No dia 1º de novembro, a Feira do Livro de Porto Alegre recebe um evento especial com uma das escolas da zona norte da Capital atingidas pela enchente de 2024: uma sessão de autógrafos com os alunos do Colégio Estadual Cândido José de Godói, autores de contos presentes no livro “Contando nossas histórias”. Ao todo, foram dez estudantes que participaram da construção da publicação com textos originais, sob tutela do escritor Mário Pool, que organizou a obra.

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“No final de 2023, nós fizemos, em parceria com a Secretaria de Educação, um projeto de leitura em que vai um escritor na escola para fazer um debate. Quando terminou esse projeto, eu convidei o escritor Mário Pool para fazer um trabalho com a escola”, conta a vice-diretora do turno da tarde da escola, Maria Luiza de Castro. Foi quando surgiu a ideia de produzir um livro.

“Divulguei na escola e consegui uma lista de uns 14 alunos. Marcamos para maio a nossa primeira reunião. Só que dia 2 de maio a escola já estava debaixo d’água. E eu não tinha passado a lista para o celular. Até isso a chuva levou”, relembra Maria Luiza.

O colégio foi severamente atingido atingido pela enchente histórica que inundou Porto Alegre em maio de 2024. A instituição ficou um mês com toda a área térrea embaixo d’água e, depois, mais um mês coberta de lama à espera da limpeza. Construído em dois pisos, o andar térreo do edifício, onde funciona toda a parte administrativa, além do refeitório, ficou completamente devastado. O colégio voltou ao normal apenas no dia 1º de agosto daquele ano.

Capa do livro “Contando nossas histórias”. Foto: Maria Luiza de Castro

O projeto do livro, porém, retomou suas atividades no mês anterior, com menor número de participantes devido à tragédia. Uma vez por semana, os participantes se reuniam remotamente aos sábados por uma hora e meia para discutir suas criações. “Nós nos reuníamos nos sábados, líamos os contos e fazíamos comentários. Em dezembro estávamos lançando o livro”, comenta a vice-diretora.

O lançamento do “Contando nossas histórias”, em dezembro de 2024, esgotou na mesma noite a primeira tiragem da obra, com 150 cópias disponíveis. Para a Feira do Livro, será disponibilizada uma nova tiragem com a segunda edição da obra.

Curiosamente, apesar do momento histórico em que foram escritos, nenhum conto foi sobre o tema central que afligia o Rio Grande do Sul naquela época. “Os contos não foram sobre a enchente. As pessoas não queriam escrever sobre a enchente. Tinha ali duas pessoas que foram bem atingidas e que tiveram que sair de casa, mas não escreveram sobre a enchente”, comenta Maria Luiza.

Para este ano, o projeto continua, com um novo livro com textos de seis estudantes do Colégio Estadual Cândido José de Godói. O lançamento deve ocorrer entre o final de novembro e o começo de dezembro. “É impressionante, né? É um projeto que abarca vários elementos, como a leitura, a escrita, a responsabilidade, a autoestima. Então, pra nós, é uma iniciativa que pedagogicamente trabalha com vários elementos”, destaca Maria Luiza.

“Para nós também é importante divulgar o nome da nossa escola. A gente não quer que ela fique com aquela peste. Faz parte da nossa história ser atingida pela enchente. Mas é uma escola de 65 anos e nós queremos que a escola continue aparecendo e trazendo jovens”, observa Maria Luiza de Castro.