Marcos Rey é o pseudônimo de Edmundo Donato, nascido na cidade de São Paulo em 17 de fevereiro de 1925. “O nome que me dá mais prazer proferir e assinar e inclusive me dá mais dinheiro”, como disse numa entrevista, em 1998, para a Pro-TV – Museu da Televisão Brasileira.
Filho de um gráfico e encadernador e irmão do também escritor Mário Donato (1915-1992), Rey cresceu rodeado de livros e cedo se tornou um leitor insaciável. Conheceu ainda na infância Monteiro Lobato, Menotti Del Picchia, Paulo Setúbal e Orígenes Lessa, frequentadores de sua casa e amigos de seu pai.
Não era um bom aluno, mas seu interesse pela leitura chamava a atenção dos professores. Uma hanseníase contraída na juventude, em uma época em que não havia cura, deixou sequelas, mas não tirou seu bom humor, que levaria para toda a vida. Ainda na adolescência, entendeu que seria escritor e recusou o curso de Direito para trabalhar com a palavra.
Foi jornalista e depois redator na Rádio Excelsior. Dali passou também para a televisão. Criou o que pode ser considerada a primeira minissérie da TV brasileira, Os Tigres, com 20 capítulos, para a Excelsior, em 1968. Também escreveu novelas e foi redator por oito anos da versão do Sítio do Picapau Amarelo exibida pela TV Globo de 1977 a 1986. Assinou ainda diversos roteiros para o cinema.
Por muitos anos, trabalhou também como redator publicitário, seu principal ganha pão. Quando a esposa, Palma Bevilacqua Donato, vendeu o próprio carro e lhe entregou o dinheiro, abandonou de vez as agências para se dedicar integralmente à escrita. Não era um novato, mas a liberdade deu novo fôlego para sua produção.
Seu primeiro livro publicado, Um Gato no Triângulo, é de 1953. Um sucesso de crítica, mas fracasso de vendas. Levaria sete anos para lançar o próximo, Café na Cama – este sim, um best-seller da época –, em 1960, mesmo ano em que se casou com Palma. Depois deles viriam quase 40 outros títulos, entre romances, crônicas, contos e autobiografias. Alguns de grande sucesso, como O Enterro da Cafetina (1967) e Memórias de Um Gigolô (1968).
Até 1981, Marcos Rey só havia produzido “literatura adulta”. Não pensava em se tornar um escritor de “literatura juvenil”. Aconteceu de maneira inesperada, quando foi procurado pela Editora Ática para escrever na Série Vaga-Lume, criada em 1973 pelo editor Jiro Takahashi. A ideia não era adaptar sua prosa, mas simplesmente ser o próprio Marcos Rey de sempre.
Aceitou a proposta, e em 1981 foi lançado O Mistério do Cinco Estrelas. Com o sucesso, passou a escrever praticamente um título por ano para a coleção, somando mais de 15 volumes, sem abandonar os livros adultos. Entre eles estão O Rapto do Garoto de Ouro (1982), Um Cadáver Ouve Rádio (1983), Sozinha no Mundo (1984), Dinheiro do Céu (1985) e o Enigma na Televisão (1986).
Histórias policiais, de mistério e aventura, os livros de Marcos Rey – como todos os títulos da coleção – vinham com exercícios para serem usados em sala de aula pelos professores e uma proposta envolvente para os jovens, com histórias em quadrinhos, palavras cruzadas e outras atividades lúdicas. As estimativas apontam que a série tenha superado os 8 milhões de cópias vendidas.
Marcos Rey costumava ambientar suas histórias na cidade de São Paulo, procurando aproveitar suas próprias experiências como material criativo. Mas ele se tornou um escritor universal, traduzido na Espanha, Canadá, Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Inglaterra, Finlândia, União Soviética e Japão. Em 1987, foi empossado na Academia Paulista de Letras e, em 1996, ganhou o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escritores (UBE), sendo eleito o Intelectual do Ano. Na época, além do trabalho nos livros, assinava uma coluna de crônicas na revista Veja São Paulo. Morreu em 1o de abril de 1999.
O evento O Legado da Série Vaga-Lume: Centenário de Marcos Rey acontecerá no Auditório Nicolau Sevcenko da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP (Avenida Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Não é preciso fazer inscrição