Israel bombardeou, este domingo, várias zonas da Faixa de Gaza, após um ataque com recurso a mísseis antitanque contra os militares israelitas em missão na zona de Rafah (sul) ter provocado dois mortos e três feridos.

O Hamas negou qualquer ligação ao ataque contra as forças israelitas. “Estamos empenhados no cessar-fogo em todas as zonas da Faixa de Gaza”, afirmaram as Brigadas Qassam, o braço armado do Hamas, em comunicado.

“Não temos informações sobre incidentes ou confrontos ocorridos na área de Rafah, que está sob controlo da ocupação”, acrescentaram. “A nossa ligação aos grupos ali localizados foi quebrada desde março passado. Não temos qualquer ligação com quaisquer acontecimentos ocorridos naquela zona e não temos forma de comunicar com os nossos combatentes de lá, caso algum deles ainda esteja vivo.”

Milhares de pessoas fazem o caminho de regresso às zonas das quais as forças israelitas já se retiraram. Cerca de 40% do território é inacessível aos habitantes. Alimentação e saúde são as preocupações mais urgentes

Moiz Salhi/Anadolu Via Getty Images

Guerra no Médio Oriente

O ataque em Rafah levou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a ordenar ao exército que “atacasse fortemente alvos terroristas” na Faixa de Gaza. Um drone alvejou um café localizado no centro do território, perto da estrada Rashid Highway, que atravessa Gaza de norte a sul, a poucos metros do mar. Foram também registados bombardeamentos no campo de refugiados de Nuseirat. Fontes em Gaza citadas pela televisão árabe Al-Jazeera dizem que os ataques israelitas provocaram pelo menos 42 mortos.

“O Hamas pagará um preço elevado por cada tiro disparado e por cada violação do cessar-fogo. Se a mensagem não for compreendida, a intensidade da nossa resposta intensificar-se-á”, ameaçou o gabinete de Netanyahu, em comunicado.

Mas por enquanto, oficialmente, o cessar-fogo mantém-se. “Estamos atualmente num cessar-fogo, mas os soldados têm permissão para se protegerem”, disse a porta-voz do governo de Israel, Shosh Bedrosian, numa conferência de imprensa virtual.

Junto a Rafah, uma fila de camiões com ajuda à espera de entrar na Faixa de Gaza

Ahmed Sayed / Anadolu / Getty Images

O ataque mortífero às tropas israelitas em Rafah levou à suspensão temporária da entrada no território de ajuda humanitária. “Um grande número de camiões” com alimentos, material médico e de higiene “regressou” ao lado egípcio da fronteira, informou o Crescente Vermelho Egípcio. Um comboio de cerca de 200 camiões tinha-se dirigido aos postos fronteiriços de Kerem Shalom e de Al-Auja, controlados por Israel, para serem inspecionados antes de entrar em Gaza.

A passagem de Rafah, que liga diretamente o Egito à Faixa de Gaza, continua encerrada. A sua abertura estava prevista para esta segunda-feira, mas Netanyahu informou que vai continuar fechada “até nova ordem”. A sua abertura “será considerada em função da forma como o Hamas cumprir a sua parte, devolvendo os reféns e implementando o que foi acordado”.

Entretanto, este domingo, as Brigadas al-Qassam anunciaram ter encontrado o corpo de um refém israelita durante operações de busca e prontificaram-se a devolver o corpo durante o dia “se as condições no local o permitirem”. Qualquer “escalada do conflito” realizada por Israel vai dificultar a busca, a escavação e a recuperação dos corpos, o que vai atrasar o regresso, alertou o grupo.

Os trabalhos de busca por corpos dos reféns israelitas é acompanhado de perto por membros da Cruz Vermelha

HAITHAM IMAD / EPA

Israel reclama ainda a devolução de 16 cadáveres de reféns levados no ataque se 7 de outubro de 2023. A confirmar-se que este corpo pertence a um refém será o 13.º de 28 cadáveres que o Hamas prometeu entregar a Israel, no âmbito do acordo de cessar-fogo que entrou em vigor a 10 de outubro. Porém, o grupo palestiniano já admitiu ter perdido o rasto de alguns corpos, no caos quotidiano da Faixa de Gaza.

Ao final da tarde deste domingo, o Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, disse que o ataque mortal em Rafah é uma “violação flagrante do acordo por parte do Hamas” e que “as tropas devem permanecer em alerta máximo. Estamos preparados e a preparar-nos para qualquer cenário”.

Citado pelo jornal israelita “The Times of Israel”, um responsável da área da segurança (não identificado) disse que “Israel não quer provocar o colapso do cessar-fogo. Existe apenas uma relação direta entre uma violação e uma resposta — e isso continuará enquanto o Hamas continuar a violar o acordo”. A fronteira entre Gaza e o Egito parece ter-se tornado “um ponto crítico para uma potencial escalada”.

Alertou o mesmo responsável: Essa zona “está ostensivamente sob controlo israelita, mas [em túneis subterrâneos que permanecem operacionais] os terroristas do Hamas estão escondidos — tentando assediar as forças israelitas sob a cobertura do cessar-fogo, mesmo sem ordens explícitas dos seus comandantes”.

Esta notícia foi atualizada às 21 horas com o número de mortos provocados pelos ataques israelitas este domingo na Faixa de Gaza.