Os híbridos plug-in enfrentam tempos difíceis. Descubra porque são acusados de fraude, qual o impacto da nova norma Euro 6e-bis e o que muda em Portugal.

© Pedro Contreiras / Razão Automóvel
Os híbridos plug-in estão no centro de uma tempestade perfeita. A União Europeia está a apertar as regras, os números de emissões reais não batem certo com os números oficiais e começa a ser difícil imaginar um futuro com híbridos plug-in (ou PHEV — plug-in hybrid electric vehicle).
O último «ataque» surgiu sob a forma de um estudo assinado pela Transport & Environment (T&E), que classifica esta tecnologia como “uma das maiores fraudes da história da indústria automóvel”.
Mas será que o problema dos PHEV se esgota nos próprios automóveis ou nos utilizadores que não os carregam? Foi sobre tudo isto que falámos no mais recente episódio do Auto Rádio, um podcast da Razão Automóvel com o apoio do piscapisca.pt. Vejam o vídeo:
O que está em causa?
Quando chegaram ao mercado, os híbridos plug-in apresentavam-se como a solução perfeita: autonomia elétrica suficiente para o dia a dia e um motor térmico capaz de eliminar toda e qualquer ansiedade nas viagens longas. Em teoria, o melhor dos dois mundos.
Mas na prática, em muitos casos, não foi bem assim. O problema? Muitos condutores raramente carregam as baterias e acabam por usar maioritariamente o motor de combustão, o que resulta em consumos e emissões muito superiores aos valores homologados.
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Algo que acaba por ser acentuado pelo simples facto de os automóveis híbridos plug-in serem significativamente mais pesados do que os seus equivalentes puramente a combustão.
Segundo o mais recente estudo da organização não governamental Transport & Environment, com base em dados da European Environment Agency (EEA) de 2023, a diferença de emissões entre estes dois tipos de modelos pode ser, na verdade, bem mais pequena do que os números oficiais nos dizem.
“Os híbridos plug-in emitem em média 135 g/km de dióxido carbono (CO2), enquanto os carros a gasolina e Diesel emitem 166 g/km. Uma diferença de apenas 19%”, pode ler-se no estudo da Transport & Environment.
Euro 6e-bis pode mudar tudo
Esta discussão não é nova. Já em finais de 2024 a Comissão Europeia tinha publicado um relatório que chegava a conclusões muito semelhantes às do estudo da Transport & Environment .
E por isso mesmo, a União Europeia vai apertar mais o cerco aos híbridos plug-in, com a entrada em vigor da norma Euro 6e-bis, que vai mudar a forma como as emissões destes veículos são calculadas.

A distância dos testes de homologação passa de 800 km para 2200 km e o fator de utilização elétrica passa a ter menos peso no cálculo das emissões. De uma forma muito resumida: os novos testes vão aproximar-se mais da forma como os híbridos plug-in são usados no dia a dia.
O resultado desta alteração, que afetará todos os carros novos a partir de janeiro de 2026, serão valores oficiais de emissões de CO₂ bastante mais elevados, o que já fez soar os alarmes da indústria automóvel europeia.
Para contrariar este revés e para garantir que os híbridos plug-in continuem a ser solução para cumprir as metas de emissões da UE, os construtores optaram por incrementar de forma substancial (em muitos casos para o dobro) a capacidade das baterias dos seus PHEV. Uma das consequências é que agora muitos conseguem fazer mais de 100 km de autonomia em modo elétrico.
Mas o que parece à primeira vista ser um argumento de peso, pode tornar-se um problema: se os condutores não os carregarem, ter uma bateria de maior capacidade só irá traduzir-se ainda em maiores consumos e emissões.
Portugal em contraciclo
Enquanto a Europa aperta o cerco aos híbridos plug-in, Portugal continua a estender-lhes a mão. Atualmente, os híbridos plug-in beneficiam de 75% de redução no ISV se tiverem pelo menos 50 km de autonomia elétrica e emissões de CO₂ inferiores a 50 g/km.
Mas a partir de 2026 (já está previsto no próximo Orçamento do Estado), o Governo vai alargar o limite de emissões para 80 g/km, permitindo que mais modelos continuem a usufruir desse benefício fiscal.
Na prática, isto significa que, mesmo com regras europeias mais duras, os PHEV vão continuar a ter um tratamento fiscal distinto em Portugal. Segundo a ACAP, se nada fosse feito, o agravamento fiscal no ISV poderia ultrapassar os 100 milhões de euros anuais.
E se olharmos para a realidade nacional, isto são boas notícias. É que as vendas dos PHEV continuam de vento em popa. Até setembro foram vendidos 24 924 híbridos plug-in em Portugal, o que representa um crescimento de 21,1% face ao mesmo período do ano passado.
Contas feitas…
Que as emissões oficiais dos híbridos plug-in são inferiores às registadas no chamado mundo real, ninguém parece ter dúvidas, afinal são muitos os estudos e os relatórios que o defendem. Será que esta morte anunciada dos PHEV faz sentido?
Claro que não. Neste caso, como em tantos outros, faz pouco sentido cair em absolutismos. Os PHEV são um excelente compromisso para quem não quer (ou não pode) ter um 100% elétrico. E quando usados corretamente, permitem recorrer muito poucas vezes ao motor de combustão interna e representam uma poupança real no que aos custos de utilização diz respeito. Mas claro, carregá-los é fundamental.
Encontro marcado no Auto Rádio para a próxima semana
Não faltam por isso motivos de interesse para ver/ouvir o mais recente episódio do Auto Rádio, que está de volta na próxima semana nas plataformas habituais: YouTube, Apple Podcasts e Spotify.