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Após as eleições autárquicas, começam a ser agendados os primeiros atos de instalação das Assembleias de Freguesia. No concelho de Aveiro, apenas seis das dez freguesias alcançaram maioria absoluta. Nas restantes quatro -Glória e Vera Cruz, Esgueira, Aradas e Eixo e Eirol – os futuros presidentes enfrentam agora o desafio de negociar com os outros partidos a aprovação dos respetivos executivos logo na primeira reunião da Assembleia. A 12 de outubro, a coligação ‘Aliança com Aveiro’ (PSD/CDS-PP/PPM) venceu nove das dez freguesias, falhando apenas a União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, onde o PS conquistou a presidência, com Bruno Ferreira, atual membro do executivo da Aliança, agora eleito presidente da Junta, como já noticiado pela Ria. Recorde-se que, na primeira reunião da Assembleia de Freguesia, cabe ao presidente recém-eleito apresentar a proposta de vogais para o executivo, que só tomará posse se for aprovada pelos restantes eleitos. No caso de Eixo e Eirol, a ‘Aliança com Aveiro’ venceu esta Junta de Freguesia com 1.316 votos (42,89%), baixando 1,13% em relação ao resultado de 2021 (44,02%). Esta descida, acrescida à entrada do Chega (que anteriormente não tinha concorrido a esta junta), fez com que a ‘Aliança’ perdesse a maioria, alcançando seis mandatos. Já o Partido Socialista (PS) alcançou seis mandatos e o Chega um mandato. Contactada pela Ria, Sara Rocha, atual presidente de Junta e reeleita novamente para o cargo pela ‘Aliança’, mostrou-se confiante quanto à aprovação do executivo na primeira Assembleia de Freguesia que decorrerá já esta sexta-feira, 24 de outubro, pelas 21h00. “Eu acho que todos nós, pelo menos, falo pela ‘Aliança’ e pelo PS, queremos o melhor para a nossa terra”, exprimiu. No seguimento, adiantou à Ria que já conversou com o João Morgado, candidato do PS a esta Junta de Freguesia, sobre a proposta de executivo que procurará aprovar esta sexta-feira. “Ele ficou de me dar um ok. (…) Acredito na maturidade democrática e como eles perderam eu acho que faz todo o sentido eles aprovarem o nosso executivo. (…) Acredito nas pessoas e, principalmente, que querem o melhor para a nossa freguesia. (…) Como tal, acredito que o PS vai apoiar a minha lista”, vincou. Relativamente ao mandato do Chega, Sara Rocha disse ainda que não acredita que esta força política “crie um bloqueio”. “Não o vejo como tal, porque acho que também vai pensar na freguesia”, afirmou. “Eu acho que aqui temos de defender a nossa freguesia. Não é só a questão da cor partidária…”, exprimiu. No caso de Esgueira, a ‘Aliança com Aveiro’ venceu esta Junta de Freguesia com 35,33%, ainda que por uma margem muito reduzida: 12 votos. No que toca ao número de mandatos na Assembleia de Freguesia, a ‘Aliança’ alcançou seis, o PS cinco e o Chega dois. Tal como a de Eixo e Eirol, a instalação da Assembleia de Freguesia ocorrerá já esta sexta-feira, 24 de outubro, pelas 21h00. Em relação a este momento, Rui Cordeiro, eleito presidente de Junta pela coligação ‘Aliança com Aveiro’, mostrou-se também confiante de que a sessão possa decorrer “normalmente”, ainda que tenha admitido à Ria que o executivo não está fechado e que se encontra, neste momento, “em negociações com os restantes partidos”. “Só tem de estar fechado no dia da instalação”, atentou. “Obviamente um executivo uniforme é mais fácil do que gerir um executivo partilhado, mas, neste momento, não vou dizer o que vai acontecer porque ainda não está fechado”, afirmou, deixando tudo em aberto. No caso da União de Freguesias de Glória e Vera Cruz, o PS venceu esta junta, ao contrário de 2021, com 3.710 votos (37,46%). Em relação à ‘Aliança com Aveiro’ obteve mais 429 votos. O resultado garantiu ao PS a vitória ainda que não tenha alcançado maioria absoluta. Em relação ao número de mandatos, o PS conquistou seis, a ‘Aliança’ cinco, a Iniciativa Liberal (IL) um e o Chega um. De salientar que, nas últimas eleições autárquicas, tanto o Chega como a Iniciativa Liberal não haviam obtido qualquer mandato. Em entrevista à Ria, Bruno Ferreira, atual tesoureiro e agora eleito presidente de Junta pelo PS, garantiu que as conversações sobre o futuro executivo “estão finalizadas”. “Foi muito fácil”, insistiu. “Por uma questão de cortesia conversei com a AD [Aliança com Aveiro] e o partido pôs determinadas condições que foram acordadas e estão aceites. A IL propôs uma situação que a nós não nos agradou muito, quase uma imposição, e nós não aceitamos. (…) Aliás, já lhes informei disso mesmo. (…) Do Chega está em cima da mesa não um acordo, mas uma conversa”, partilhou. Contactada pela Ria, Glória Leite, candidata da ‘Aliança’ a esta Junta, confirmou o acordo com o PS, salientando que a coligação ajudará a “viabilizar” o executivo e que no seu caso ficará com o cargo de “presidente da Assembleia de Freguesia”. A cabeça de lista adiantou também que Bruno Ferreira lhe chegou a propor um lugar no executivo, mas que acabou por “recusar” por não concordar com a opção. Neste caso, a instalação da Assembleia de Freguesia ocorrerá na próxima quarta-feira, 29 de outubro, pelas 21h00. No caso de Aradas, a ‘Aliança com Aveiro’ venceu esta junta de freguesia com 1.548 votos (34,76%), menos 11,52% do que em 2021 (46,28%). No que toca ao número de mandatos, a ‘Aliança’ alcançou seis, o movimento independente ‘Sentir Aradas’ três, o PS três e o Chega um mandato. Tal como Eixo e Eirol e Esgueira, a instalação da Assembleia de Freguesia decorrerá também esta sexta-feira, pelas 21h00. Em entrevista à Ria, Catarina Barreto, reeleita presidente de Junta nestas eleições, não se alongou muito quanto ao assunto, referindo apenas que “estamos em conversações”. Sobre a aprovação do executivo, a presidente de Junta referiu ainda estar com a “serenidade necessária para conduzir o ato de instalação e ser o que resultar da vontade dos eleitos”. Recorde-se que, segundo informações recebidas pela Ria, logo após a contagem dos votos, Catarina Barreto abordou diretamente Gilberto Ferreira, líder do movimento independente ‘Sentir Aradas’, com o objetivo de marcar uma reunião entre ambos. Os contactos entre Catarina e a oposição intensificaram-se nos últimos dias e está prevista uma reunião decisiva para hoje. A Ria sabe que este assunto está a ser tratado de forma diferente por partes dos partidos da oposição. No entendimento destes, tendo em conta todas as polémicas que surgiram ao longo deste mandato relacionadas com a Junta de Freguesia de Aradas e a sua presidente, só uma negociação com cedências claras por parte de Catarina Barreto poderá levar a oposição a aprovar a proposta para criação do executivo. Caso a situação não evolua para um entendimento, poderá colocar-se o cenário de eleições intercalares nesta freguesia. Confrontada com esta realidade, a autarca garantiu que esse cenário “não a preocupa nada”. “A minha disponibilidade é para aceitar o que for deliberado. Tenho um mandato, já governei duas vezes com maioria absoluta, e, portanto, tenho maturidade política suficiente para aceitar este resultado e aceitá-lo de forma democrática e depois em função do desenrolar ir acompanhando e tomando decisões. Cada facto implica uma nova decisão… Portanto, não vou dizer que estou preocupada com eleições e se vou proceder à eleição do executivo ou não. Eu estou eleita e tenho um executivo em gestão. Sexta-feira os eleitos serão chamados a pronunciar-se e certamente poderão ou não eleger e poderá ou não repetir-se o ato de eleição do executivo”, afirmou. No seguimento, recordou o caso do Município de Águeda em que a “Assembleia [de Freguesia] reuniu 21 vezes até ir para eleições intercalares”. “As situações nunca são lineares. No caso de Aradas, em concreto, há dois partidos e um movimento de cidadãos para conversar e, portanto, segue uma conjuntura de soluções que se podem construir querendo o bem da freguesia”, afirmou. “A Aliança está disponível para negociar, para conversar e aceitou o resultado com humildade democrática e tem maturidade para isso. Portanto, estamos abertos a conversações e é o que estamos a fazer”, rematou. A Ria sabe que há outra dúvida que corre nos bastidores da política em Aradas e que poderá ser decisiva neste desfecho: o facto de Catarina Barreto tomar posse na próxima sexta-feira para um terceiro e último mandato como presidente da Junta de Freguesia de Aradas. Ora, no entendimento da oposição, não é garantido que Catarina Barreto se possa recandidatar num cenário de eleições intercalares, por ter atingido o limite legal de “três mandatos consecutivos”. No site da Comissão Nacional de Eleições (CNE), nas “perguntas frequentes” sobre “limitação de mandatos” há uma que salta à vista: “Não cheguei a completar o 3º mandato consecutivo. Posso candidatar-me na eleição seguinte ao mesmo órgão? No entender da CNE não, pois não é necessário que os mandatos sejam integralmente cumpridos por parte dos presidentes de câmara ou de junta”. Falta perceber se o entendimento do CNE seria ou não acompanhado pelas autoridades competentes, no caso de realização de eleições intercalares. Mas, para já, uma coisa é certa: nesta freguesia a aprovação do executivo poderá ser uma tarefa mais complicada para a coligação ‘Aliança com Aveiro’.