“Não é uma questão ideológica, mas de sobrevivência industrial”, admitem fontes próximas do executivo alemão sobre o fim da combustão.

© Federal Government/Steffen Kugler

A Alemanha voltou a colocar-se no centro do debate europeu sobre o futuro da indústria automóvel e da mobilidade na Europa. O chanceler Friedrich Merz prometeu “fazer todos os possíveis” para suavizar a proibição de vender carros novos com motor de combustão a partir de 2035.

As declarações surgem no seguimento de uma reunião entre o executivo alemão e responsáveis da indústria automóvel alemã. Uma posição que desafia frontalmente a linha imposta por Bruxelas que reiterou o mês passado que o futuro do automóvel na Europa vai mesmo ser elétrico.

Recordamos que em 2023, a União Europeia (UE) aprovou o fim da comercialização de automóveis novos com emissões de dióxido de carbono (CO₂) a partir de 2035. A meta pretende acelerar a transição para os veículos elétricos e eliminar gradualmente os motores térmicos convencionais. Mas desde então, a contestação não cessou e as vendas dos elétricos continuam longe dos patamares previstos.

Agora, o protesto vem do país que é considerado o «motor da economia europeia». “Não devemos proibir, mas sim permitir a evolução tecnológica”, declarou Merz, defendendo que a Europa não deve fechar a porta aos combustíveis sintéticos nem às soluções híbridas de nova geração.

Uma questão de sobrevivência industrial

A posição de Merz reflete preocupações económicas e sociais. A indústria automóvel alemã é o maior empregador e exportador do país, e enfrenta simultaneamente três tempestades: custos energéticos elevados, pressão regulatória crescente e a ofensiva tecnológica da China.

“Não é uma questão ideológica, mas de sobrevivência industrial”, admitiu uma fonte próxima do executivo, ecoando o sentimento de vários líderes empresariais. A ACEA (Associação Europeia dos Construtores de Automóveis) já deixou também o alerta: a meta de 2035 é “demasiado rígida” e baseada em cenários de adoção elétrica excessivamente otimistas.

Ao questionar a rigidez de 2035, o chanceler falou tanto para os engenheiros de Estugarda como para os operários de Wolfsburgo.

Nem todos estão de acordo

A nova posição alemã não é, contudo, unânime. Dentro da própria coligação governamental, os sociais-democratas recusam seguir essa linha, e outros Estados-membros — sobretudo França e os países nórdicos — olham para esta hesitação como um retrocesso perigoso.

Ainda assim, Berlim não está sozinha. Países como a Polónia, Hungria e República Checa já tinham manifestado reservas semelhantes e defendem que os combustíveis sintéticos (e-fuels) e híbridos evoluídos devem ter espaço legal para coexistir com os elétricos após 2035.

No Parlamento Europeu, cuja maioria está do lado da família do PPE (Partido Popular Europeu), cresce também o coro a pedir uma revisão da norma, com argumentos centrados na neutralidade tecnológica e na competitividade global.

O debate poderá acabar ainda este ano

A Comissão Europeia (CE), por sua vez, mantém o discurso da estabilidade regulatória: segundo Bruxelas, o horizonte de 2035 é “um pilar essencial” para garantir previsibilidade ao investimento e acelerar o cumprimento das metas climáticas.

Mas a posição da Alemanha reabre uma ferida que nunca sarou totalmente: uma Europa dividida entre o imperativo ambiental e a eletrificação total e a defesa do seu músculo industrial como agora é percebido.

Mais uma vez, é Berlim quem bate o pé. Porque é precisamente na Alemanha que o choque poderá ser maior, numa onda de contágio que, de acordo com aqueles que defendem o motor de combustão, não conhecerá fronteiras.

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