro de 2021, vários jovens — classificados como “muito violentos” — do gangue Tadese tentaram sequestrar um rival do clã Goulara em Marbella. Agrediram-no na rua, mas não conseguiram colocá-lo na carrinha onde pretendiam trancá-lo. Em resposta, no dia seguinte, foram baleados à porta de um clube noturna em Fuengirola. A polícia espanhola deteve sete pessoas. Nesse mesmo ano, um esforço conjunto da Polícia Nacional e da Guardia Civil levou à detenção de 71 pessoas, incluindo Chiab Lamouri, um dos criminosos mais perigosos da Suécia.
Em fevereiro de 2024, dois suecos tentaram assassinar dois compatriotas a tiro em Marbella. Uma pessoa ficou ferida sem gravidade. Logo no mês seguinte, um jovem de 17 anos viajou de Gotemburgo com o propósito de matar um membro de uma gangue de motociclistas. Alertada, a polícia espanhola montou uma operação e conseguiu desmantelar uma organização composta um pai, uma mãe e um filho de 14 anos, todos suecos — sediada em Alicante — e que recrutava jovens para cometer assassinatos em Espanha. O menor acabou julgado na Suécia e enviado para um centro de detenção infantil.
Já este ano, a polícia detetou uma situação semelhante. Um jovem de apenas 16 anos e outro de 19 viajaram para a Costa do Sol, contratados para visar membros de um gangue. Acabaram detidos, juntamente com outras quatro pessoas, que lhes tinham fornecido armas. Enquanto as autoridades espanholas tentam tranquilizar a população, garantindo que têm os gangues suecos sob controlo, autoridades suecas avisam que a situação vai piorar. “Será um problema de segurança na Costa del Sol”.