[Aviso: este artigo pode conter spoilers. Se não viu “Task”, se vai ver e não quer saber nada sobre a série, não leia]
Quando destacámos Task nas sugestões que semanalmente lançamos no Observador, ficou a dica: “Hoje parece que é pedir muito quando são necessários alguns episódios até algo de grandioso acontecer. Sobretudo se a espera for por um quinto episódio. Ainda mais se a série apenas tiver sete”. Agora que terminou, e que foi superado com classe o desafio do início lento, a prova está aí: Task é uma das séries do ano.
Pode alegar-se que era o expectável vindo do criador de Mare Of Easttown, Brad Ingelsby. Mas neste campeonato, nem tudo é assim tão transparente. Task também é um policial; também se passa naquela América que não tem onde cair morta; também se sustenta dos problemas familiares para alimentar a trama; só que não se centra à volta de uma personagem, como Mare Of Easttown faz com a Mare de Kate Winslet — Task depende do coletivo. Por isso é que a segunda metade bate tanto, quando as personagens começam a partir (sim, eufemismo para morrer) e quando percebemos que, afinal, tudo aquilo está bem para lá do jogo do gato e do rato.
[o trailer de “Task”:]
O problema não é, nem nunca foi, de Task. Mas da ideia que se criou de que as coisas têm de agarrar logo, desde o início, de que uma série tem de obedecer a uma determinada estrutura e a um conjunto de regras para funcionar. É claro que se as fórmulas existem, é porque funcionam; mas também óbvio que o que está para lá delas merece existir, merece a nossa atenção e muitas vezes resulta bem melhor do que um caminho pré-definido. Por estes dias, ouvimos muitas vezes a frase “não tenho tempo para perceber se vou gostar” ou “o nosso tempo é demasiado valioso para isto”. É um erro e com essa atitude perde-se o direito de nos aborreceremos antes da epifania. E, note-se, em Task nem sequer nos aborrecemos.
O que Task faz é contemplar o aborrecimento das personagens (entre o dramático e o trágico), a quem a vida aconteceu. Tom (Mark Ruffalo) perdeu a mulher — o confronto com a realidade de como tudo se passou, no último episódio, é um dos mais belos momentos de televisão deste ano —, perdeu a noção do que é viver e está enfiado na prateleira do FBI a distribuir panfletos em feiras. Robbie (Tom Pelphrey) perdeu o irmão e a mulher e — não há outra forma de o dizer — está na merda. A ideia de se revoltar contra quem lhe lixou a vida parece ser a salvação, mesmo que isso o empurre para a morte. Vai daí, escolhe ser criminoso, uma espécie de Robin dos Bosques da América dos arrabaldes que está deprimida, que assalta casas de narcotráfico para um dia conseguir dinheiro suficiente e sair dali com a família. Será só isso?