Laura Iniesta / Flickr

Medicamento comum reduz em 25% o risco de desenvolver cancro do endométrio, mas pode também reduzir o risco de cancro do intestino, da mama, do pulmão e da próstata. Mas há estudos que dizem o contrário

Um dos maiores fatores de risco evitáveis ​​para o cancro do endométrio é o excesso de peso ou a obesidade, dado que o excesso de gordura corporal aumenta os níveis de estrogénio – uma hormona que pode estimular o crescimento de células cancerígenas.

Outros fatores de risco incluem a idade avançada, a terapia de substituição hormonal, a diabetes e a síndrome dos ovários policísticos. O início precoce da menstruação, a menopausa tardia ou não ter filhos também aumentam o risco. Os sintomas podem incluir hemorragia vaginal anormal, dor pélvica e desconforto durante o sexo.

No estudo Próstata, Pulmão, Colorretal e Ovário (PLCO), foram analisados ​​dados de mais de 42.000 mulheres com idades compreendidas entre os 55 e os 74 anos ao longo de 12 anos. As que referiram tomar pelo menos 30 comprimidos de ibuprofeno (medicamento de venda livre muito usado pela generalidade das pessoas especialmente para alívio de dores, redução de febre e tratamento de inflamações) por mês apresentaram um risco 25% menor de desenvolver cancro do endométrio do que as que tomavam menos de quatro comprimidos por mês. O efeito protetor foi mais forte entre as mulheres com doença cardíaca.

Curiosamente, a aspirina  não demonstrou a mesma associação com a redução do risco neste ou noutros estudos.

Outros anti-inflamatório não esteroide(AINE), como o naproxeno, têm sido estudados para a prevenção do cancro do cólon, da bexiga e da mama. A eficácia destes medicamentos parece depender do tipo de cancro, da genética e das condições de saúde subjacentes.

O potencial mais amplo do ibuprofeno

Os possíveis efeitos protetores do ibuprofeno contra o cancro vão além do cancro do endométrio. Estudos sugerem que pode também reduzir o risco de cancro do intestino, da mama, do pulmão e da próstata.

Por exemplo, as pessoas que já tiveram cancro do intestino e tomaram ibuprofeno apresentaram menor probabilidade de recorrência. Também foi demonstrado que inibe o crescimento e a sobrevivência do cancro do cólon, e algumas evidências sugerem mesmo um efeito protetor contra o cancro do pulmão em fumadores.

A inflamação é uma característica do cancro e o ibuprofeno é, na sua essência, anti-inflamatório. Ao bloquear a atividade da enzima COX-2, o medicamento reduz a produção de prostaglandinas, mensageiros químicos que impulsionam a inflamação e o crescimento celular – incluindo o crescimento de células cancerígenas. Níveis mais baixos de prostaglandina podem atrasar ou interromper o desenvolvimento do tumor.

Mas isso é apenas parte da história. O ibuprofeno parece também influenciar genes relacionados com o cancro, como o HIF-1α, NFκB e STAT3, que ajudam as células tumorais a sobreviver em condições de baixo oxigénio e a resistir ao tratamento.

O ibuprofeno parece reduzir a atividade destes genes, tornando as células cancerígenas mais vulneráveis. Pode também alterar a forma como o ADN é empacotado dentro das células, tornando potencialmente as células cancerígenas mais sensíveis à quimioterapia.

Há estudos que dizem o contrário

Mas nem todas as sondagens apontam no mesmo sentido. Um estudo com 7.751 doentes descobriu que tomar aspirina após um diagnóstico de cancro do endométrio estava associado a uma mortalidade mais elevada, particularmente entre aquelas que tinham utilizado aspirina antes do diagnóstico. Outros AINE também pareceram aumentar o risco de morte relacionada com o cancro.

Por outro lado, uma revisão recente descobriu que os AINE, especialmente a aspirina, podem reduzir o risco de vários tipos de cancro – embora o uso regular de outros AINE possa aumentar o risco de cancro renal. Estes resultados conflituantes mostram a complexidade da interação entre inflamação, imunidade e cancro.

Apesar da promessa, os especialistas alertam contra a automedicação com ibuprofeno para a prevenção do cancro. O uso prolongado ou em doses elevadas de AINE pode causar efeitos secundários graves, como úlceras no estômago, hemorragia intestinal e danos renais.

Menos comummente, podem desencadear problemas cardíacos, como ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais. Os AINE também interagem com vários medicamentos, incluindo a varfarina e certos antidepressivos, aumentando o risco de hemorragia e outras complicações.

A ideia de que um simples analgésico pode ajudar a prevenir o cancro é, ao mesmo tempo, entusiasmante e provocadora. Se estudos futuros confirmarem estas descobertas, o ibuprofeno poderá um dia fazer parte de uma estratégia mais ampla para reduzir o risco de cancro, especialmente nos grupos de alto risco.

Para já, os especialistas concordam que é mais sensato focar-se na prevenção baseada no estilo de vida: consumir alimentos anti-inflamatórios, manter um peso saudável e manter-se fisicamente ativo.

Os medicamentos de uso diário podem ainda ser surpreendentemente promissores, mas até que a ciência se estabeleça, a receita mais segura para a prevenção do cancro continua a ser a mais antiga: alimente-se bem, mexa-se com frequência e ouça o seu médico antes de pegar no frasco de comprimidos.


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