É uma história que os banqueiros tinham dito que tinha ficado nos anos de juros altos, mas que continua, afinal, a verificar-se ainda em 2025: os bancos continuam a ter lucros nunca antes vistos. Ainda que com uma margem reduzida, o Banco Montepio imitou a maior parte dos concorrentes e registou um “novo máximo histórico semestral” no que diz respeito a lucros, segundo o comunicado enviado nesta sexta-feira, 1 de Agosto, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
O lucro do Banco Montepio foi de 70,7 milhões de euros entre Janeiro e Junho deste ano, o que representa uma subida de 2,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Consegue superar assim os 10% de retorno sobre o capital, um indicador (conhecido pelas siglas em inglês ROE) relevante para medir o que os investidores ganham com a aplicação. No caso do Banco Montepio, o accionista com mais de 99% é a Associação Mutualista Montepio Geral, tendo as entidades da economia social, como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, uma parcela muito residual.
Este resultado aconteceu apesar de os juros do Banco Central Europeu – que fomentaram lucros anteriores – estarem em queda. A margem financeira, que resulta da diferença dos juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos, afundou 15,8%. Como os créditos vão tendo as prestações actualizadas às novas Euribor, o banco recebe menos. Ainda assim, a sua liderança fez gestão de tesouraria, conseguindo ganhar com juros de dívida pública e aplicações noutros bancos, evitando uma quebra de maior dimensão.
Nos primeiros seis meses do ano, o Banco Montepio, o sétimo maior banco do país por activos, e que emprega 2999 trabalhadores, ganhou mais dinheiro com as comissões, mas também teve custos 7% mais elevados do que em igual período de 2024.
Aquilo que ajudou às contas da entidade sob o comando de Pedro Leitão foi a rubrica de imparidades e provisões, ou seja, dinheiro que fica congelado para perdas futuras. No ano passado, tinham tirado 14 milhões de euros ao resultado, este ano o contributo foi positivo, de 2 milhões. A justificação é a ida a gavetas constituídas em anos anteriores porque o risco de crédito não é já tão grave: “No primeiro semestre de 2025, a reversão reflectiu a melhoria e evolução da qualidade da carteira de crédito”.
Houve ainda o auxílio dos impostos. Embora o resultado antes do pagamento de impostos fosse maior no primeiro semestre de 2024 do que no mesmo período deste ano, o Banco Montepio conseguiu melhorar o lucro, precisamente porque a factura fiscal foi muito menos intensa: de 38,6 milhões para 14,5 milhões. Menos de metade. O banco não explica o motivo – e, tal como o presidente do Novo Banco, Pedro Leitão nunca fez uma conferência de imprensa para apresentação de resultados.
Porém, o banco tem activos por impostos diferidos em carteira em dimensão relevante, que permite ir reduzindo os encargos com impostos. São activos que vão servindo de garantia de alguma rentabilidade futura.
Crédito sobe
Tal como os concorrentes, ajudados pela medida do Governo para financiamento do crédito jovem com garantia estatal, o Banco Montepio registou um aumento de 5,6% na sua carteira de crédito, totalizando 12,5 mil milhões de euros. A evolução acontece mesmo com a redução de empréstimos que estavam em dificuldade (1,9% do crédito é ainda não produtivo).
Em relação a recursos – os clientes têm aplicados 15,6 mil milhões de euros em produtos do banco (depósitos) ou por ele comercializados (fundos e seguros) –, são mais 10% que no período homólogo.
Nesta ronda de resultados do primeiro semestre, CGD, BCP e Novo Banco reportaram lucros inéditos, tendo o BPI, o único que assume que não faz gestão de tesouraria para manter a margem, um recuo do resultado.