Em 1860 Eugénia viu pela primeira vez uma peça desenhada por Charles Frederick Worth, um vestido em tule branco bordado com fios de prata. Foi num baile nas Tulherias, no corpo de uma influente socialite austríaca, mulher do embaixador de Áustria, Pauline de Metternich. Uma aproximação que não terá sido assim tão inocente — pelo contrário. De acordo com Didier Grumbach, empresário da moda que já trabalhou com Yves Saint Laurent e Givenchy, e autor de Histoires de la Mode, Charles Frederick Worth percebeu em Eugénia uma oportunidade de transformar a moda do Império e fazer o próprio nome no meio. “Em todos os países da Europa o Rei ou a Rainha criavam a moda. Maria Antonieta tinha uma costureira para dar-lhe indicações. A decisão era da Rainha”, escreve Grumbach sobre a época, destacando que não havia criatividade na moda francesa, até que Worth apareceu. O designer e costureiro inglês chegou em Paris em 1845 e trabalhou como vendedor na Gagelin, quando começou a criar peças para a própria mulher. Abriu na sequência um pequeno atelier, chamado House of Worth, onde apresentava as suas criações com destaque para as novas formas e silhuetas, e em modelos reais — o que seria os primórdios dos desfiles de moda.
Com o Segundo Império em 1852, Worth percebeu que precisava chegar à Imperatriz. Então, conta Grumbach, terá incumbido a mulher, Marie Vernet, de visitar Pauline de Metternich, a mulher do embaixador da Áustria. Levou consigo um caderno com vários esboços de Worth e amostras de tecido. Apesar de ter sido recebida com algum ceticismo, Metternich acabou por encomendar dois vestidos por 300 francos, um para o dia e outro para noite. A peça de gala encantou a Imperatriz, que chamou Worth ao Louvre no dia seguinte. Mas ao invés de chegar preparado para atender aos desejos de Eugénia, Worth levou um vestido pronto, todo em brocado. “A imperatriz viu o vestido e odiou, porque pensou que pareciam cortinas. E sentiu-se absolutamente insultada porque o vestido não havia sido negociado, estava pronto. Ele propôs uma criação em que ela não interfiria”, escreve Didier Grumbach. “Ela manda-o de volta, manda o vestido de volta. Mas, por sorte, o Imperador chega. E Worth, que não era tímido, explica: ‘O brocado é de Lyon — uma cidade republicana — então acho que é boa política se a Imperatriz usasse-o algumas vezes’”.
Entre os elementos de design de Worth destacam-se as formas revolucionárias, com silhuetas próprias e crinolina apenas na parte de trás, com a popularização das anquinhas, assim como o uso das cores, como o tom violeta. Eugénia passou a vestir quase que exclusivamente criações do designer inglês, tornando-o numa espécie de “costureiro não oficial” da corte. Contudo, Worth fez questão que a alta sociedade soubesse que estava a costurar para a Imperatriz. Antes do encontro com a mulher de Napoleão III, um vestido do designer custava entre 300 e 400 francos — na altura que Eugénia já vestia peças de Worth, as suas criações não vendiam por menos de 2 mil francos. Contudo, assim como o primeiro encontro, a relação entre designer e cliente não era sempre de simbiose. “Quando a Imperatriz preferiu esperar antes de usar as suas últimas criações, ele não hesitou em expressar a sua insatisfação. A sua lendária persuasão muitas vezes prevaleceu sobre a relutância de Sua Majestade ”, lê-se numa das crónicas de The House of Worth: The Birth of Haute Couture.
Foi a partir do estilo inovador e do trabalho minucioso de Charles Frederick Worth que foi criada a Chambre Syndicale de la Haute Couture, em 1868, com regras que vão desde a forma de construção, passando pela qualidade do trabalho feito à mão, até a exigência das peças à medida. Atualmente em França o termo alta costura é protegido pela Federação de Alta Costura e Moda, que determina quais casas podem usar a nomenclatura.
Um ano depois do casamento de Eugénia e Napoleão, Louis Vuitton abriu a sua primeira loja em Paris, perto da Place Vendôme. Com malas estilo baú de topo plano em pele, as criações do artesão eram o que a Imperatriz precisava para transportar as suas crinolinas. Louis Vuitton foi apontado como o fabricante de malas oficial da corte, a qual serviu durante vários anos. Fergus Mason relata, na sua biografia de Louis Vuitton, que Eugénia ainda apresentou o designer para outros clientes importantes — realezas e lideranças políticas internacionais. Foi o caso do Governador do Egito, Ismail Pasha.
Vuitton foi chamado para empacotar a bagagem da Imperatriz para a viagem de inauguração do Canal do Suez. Eugénia passaria dois meses no Egito e viajaria à bordo do iate imperial, o L’Aigle, junto com Pasha. O autor da biografia de Louis Vuitton relata que, para estabelecer relações mais próximas entre o Egito e a França, o Governador egípcio encomendou um conjunto completo de malas do designer, a fim de causar uma boa impressão na Imperatriz. Pasha terá sido o primeiro cliente Louis Vuitton depois da família imperial.