O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que esta quarta-feira recebeu em Jerusalém o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, sentiu necessidade de afirmar antes do encontro que Israel “não é um protectorado dos Estados Unidos”, e que continuará a ter uma palavra a dizer sobre os desenvolvimentos na região.
“Não somos um protectorado dos Estados Unidos. Israel é quem decidirá sobre a sua segurança”, afirmou Netanyahu numa declaração emitida pelo seu gabinete antes da reunião com Vance, que chegou a Israel na terça-feira para uma visita ao centro EUA-Israel de coordenação do cessar-fogo em Gaza.
Segundo a Associated Press, o comunicado do primeiro-ministro israelita procurou apaziguar os receios de quem considera que a constituição de uma força internacional para supervisionar a trégua com o Hamas (cuja constituição está prevista no acordo desenhado pela Casa Branca) não irá limitar a capacidade de Israel de se defender.
Na véspera, Vance já havia dito que essa força internacional estava ainda “a ser conceptualizada”, e que os EUA não iriam impor nada aos seus “amigos israelitas”. Aos EUA caberia o papel de coordenar o contributo de países como a Turquia, a Indonésia ou de nações árabes, como o Egipto, apontou o vice-presidente norte-americano.
Na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro dos dois governantes, a questão sobre a relação entre Israel e EUA voltou a surgir, e o primeiro-ministro voltou a rejeitar qualquer tipo de subserviência em relação aos EUA.
“Quero deixar isto bem claro”, respondeu Netanyahu. “Numa semana dizem que Israel controla os Estados Unidos e, uma semana depois, dizem que os Estados Unidos controlam Israel. Isso é uma parvoíce.”
“Nós tomamos as decisões pela segurança de Israel, mas tomamos decisões comuns para a região que, na minha opinião, podem servir a ambos”, afirmou o primeiro-ministro de Israel — cujo gabinete reconheceu, esta quarta-feira, a identidade dos dois reféns cujos corpos foram devolvidos na véspera pelo Hamas.
Trata-se de Arie (Zalman) Zalmanovich, de 85 anos, e Tamir Adar, de 38 anos, ambos levados do Kibbutz Nir Oz, a 7 de Outubro de 2023.
Netanyahu, que se desfez em elogios em relação a Vance, dizendo-se “impressionado com a sua clareza, com a sua perspicácia, com a sua solidariedade” e a sua “amizade genuína”, frisou que já cá anda “há alguns anos” e que nunca antes a relação entre Israel e os Estados Unidos esteve neste nível.
Trata-se de “uma aliança sem precedentes” que vai permitir “mudar o Médio Oriente e mudar o mundo”. Netanyahu disse que Israel conseguiu com a sua acção militar em Gaza “pôr uma faca na garganta do Hamas”, mas considerou que Donald Trump e a sua equipa foram “brilhantes” ao conseguir “isolar o Hamas no mundo árabe e muçulmano”.
Já Vance reconheceu que desarmar o Hamas (que, segundo a imprensa israelita, se terá comprometido a pôr fim à vaga de execuções de alegados colaboracionistas de Israel e membros de gangues rivais) será “uma tarefa muito difícil”.
Mais Acordos de Abraão
Mas, mantendo o tom optimista que já tinha usado na véspera, revelou que “nas últimas 24 horas” teve conversas “muito positivas” com os “amigos no Governo israelita” e também com “os amigos no mundo árabe, que estão a dar um passo à frente e a voluntariar-se para desempenhar um papel muito positivo nisto”.
Citado pelo Times of Israel, Vance também quis clarificar a relação entre os dois países: “Não queremos um Estado vassalo, e não é isso que Israel é.” Os Estados Unidos querem um parceiro, afirmou.
“O Presidente [Donald Trump] acredita que Israel, com os nossos aliados árabes do Golfo, pode desempenhar um papel de liderança muito positivo nesta região” que permita aos Estados Unidos deixarem “de se preocupar com o Médio Oriente, porque os nossos aliados na região estão a assumir o controlo e a responsabilidade pela sua área do mundo”.
O vice-presidente sublinhou que isso não significa que os Estados Unidos deixem de “ter interesses no Médio Oriente”, mas olham para este processo de paz com o Hamas como uma forma de ampliar os Acordos de Abraão (acordos de normalização de relações entre Israel e os Estados árabes).
“Este acordo com Gaza é uma peça fundamental para desbloquear os Acordos de Abraão”, e construir uma “estrutura de alianças” no Médio Oriente que perdurem, explicou Vance.