Imagem: Aline Alves Ferreira (Arquivo pessoal)
Imagem: Aline Alves Ferreira (Arquivo pessoal)

Ainda na graduação em Nutrição pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Aline Alves Ferreira teve a primeira aproximação com o tema da nutrição inclusiva, por meio de uma abordagem da saúde e alimentação de povos indígenas. “Incomodava-me a visão homogênea da população, baseada em fórmulas e padrões de dieta pouco diversos”, conta. Foi quando percebeu a importância de olhar para subgrupos populacionais e compreender a necessidade de considerar fatores históricos, sociais e econômicos. Fez o mestrado e o doutorado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Atualmente professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-bolsista da CAPES/MEC, ela ganhou o Prêmio Jabuti Acadêmico de 2025 pelo livro construído a partir de suas pesquisas. Em sua segunda edição, a premiação, entregue em agosto, valoriza a excelência da produção científica, técnica e profissional nacional.

Sobre o que é o seu livro? Explique o conteúdo da sua produção.
O livro “Nutrição Inclusiva” nasce dessa inquietação compartilhada entre mim e outras duas colegas, que também atuam com diferentes perspectivas na área da saúde e da nutrição. A proposta é abordar contextos que precisam ser incluídos, mas que muitas vezes fingimos não ver. Profissionais de nutrição raramente aprendem, na graduação ou na pós-graduação, a considerar as especificidades de pessoas em situação de rua, com deficiência ou em outros contextos de desigualdade. Vivemos em um dos países mais desiguais do mundo, e essa realidade precisa ser incorporada à prática profissional. Ao longo de muitos anos lecionei disciplinas de avaliação nutricional e trabalhei sempre com temas relacionados a desigualdades sociais e insegurança alimentar. Busquei discutir como olhar para esses grupos de forma diferenciada e, sobretudo, como incluí-los efetivamente nas práticas profissionais. Incluir é mais do que reconhecer: é integrar esses grupos às políticas públicas, às pesquisas e à formação em saúde.


O que vale destacar de mais relevante?

O principal destaque do livro é seu caráter inédito. Ele reúne capítulos escritos por profissionais de diferentes regiões do Brasil, que trazem suas experiências pessoais e profissionais em diversas áreas, discutindo o cuidado nutricional de forma mais inclusiva e voltada a segmentos historicamente invisibilizados. É a primeira vez que se reúnem, de maneira ampla, debates sobre esses grupos. O livro não pretende dar todas as respostas, mas abrir caminhos, iluminar discussões e apresentar novas perspectivas.

O que representa essa premiação?
O Prêmio Jabuti representa um reconhecimento muito importante. Receber esse prêmio logo após o lançamento do livro, que passou por várias etapas de avaliação, foi muito gratificante. Mostra que o trabalho foi cuidadosamente realizado e que o tema encontrou eco para além do meio acadêmico. Como professora da UFRJ e pesquisadora, acredito que muitas vezes falamos e escrevemos apenas para nossos pares. No entanto, a divulgação científica deveria alcançar também a sociedade em geral, com uma linguagem acessível. Esse reconhecimento amplia essa dimensão e reforça a importância de comunicar a ciência para todos. Receber o prêmio foi também a validação de uma trajetória difícil — de mulher, pesquisadora, de origem humilde, uma das primeiras da família a cursar universidade pública e alcançar o doutorado. Fazer pesquisa no Brasil é difícil e custoso, mas o prêmio simboliza que estou no caminho certo. É o reconhecimento de anos de dedicação e de um trabalho comprometido com a inclusão e a equidade na área da nutrição.

Qual a importância da bolsa da CAPES/MEC para a sua formação acadêmica?
A bolsa da CAPES/MEC foi essencial. Durante esse período, acumulei experiências não apenas com pesquisa, mas também com trabalhos junto a povos indígenas e outros grupos invisibilizados na sociedade. Essa aproximação sempre me inquietou: a ausência de abordagens na área da saúde, especialmente na nutrição, sobre contextos de subgrupos marginalizados. Entre eles, destaco a população privada de liberdade, povos e comunidades tradicionais, pessoas LGBTQIA+, povos ciganos e pessoas em situação de rua. Desde então, trabalho com o tema das desigualdades sociais, alimentação e nutrição, que é o eixo central por trás da ideia do livro.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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