Além do livro, pontífice recebeu três cartas assinadas por 58 detentos de Xanxerê. Foto: Vatican Media
O livro Leitura e Cárcere, de Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset, doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi entregue ao Papa Leão XIV pelo arcebispo de Chapecó, Dom Odelir José Magri, em 1º de julho. A obra, resultado da tese de doutorado de Rossaly no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) da UFSC, mostra a experiência da autora durante entrevistas com presos em um projeto de extensão de leitura que coordenou durante cinco anos no curso de Direito da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc Xanxerê).
A pesquisa constatou que há mínimas condições de leitura no cárcere, refletindo sobre desigualdade social, funcionamento dos sistemas de segurança e de justiça e condições dos espaços de privação de liberdade. Também apresenta diferentes casos e mostra o envolvimento de presos com a leitura: alguns afirmavam o gosto pela atividade, outros que diziam ler apenas para redução da pena.
Pontífice também recebeu cartas dos detentos
Além da obra, o pontífice também recebeu três cartas com 58 assinaturas de detentos do Presídio Regional de Xanxerê (SC). Na mensagem, os detentos expressam a esperança de que Leão XIV dê continuidade ao legado do Papa Francisco, pregando a paz e levando luz onde há escuridão, especialmente aos presos e marginalizados. Ainda destacam a importância da leitura no ambiente prisional e o papel fundamental da Pastoral Carcerária.
A Lei de Execução Penal (LEP) dispõe sobre a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou trabalho: a cada livro lido, quatro dias a menos atrás das grades. “A remição de pena por meio de leitura foi introduzida, em 2011, no contexto do sistema penal porque não havia nem trabalho nem escola para os presos. A função da leitura nesse contexto não foi por benesse, havia um vazio já no sistema que deveria ser tratado. A possibilidade de diminuir dias de pena de condenados pela Justiça por meio da leitura não demandava investir financeiramente no sistema prisional, bastava dar livros aos presos”, diz Rossaly, que é facilitadora de Justiça Restaurativa.
Professora e pesquisadora de Língua Portuguesa na Unoesc, Rossaly também é autora do livro Língua e Direito: uma relação de nunca acabar. “Fui convidada a participar de muitos eventos acadêmico-científicos em que pude partilhar a pesquisa que originou o livro e a disseminar reflexões sobre o tema. E também é gratificante ver que o livro está sendo lido por presos Brasil afora, e eu tenho participado de rodas de conversa com eles”, conta sobre a repercussão da obra.
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