A fabricante neerlandesa de chips Nexperia enfrenta restrições devido à disputa EUA-China que pode culminar em paragens de produção em várias fábricas europeias de automóveis.
Uma nova crise dos semicondutores ou chips está ao virar da esquina, e desta vez a culpa não é do Covid-19. As tensões comerciais entre os EUA e a China estão a pressionar as cadeias de abastecimento da indústria automóvel e os primeiros impactos já começam a ser sentidos.
A Nexperia, um fabricante de chips neerlandês, mas controlado pela chinesa Wingtech, vende cerca de 60% da sua produção para a indústria automóvel, mas está a ver a sua capacidade de fornecer os construtores automóveis limitada.
“Os construtores automóveis e os seus fornecedores receberam uma notificação da Nexperia descrevendo uma sequência de eventos que os impossibilita de garantir a entrega dos seus chips à cadeia de abastecimento automóvel”, disse a ACEA (Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis) em comunicado. Para contexto, a empresa neerlandesa produz centenas de milhões de chips anualmente.

“Sem estes chips, os fornecedores automóveis europeus não conseguem fabricar as peças e os componentes necessários para abastecer os construtores, ameaçando interromper a produção. Os stocks atuais de chips da Nexperia devem durar apenas algumas semanas”, adicionou a associação. Esta interrupção no fornecimento de peças essenciais poderá culminar na paralisação das fábricas e no prolongamento dos prazos de entrega.
Embora os chips da Nexperia não sejam considerados topo de gama — não são os mesmos utilizados nos carros autónomos —, são usados para várias funções essenciais no automóvel, que vão desde a iluminação a unidades de controlo eletrónico.
“De repente, encontramos-nos nesta situação alarmante. Precisamos realmente de soluções rápidas e pragmáticas de todos os países envolvidos.”
Sigrid de Vries, diretora-geral da ACEA
Nos EUA, a Alliance for Automotive Innovation alertou que a falta de chips poderá afetar rapidamente não só a produção automóvel, como outros setores.
Impacto nos construtores
Os construtores automóveis, assim como os seus fornecedores, estão a acompanhar de perto a situação da Nexperia para avaliar o potencial impacto desta crise.
Um dos primeiros construtores a confirmar que parte da sua rede de abastecimento está a ser afetada foi a BMW, mas ainda não levou a paragens na produção, avançou a Automotive News Europe. A Mercedes-Benz não confirmou se a empresa neerlandesa faz parte da sua rede de fornecedores, mas afirmou estar em contacto com as partes relevantes.
O Grupo Volkswagen está a avaliar os impactos nos fornecedores e nos componentes, uma vez que alguns chips da Nexperia entram de forma indireta nos seus veículos. Já a Stellantis afirmou estar a colaborar com a empresa e outros fornecedores para avaliar os impactos e planear medidas de mitigação.
A Renault declarou estar a monitorizar a situação, contudo ainda é cedo para fazer uma declaração definitiva. A Bosch confirmou que a Nexperia é um dos seus fornecedores de componentes eletrónicos e está a trabalhar para minimizar potenciais impactos.
De acordo com a ACEA, “embora a indústria já adquira os mesmos tipos de chips de outros concorrentes no mercado, a homologação de novos fornecedores para componentes específicos e o aumento da produção levam vários meses”; algo impensável para a associação, tendo em conta que o atual stock de chips da Nexperia apenas durará mais algumas semanas.
Apesar de diversificarem nos fornecedores, os fabricantes automóveis têm dificuldade em substituir os chips específicos da Nexperia devido à tecnologia, escassez de fornecedores e certificações exigentes.
Próximos passos
Na semana passada, o Governo neerlandês anunciou o início de negociações com a China, de forma a levantar o controlo das exportações da Nexperia. O ministro da economia, Vincent Karremans, disse no dia 19 de outubro (ontem) que esperava reunir-se com um representante chinês nos próximos dias para resolver o impasse.
O encontro entre Donald Trump, presidente dos EUA, e Xi Jinping, presidente da República Popular da China, marcado para este mês na Coreia do Sul também poderá redefinir o ambiente comercial entre Washington e Pequim. Contudo, permanecem incertezas sobre a realização da reunião devido às tensões crescentes, com algumas previsões de que só venha a realizar-se no próximo ano.
“A ACEA está profundamente preocupada com a potencial interrupção significativa na produção de veículos europeus se a interrupção do fornecimento dos chips da Nexperia não for resolvida imediatamente”, concluiu a associação.
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