Livro essencial para agrônomos detalha a biologia e o manejo de espécies de difícil controle, do beijinho à maria-mole, frente à crescente resistência a herbicidas
Publicação explica como lidar com o combate às espécies de ervas daninhas – Foto: Divulgação/Portal de Livros Abertos
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Trapoeraba, flor-de-são-joão, beijinho, rabo-de-cachorro, mata-brasile e maria-mole são apenas alguns dos nomes populares que designam as plantas daninhas, verdadeiras adversárias da atividade agrícola. Elas são definidas como aquelas que surgem onde não são desejadas, competindo com as culturas por recursos essenciais como água, luz e nutrientes, e até liberando compostos tóxicos (alelopáticos) ou servindo como hospedeiras de pragas e doenças. Para auxiliar produtores e técnicos no combate às espécies de ervas daninhas, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba lançou Entendendo as plantas daninhas: espécies de difícil controle, obra inédita disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP.
Editada e organizada pelo professor Rafael M. Pedroso , o livro conta com a colaboração de diversos autores. São 214 páginas, gráficos e figuras, que apresentam dados atualizados e pertinentes ao manejo das plantas daninhas nos mais variados sistemas de produção agrícola. A premissa central é entender a biologia das espécies infestantes para planejar as estratégias mais eficazes de manejo. Como destaca o professor Pedroso, a chave para o controle passa pelo conhecimento de aspectos como: o ciclo de vida das plantas, suas formas de dispersão e vias de reprodução, a prolificidade (capacidade de gerar descendentes), a longevidade no banco de sementes do solo, a ocorrência de dormência em seus diásporos e a importância da luz para a germinação.
No atual cenário da produção de alimentos, o desafio se intensifica com o crescente número de populações dessas plantas que demonstram resistência a herbicidas. Visto como uma grande ameaça, esse problema exige uma compreensão mais aprofundada para um manejo eficaz. O novo material da Esalq se estabelece como uma ferramenta indispensável para quem busca otimizar a produtividade e garantir a sustentabilidade das culturas frente à interferência das plantas daninhas. Segundo o editor, a obra divide as espécies em duas seções principais – Espécies de monocotiledôneas (classe Liliopsida), caracterizadas por possuírem embriões com um único cotilédone, e Espécies de eudicotiledôneas (classe Magnoliopsida), com embriões que possuem dois cotilédones.
Abordagem didática
No primeiro capítulo é abordada a Commelina benghalensis L. , uma espécie de planta da família Commelinaceae a qual é considerada nativa de partes tropicais da Ásia e África. Em território nacional, tal espécie conta com diversos nomes comuns, como trapoeraba ou rabo-de-cachorro, dentre diversos outros. A trapoeraba está atualmente entre as principais espécies de plantas daninhas no Brasil, com destaque para sua ocorrência em áreas de culturas anuais como a soja, milho e algodão, mas também em lavouras perenes como na cultura do cafeeiro. São descritos aspectos da biologia e ecofisiologia da trapoeraba que justificam sua ampla disseminação e capacidade adaptativa aos mais diversos sistemas de produção agrícola, como a sua propagação por vias sexuadas e assexuadas (sementes apomíticas localizadas na porção terminal de curtos rizomas), sua tolerância à fragmentação das plantas e habilidade para enraizamento dos colmos, e principalmente sua tolerância ao glyphosate, o herbicida mais utilizado no mundo atualmente. Além disso, são apresentadas formas alternativas de controle para essa infestante.
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Detalhe das folhas e flor de Commelina benghalensis L. – Foto: AONA (2016) / Livro Entendendo as plantas daninhas
Outro capítulo trata do capim-amargoso (Digitaria insularis), uma das principais espécies infestantes no Brasil, com ampla disseminação ao longo do território nacional e apresentando grande capacidade competitiva e potencial de redução produtiva nos mais diferentes sistemas de produção. O objetivo é trazer luz a aspectos da biologia da espécie que justificam seu papel central como planta daninha, como seu ciclo de vida; tolerância a estresses; aspectos de seu desenvolvimento radicular e crescimento acelerado da parte aérea; sua elevada eficiência no uso da água; sua elevada prolificidade e sua capacidade de produção de propágulos vegetativos. Por fim, são também abordados aspectos relacionados à resistência a diferentes herbicidas comumente empregados para seu manejo, e formas de controle.
O gênero Amaranthus, incluindo a espécie Amaranthus hybridus, tem grande importância agronômica e adaptou-se a uma ampla gama de condições edafoclimáticas, tornando-se uma ameaça para a agricultura em várias regiões do mundo. A. hybridus possui grande capacidade de crescimento em diferentes tipos de solo, desde que haja disponibilidade de água e nutrientes, e pode tolerar variações de temperatura e luminosidade, além de apresentar alta resistência ao estresse hídrico.
Essa espécie de planta daninha causa prejuízos significativos em culturas agrícolas, competindo diretamente por recursos com as plantas cultivadas e interferindo com efeitos alelopáticos e como hospedeira de patógenos. A resistência a herbicidas dificulta seu controle e pode levar a queda do potencial produtivo e aumento do custo de controle de plantas daninhas em determinada cultura. Neste capítulo, são abordados aspectos considerados essenciais ao seu manejo, como sua origem, biologia, identificação, ecofisiologia e resistência. Com base nessas informações, é possível desenvolver estratégias de manejo integrado que visem reduzir os impactos dessa espécie na agricultura e a adoção de práticas de manejo mais sustentáveis.
Para acessar o livro Entendendo as plantas daninhas: espécies de difícil controle na íntegra clique aqui.
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