A Coreia do Sul anunciou o início da produção em massa do míssil balístico Hyunmoo-5, apelidado de “monstro” pelo seu tamanho, numa resposta direta ao aumento da ameaça nuclear da Coreia do Norte. O projeto surge num contexto de crescente tensão na península coreana, após Pyongyang ter apresentado recentemente o Hwasong-20, um míssil intercontinental (ICBM) que, segundo especialistas, poderá atingir território continental dos Estados Unidos.

O míssil Hyunmoo-5 foi exibido publicamente durante o Dia das Forças Armadas sul-coreano, em outubro do ano passado. Equipado com uma ogiva convencional de oito toneladas, destina-se a destruir bunkers subterrâneos na Coreia do Norte que possam albergar armas nucleares ou mísseis estratégicos. O ministro da Defesa sul-coreano, Ahn Gyu-back, afirmou à Yonhap News Agency que a produção em massa visa garantir a capacidade de implantação do míssil ainda este ano e alcançar um “equilíbrio do terror” na região, face à contínua modernização do arsenal nuclear norte-coreano.

“A Coreia do Sul, como membro do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que nos proíbe possuir armas nucleares, deve dispor de uma quantidade considerável de míssil Hyunmoo-5 para alcançar o equilíbrio do terror”, sublinhou Ahn, referindo-se à necessidade de dissuasão estratégica sem recorrer a armas nucleares próprias. O TNP, assinado em 1968, reconhece como Estados nucleares apenas os Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, França e China; a Coreia do Norte abandonou o tratado em 2003.

O ministro sublinhou ainda a necessidade de desenvolver uma versão melhorada do Hyunmoo-5, com maior alcance e uma ogiva (ainda) mais potente. Atualmente, a versão existente tem um alcance entre 186 e 3106 milhas, dependendo do peso da ogiva, o que permite atingir alvos estratégico na Coreia do Norte, e funcionar como parte de um sistema de defesa conhecido como ‘três eixos’, concebido para neutralizar ataques nucleares de mísseis e realizar operações preventivas ou retaliatórias contra instalações de líderes norte-coreanos.

Segundo Ahn, observações recentes junto a locais de lançamento indicam que o Hwasong-20 norte-coreano poderá ser lançado ainda este ano, embora Pyongyang ainda não possua tecnologias essenciais, como a capacidade de reentrada na atmosfera ou múltiplas ogivas nucleares independentes. Joseph Dempsey, do International Institute for Strategic Studies, acrescentou em outubro de 2024 que a ogiva de oito toneladas do Hyunmoo-5 provavelmente inclui elementos como penetradores metálicos densos ou cargas tandem para maximizar o impacto em alvos fortificados.

A produção e implantação do Hyunmoo-5 reforçam a postura sul-coreana de dissuasão convencional frente ao Norte, complementando a defesa aérea e antimíssil. A Coreia do Sul pretende, assim, manter a superioridade estratégica na península e assegurar que qualquer ataque norte-coreano possa ser antecipadamente neutralizado, preservando a segurança nacional e regional.

O lançamento do Hyunmoo-5 insere-se numa escalada do armamento na península coreana, sendo esperado que os próximos meses tragam novas medidas de expansão das capacidades militares sul-coreanas para contrabalançar as ambições nucleares de Pyongyang, consolidando o conceito de “equilíbrio do terror” como eixo da defesa estratégica do país.

Países da UE dão “apoio esmagador” à proibição de importações de gás russo
Os países da União Europeia aprovaram hoje uma proibição progressiva das importações de gás russo, por gasoduto e gás natural liquefeito (GNL), pelo menos a partir de 2028, iniciando-se negociações com o Parlamento, que quer antecipar a data.

“O Conselho da União Europeia [UE] aprovou hoje a sua posição de negociação sobre o projeto de regulamento destinado a eliminar progressivamente as importações de gás natural russo. Este regulamento […] visa pôr fim à dependência da energia russa, na sequência da utilização do gás como arma política pela Rússia e das repetidas interrupções no fornecimento, que tiveram impactos significativos no mercado energético europeu”, anuncia em comunicado a instituição comunitária que junta os países europeus.

Reagindo à aprovação, o comissário europeu da Energia, Dan Jørgensen, falou no X num “apoio esmagador à proibição do gás russo” pelos Estados-membros, que permitirá à UE “conquistar a sua independência energética” da Rússia, numa votação que apenas requeria maioria qualificada e na qual Portugal votou favoravelmente.

Prevista está uma eliminação legalmente vinculativa e progressiva das importações de gás russo pela UE, tanto por gasoduto como por GNL, prevendo-se uma proibição total a partir de 01 de janeiro de 2028.

“O acordo do Conselho mantém este prazo, enviando assim um sinal ambicioso de vontade política para cumprir a eliminação gradual. Este passo contribuirá para o objetivo geral de alcançar um mercado energético europeu resiliente e independente, preservando simultaneamente a segurança do abastecimento da UE”, indica a instituição na nota.

Mais ambicioso é o Parlamento Europeu, com o qual o Conselho vai agora iniciar negociações, que na quinta-feira pediu que a UE deixe de importar gás natural liquefeito da Rússia a partir de 01 de janeiro de 2026, admitindo porém exceções limitadas para contratos de curta duração (até 17 de junho de 2026) e de longa duração (até 01 de janeiro de 2027), desde que celebrados antes de junho deste ano.

Portugal é um dos oito Estados-membros da UE que terão de encontrar alternativas às importações de gás russo, dado que o país ainda importa GNL da Rússia, embora em proporções relativamente pequenas.

*Com Lusa