Vinte anos depois de se baterem-se pelo título do Júnior WRC, Dani Sordo e Kris Meeke voltaram a protagonizar um duelo memorável, desta vez no Campeonato de Portugal de Ralis. Agora veterano, e depois de muitos anos de ralis ao mais alto nível, os dois amigos partilharam no Campeonato de Portugal de Ralis um ano de coexistência competitiva, reforçaram a amizade, e também as velhas lutas. Mas tal como em 2005, foi o espanhol a levar a melhor, conquistando o título na última prova da época num desfecho dramático por escassos 0,8 segundos.

Ao vencer o Rallye Vidreiro Centro de Portugal, oitava e decisiva prova do CPR, a dupla Dani Sordo e Cándido Carrera, ao volante do Hyundai i20 N Rally2, sagrou-se campeã após um duelo impróprio para cardíacos travado com Kris Meeke (Toyota GR Yaris Rally2). Entre ambos, quem terminasse o rali na frente conquistaria o título, e o espanhol levou a melhor face ao britânico, ainda que por uma “unha negra”…

Uma rivalidade nascida há duas décadas
Em 2005, foi Sordo quem triunfou. Venceu o Júnior WRC e conquistou um lugar na Citroën ao lado de Sébastien Loeb no Mundial de Ralis. Meeke ficou pelo caminho nessa disputa inicial, mas ambos acabariam por partilhar anos de batalhas no WRC, tornando-se grandes amigos e rivais.
Duas décadas depois, sem contratos de fábrica em jogo mas com orgulho e amizade em causa, os dois ex-pilotos oficiais do Mundial voltaram a medir forças, desta vez no campeonato português. Meeke sonhava com a vingança, mas esta nunca chegou.
Durante grande parte da época, o britânico e o seu Toyota GR Yaris Rally2 pareceram uma combinação invencível. Contudo, num desenlace em que o vencedor levaria tudo, foi Sordo e o Hyundai i20 N Rally2 quem prevaleceu.

Batalha ao milésimo até à derradeira classificativa
O Rallye Vidreiro terá sido uma das provas mais competitivas da história do CPR. Sordo assumiu a liderança logo na primeira classificativa e manteve-a até ao final, embora a vantagem tenha chegado a ser de apenas 0,6 segundos. Essa foi exatamente a margem com que o espanhol partiu para a derradeira especial de 11,1 km, onde foi mais rápido que Meeke por apenas 0,2 segundos, selando a conquista do título.
“Foi um fim de semana incrível”, afirmou Sordo. “Foi brutal. Durante todo o rali, a maior diferença entre nós foi de 3,7 segundos (ndr, logo na primeira especial da prova). Antes da última especial, seis décimos separavam-nos, entre vencer e perder. A verdade é que foi fantástico. Consegui vencer o rali e o campeonato por 0.8s e estou extremamente feliz, foi um ano complicado em muitos aspetos e isto dá-me uma injeção de moral. Quero dedicar este título a todos os que me apoiaram e estiveram sempre comigo, família, amigos e equipa.”
Meeke, elegante na derrota, comentou: “Nunca poderia ficar desiludido quando damos tudo. O Dani… andamos a lutar há 20 anos. Queria ganhar, porque há 20 anos ele venceu-me no Júnior WRC, tentei, dei tudo o que tinha. Lutar desta forma com um campeonato a decidir-se na última classificativa por 0.8s é um prazer fazer parte disto. Não sinto tristeza por perder, foi um prazer o ano inteiro. O Dani merece, estou muito feliz por ele.”
O norte-irlandês venceu quatro ralis contra três de Sordo, mas dois abandonos, face a apenas um do espanhol, acabaram por ser determinantes. Ainda assim, o navegador Stuart Loudon conquistou o título de copilotos, já que Cándido Carrera falhou o Rali Terras d’Aboboreira, prova em que Sordo foi segundo ao lado de Patricia Saiz Ruiloba.
O Rallye Vidreiro encerrou assim uma das épocas mais emocionantes do CPR, com uma rivalidade histórica a renascer e Sordo a provar, uma vez mais, que nos momentos decisivos sabe estar à altura.