Cinco edifícios, quatro casas e uma oficina de automóveis. São estes os projetos que Inna Iefimenko, natural da Ucrânia, já realizou em Portimão, no Algarve, desde 2019. A artista, em conjunto com o seu companheiro português, Fernando Siqueira, pretende tornar a região mais bonita, focando-se sempre em obras ligadas à tradição nacional — que são pintadas à mão em azulejos colocados nas fachadas dos edifícios.
“O Fernando viveu quase toda a vida em França e quando regressou a Portugal, vendeu as casas que tinha para investir em Portimão”, começa por explicar à NiT a artista e arquiteta de 41 anos. Nesta altura, o casal decidiu restaurar vários edifícios no centro da cidade e Inna teve a ideia de recorrer aos azulejos pintados para decorar os empreendimentos.
“Pensámos encomendar os azulejos pintados, mas com o desenho que pretendíamos”, recorda. “Mas o Fernando perguntou porque é que não desenhava eu, em vez de pedirmos. Disse-lhe que era muito complicado, mas depois comecei a investigar e a estudar como funciona esta técnica.”
Após de várias experiências, e com a ajuda de um amigo ceramista que disponibilizava o forno para trabalhar as peças, Inna aventurou-se na primeira fachada de um edifício que hoje funciona como alojamento local na Rua da Barca.
“O edifício fica perto dos cais onde se apanham sardinhas e tem muita ligação à pesca, então decidi contar, através dos desenhos, a história da pesca da sardinha”, explica. “É uma coisa muito icónica de Portimão e resolvi colocar tudo nesta fachada.”
O processo não foi simples e demorou cerca de seis meses a estar concluído. “Não é só a parte da pintura, há também a parte dos desenhos e de escolha do tema, em que recolho fotografias antigas para pensar na composição da peça”, explica.
Um dos projetos que ainda está a terminar.
Todos os edifícios onde já trabalhou foram transformados em alojamentos locais, sendo que Inna também é responsável por geri-los em conjunto com Fernando. O projeto artístico de restauração com azulejos foi batizado de “Vida à Portuguesa” por uma razão simples: em todas as obras, a tradição regional é o ponto de partida.
“Escolhi este nome porque acho que realmente corresponde a tudo o que fazemos, porque esses edifícios são também alojamentos locais e no interior, também temos azulejos e móveis recuperados”, explica. “Queremos que as pessoas sintam realmente como é vida à portuguesa.” Até à data, a ucraniana confessa que muitos hóspedes elogiam o trabalho e a decoração dos alojamentos. “É realmente uma coisa típica portuguesa”, aponta.
Inna dedica-se à arte desde os três anos
Inna tinha apenas seis anos quando fez a sua primeira exposição de pintura na cidade natal, em Jitomir, no norte da Ucrânia. Nos anos seguintes, a jovem prodígio foi notícia em vários jornais locais, o que levou a que a família se mudasse para a capital ucraniana, Kiev, para que conseguisse prosseguir os estudos.
Ali, licenciou-se em Arquitetura Urbanística pela Academia Nacional de Arquitetura e Belas Artes e passou parte da idade adulta a trabalhar como arquiteta na região. Em 2010, porém, tudo mudou quando a mãe decidiu mudar-se para Portugal.
“Sempre foi uma mulher muito ativa e criativa. Houve um dia em que me ligou e disse que queria mudar de país e eu aceitei”, conta à NiT. “Um ano e meio ano depois desta ideia já estávamos cá em Portugal.”
Na altura, a família mudou-se para Vila Franca de Xira e só no ano seguinte, em 2011, rumou ao Algarve para abrir um restaurante: o Waterfront. Enquanto trabalhava no estabelecimento, como gerente e empregada de mesa, Inna conheceu, por acaso, o companheiro Fernando.
“O nosso restaurante é perto da marina e ele, na altura, tinha um barco”, recorda. “Houve um dia em que foi beber café num espaço ao lado do nosso e levou o gato. Assim que o vi, achei-o uma pessoa extraordinária e fui oferecer um brinquedo para o gatinho.”
Nessa altura, em 2014, tornaram-se amigos e mais tarde, em 2016, Fernando convidou-a para trabalhar como arquiteta nos seus projetos em França, onde vivia. Neste período, acabaram por se apaixonar e viveram em Paris até 2018, antes de voltarem a Portugal.
Inna e Fernando.
Quando regressaram a Portimão, Fernando começou a investir em edifícios na cidade e foi então que o casal teve a ideia de arrancar com o projeto “Vida à Portuguesa”. Além da história da pesca da sardinha, Inna já pintou azulejos com frutos do mar, frutas, animais (sobretudo gatos) e carros clássicos portugueses.
“Agora estamos fazer uma fachada perto do Teatro Tempo. É um prédio grande, que está num sítio que apanha três ruas”, sublinha. “À volta da porta de entrada, fiz um painel com uvas. O objetivo é fazer, em cada porta, uma fruta diferente.” Nas janelas, por sua vez, já pintou dois gatos e pretende, em breve, acrescentar um rato.
Além dos alojamentos locais, também já pintou uma oficina mecânica, que pertence à família. “É onde o Fernando aluga carros e caravanas clássicos, além de arranjar automóveis”, explica. Nessa fachada, em específico, quis pintar marcas de carro portuguesas e acabou por encontrar uma série delas.
“Fui investigar e descobri que existem 14 marcas de carros portugueses, que foram desenhadas e fabricadas cá e que poucas pessoas conhecem”, afirma. “Desenhei-as na fachada e fiz outras composições, como mecânicos a arranjar os carros e fiz outros apontamentos típicos, como sardinhas, caixas de conserva, gatos, peixes, entre outros.”
Inna também está disponível para trabalhos sob consulta e mediante a disponibilidade. Pode contactá-la através do e-mail (azulinna7@nullgmail.com).
Carregue na galeria para conhecer algumas obras de Inna Iefimenko.