Os episódios violentos em Gaza no fim-de-semana passado demonstraram mais uma vez a fragilidade do acordo com que os Estados Unidos e aliados como o Qatar e o Egipto conseguiram comprometer o Hamas e Israel no dia 13 de Outubro.

Apesar de ambos os lados terem garantido que estão empenhados em manter a trégua na Faixa de Gaza, a Casa Branca parece não querer deixar nada ao acaso.

Donald Trump enviou para Israel o seu vice-presidente, J.D. Vance, que irá, juntamente com o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e o genro do Presidente Jared Kushner, reforçar a ideia junto de Israel e de alguns dos mais renitentes membros do Governo de Benjamin Netanyahu de que não só o cessar-fogo tem de se aguentar como é preciso passar oficialmente à segunda fase do acordo.

Na semana passada já houve eco na imprensa israelita de conversas preliminares para a fase seguinte do acordo de paz orquestrado pelos Estados Unidos, mas o New York Times (NYT) escrevia na segunda-feira que a Administração Trump estava receosa de que Netanyahu resolvesse voltar a combater o Hamas depois dos incidentes de domingo.

Israel afirmou que um ataque do Hamas matou dois soldados das Forças de Segurança de Israel (IDF, na sigla em inglês) e respondeu com ataques aéreos que mataram 45 palestinianos.

Donald Trump disse aos jornalistas que não era certo que “a liderança do Hamas tivesse sido responsável” pela morte dos soldados e a Reuters deu conta de que os Estados Unidos forçaram a entrada de ajuda humanitária no enclave, depois de Israel ter dito que ia impedir a passagem de camiões por esta alegada quebra do cessar-fogo.

Daí que J.D. Vance tenha aterrado nesta terça-feira em Israel, na companhia da mulher, Usha, num momento particularmente sensível, em que é esperado que se comecem a discutir temas como a nova autoridade que deverá governar Gaza, a retirada total das forças israelitas, a desmilitarização do Hamas (que o grupo islamista já disse que rejeita) e a constituição de uma força internacional para estabilizar a região.

Na segunda-feira, Netanyahu disse aos deputados do Parlamento israelita que iria discutir “desafios de segurança” e “oportunidades diplomáticas” com Vance, relata o Guardian.

O líder do Governo de Israel também revelou que as IDF lançaram 153 toneladas de explosivos em Gaza, em resposta ao que considerou ser uma violação “flagrante” do cessar-fogo, no domingo.

“Uma das nossas mãos empunha uma arma, a outra está estendida em sinal de paz”, afirmou Netanyahu, dizendo que “a paz se faz com os fortes, não com os fracos” e que, “hoje, Israel está mais forte do que nunca”.

Na Casa Branca, o Presidente Donald Trump também avisou o Hamas de que tem de cumprir a sua parte do acordo. “Fizemos um acordo com o Hamas, segundo o qual eles vão portar-se muito bem. Vão comportar-se”, afirmou Trump aos jornalistas. “Se não o fizerem, vamos lá e vamos erradicá-los, se for preciso. Eles serão erradicados. E eles sabem disso”, alertou.

Segundo o NYT, que cita funcionários da Administração Trump que falaram sob anonimato, a estratégia do Presidente é que “o Sr. Vance, o Sr. Witkoff e o Sr. Kushner tentem impedir o Sr. Netanyahu de retomar um ataque total contra o Hamas”.

Nesta terça-feira, Steve Witkoff e Jared Kushner reuniram-se em Telavive com os 20 reféns que foram libertados no dia 13 de Outubro pelo Hamas. Recorde-se que os dois enviados de Trump foram muito aplaudidos na chamada “Praça dos Reféns”, na noite de 12 de Outubro, que antecedeu a libertação dos sobreviventes, tal como o nome de Donald Trump, enquanto o de Benjamin Netanyahu foi vaiado pela assistência.

Na segunda-feira, em Washington, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, que recebeu um dos mais radicais ministros de Netanyahu, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich (na lista negra de vários países por ter um discurso que incita à violência contra os palestinianos), também fez o seu papel de diplomata para a paz.

Num comunicado oficial, Bessent instou o seu homólogo a “abraçar totalmente o acordo de paz histórico do presidente Trump” e reafirmou “os laços fortes entre os Estados Unidos e Israel”.