É estranho olhar para o topo da Ligue 1 francesa e não ver lá o PSG. A suposta melhor equipa da Europa não é a melhor equipa de França? Não. É o Olympique de Marselha, que vai estar nesta terça-feira em Alvalade para defrontar o Sporting (20h, SPTV5) em jogo da terceira jornada da fase Liga da Liga dos Campeões. A época ainda vai no início e esta posição cimeira pode bem ser uma coisa passageira, mas uma coisa é certa: neste momento, os marselheses jogam bem, marcam muitos golos e têm um treinador de culto, Roberto de Zerbi, a deixar a sua marca. Só na Champions, estraçalharam o Ajax (4-0) e causaram muitos problemas ao Real Madrid – os “merengues” lá ganharam por 2-1 com um penálti muito controverso.
Depois do campeão italiano Nápoles, segue-se no caminho do Sporting mais uma equipa de azul-celeste que é, neste momento, a melhor equipa do campeonato francês e que está em grande forma – vai em cinco vitórias consecutivas, entre elas os tais 4-0 ao Ajax e um 1-0 ao PSG, liderando a Ligue 1 com um ponto de vantagem sobre os parisienses. Já o Sporting não estará no momento de maior fulgor. É verdade que ganhou o seu último jogo frente ao Paços de Ferreira para a Taça de Portugal, mas só o conseguiu no prolongamento, e, antes da pausa das selecções, ia em dois jogos consecutivos sem ganhar (derrota em Nápoles, empate caseiro com o Sp. Braga).
Nestas condições, é pouco provável que Rui Borges repita o que fez em Nápoles, poupar metade da equipa titular, deixando no banco jogadores como Suárez ou Pedro Gonçalves – até porque já fez gestão no sábado passado em Paços de Ferreira. O técnico “leonino” admite que o Sporting nem sempre joga bem, mas recusa-se a falar de uma má fase. “Não entendo o porquê de falarem numa má fase. Tivemos um jogo menos conseguido com o Sp. Braga e meia parte com o Estoril, em que adormecemos um pouco. Para trás ninguém falou da má fase, dizia-se que o Sporting tinha uma capacidade ofensiva muito boa e a qualidade de jogo. Não vamos é sempre jogar bem”, reconheceu.
De Zerbi, o “marselhês”
O Olympique de Marselha não é propriamente conhecido por dar segurança laboral aos seus treinadores – desde 2015, teve 13 treinadores diferentes, incluindo homens como Marcelo Bielsa, Rudi Garcia ou até mesmo André Villas Boas. Ao 13.º, parece finalmente ter acertado com Roberto de Zerbi, um dos treinadores da moda do futebol europeu, discípulo de (e admirado por) Bielsa e Guardiola, mentor de Francesco Farioli (que foi seu adjunto). Depois de sair do Brighton em 2024, o italiano aceitou a proposta do clube que despede mais do que um treinador por ano e, quando foi apresentado, explicou a sua escolha: “Uma das razões foi para ganhar ao PSG. O PSG representa poder e eu não gosto de poder.”
Avancemos até aos primeiros meses de 2025-26, depois de ter terminado a época anterior em segundo lugar e garantido o regresso de um antigo campeão europeu (a equipa de Papin ganhou em 1993) à Champions. Depois de um início turbulento, o Marselha estabilizou e, no último fim-de-semana, assumiu a liderança – enquanto o PSG empatava (2-2) com o Estrasburgo, os marselheses goleavam o Le Havre (6-2) no Vélodrome.
Este Marselha já é um bom reflexo da filosofia de De Zerbi. Muita posse de bola, construção paciente para chamar a pressão contrária e progressão vertical rápida, e com os jogadores a terem a liberdade criativa dentro do campo. E quem pode ser considerado figura nesta equipa? Muitos. Pode ser Mason Greenwood, um proscrito do Manchester United que renasceu no Marselha (sete golos e quatro assistências), o eterno Aubameyang e os seus companheiros de ataque Timothy Weah e Igor Paixão, ou Hojbjerg e O’Reilly, os dinamarqueses do meio-campo.
Foi na Liga dos Campeões de 2022-23 que Sporting e Marselha se cruzaram por duas vezes, com vantagem total para a equipa francesa. O primeiro embate foi em Marselha, num jogo em que o Sporting começou muito bem (Trincão fez o 0-1 logo no primeiro minuto), mas uma sucessão de erros de Adán (incluindo a sua expulsão aos 23’) desequilibrou o resultado – 4-1 para a equipa da casa. Em Alvalade, a história não foi diferente: Esgaio fez penálti aos 19’, foi expulso, o Marselha chegou ao intervalo a ganhar por dois e o Sporting acabou a jogar com nove, por expulsão de “Pote”. Nenhuma das equipas seguiu em frente no grupo, com o Sporting a ficar à frente do Marselha por um ponto e a seguir para a Liga Europa.