A diretora do museu do Louvre, Laurence des Cars, reconheceu “um fracasso terrível” três dias após o grande assalto de que o museu foi alvo. “Desde que assumi o cargo, não parei de chamar a atenção das autoridades públicas para o estado de degradação e obsolescência geral do Louvre, dos seus edifícios e estruturas”, afirmou. “Estou imensamente magoada por perceber que os alertas que lancei se concretizaram de forma atroz no domingo”, confessou. 


Em silêncio desde domingo, Laurence des Cars foi ouvida pela Comissão de Cultura do Senado na tarde desta quarta-feira, três dias após o espetacular assalto ao museu mais visitado do mundo. Durante a audiência, defendeu as suas equipas, mas apontou a “obsolescência ” dos equipamentos tecnológicos. 


A pedido do presidente da Comissão, Laurent Lafon, a diretora do Louvre recordou a cronologia a partir das 9h30 locais. Após uma exposição detalhada dos acontecimentos, Laurence des Cars voltou a garantir que os alarmes do Louvre funcionaram e que o protocolo de segurança foi respeitado. 


“Os nossos agentes não estão armados, seguiram o protocolo de segurança,
alertaram a polícia e retiraram os visitantes. Graças ao seu
profissionalismo, ninguém ficou ferido”
, sublinhou.


Ausência de câmaras no exterior “é a nossa fraqueza”


No entanto, a diretora do museu reconheceu que a falta de videovigilância no exterior “não permitiu detetar com antecedência suficiente a chegada dos ladrões”. 


“Existem algumas câmaras perimetrais, mas estão envelhecidas, o
parque é muito insuficiente e, infelizmente, do lado da galeria Apolon, a
única câmara está instalada na direção oeste e não cobria a varanda
afetada pelo assalto”
, explicou aos senadores franceses. “Essa é a nossa fraqueza”, julgou. 


Ouvida pela Comissão de Cultura do Senado, Laurence des Cars garantiu que “o sistema de segurança tal como está hoje em vigor na galeria funcionou perfeitamente. O que se coloca é a questão da adaptação deste sistema a um novo tipo de ataque que não tinha sido previsto”, observou. 

 Foto: Sarah Meyssonnier – Reuters


“Vi o meu nome a ser atirado aos leões”


Laurence des Cars, a primeira mulher a assumir a liderança do Louvre, considerou este roubo como “uma imensa ferida” causada a si, aos funcionários do museu e aos franceses face aos ataques pessoais de que tem sido alvo. 


“Este roubo fere a nossa instituição na sua missão mais profunda, não se trata, de forma alguma, de me esquivar ou adotar uma
posição de negação”
, declarou. “Assumi todas as minhas responsabilidades, vi o meu nome ser atirado aos
leões, é o Louvre e os seus funcionários que estão a ser denegridos”


A antiga dirigente dos museus parisienses de Orsay e da Orangerie confirmou ter apresentado a sua demissão no domingo à ministra francesa da Cultura, Rachida Dati, que “a recusou”. 


Apelo para a instalação de uma esquadra no Louvre


Três dias após o assalto – que resultou num prejuízo estimado em 88 milhões de euros – Laurence des Cars anunciou a vontade de instalar uma esquadra da polícia dentro do museu e a ideia de “proteger as imediações do Louvre, em particular a via pública”, nomeadamente com dispositivos de distanciamento que impeçam o estacionamento de veículos em redor do museu. 


Sobre as jóias roubadas durante o assalto, Laurence des Cars disse ainda que a restauração da coroa da imperatriz Eugénie deixada para trás será “delicada, mas possível”.