As apresentações de resultados trimestrais da Tesla tornaram-se eventos mediáticos, frequentemente marcados por frases inesperadas ou anúncios visionários do líder da empresa. Desta feita, o foco recaiu sobre a justificação dada por Elon Musk para o plano de remuneração proposto em Setembro pelo conselho de administração. De acordo com a proposta, se Musk atingir uma série de metas ambiciosas ao longo da próxima década, poderá receber acções da Tesla no valor próximo de um bilião de dólares — o que, ao câmbio actual, equivale a cerca de 860 mil milhões de euros.
A proposta gerou controvérsia imediatamente. Grupos de accionistas, sindicatos e organizações de promoção da ética no mundo empresarial lançaram uma campanha intitulada “Take Back Tesla” (“recuperar” ou “reaver a Tesla”, em inglês), com o objectivo de travar a aprovação do plano. Algumas firmas consultoras, como a Glass Lewis e a ISS, já recomendaram aos accionistas que rejeitem o pacote, alegando que poderia enfraquecer os direitos dos accionistas existentes.
O “exército” Optimus
Durante uma conversa com analistas esta quarta-feira, Musk insistiu que, para ele, o objectivo do pacote não é o dinheiro, mas o controlo da estrutura accionista da empresa e dos seus produtos, nomeadamente os robôs Optimus. Citado por meios como o site Mashable e a revista Wired, afirmou que sua “preocupação fundamental” é se, ao construir um “enorme exército de robôs” Optimus, ele poderia ser “retirado” da liderança da Tesla no futuro: “Se construirmos esse exército de robôs, terei pelo menos uma forte influência sobre ele? Não “controlo”, mas uma “forte influência”… não me sinto confortável em liderar esse projecto sem essa garantia.”
Este tipo de formulação (exército, influência, controlo) levanta questões. Até agora, a Tesla tratava o projecto Optimus como um robô humanóide com aplicação em tarefas de logística ou ajuda doméstica — em nenhum momento como componente de um sistema de comando autónomo. A mudança de discurso de Musk sugere que ele vê um papel mais ambicioso e complexo para o Optimus, que deverá chegar à sua terceira versão brevemente.
Metas ambiciosas
Para que Musk aceda ao desejado bónus, está condicionado ao cumprimento de 12 marcos de desempenho que envolvem desde metas de capitalização de mercado até objectivos operacionais ligados ao lançamento de robôs humanóides e de uma frota de robotáxis. Por exemplo, um objectivo citado no plano exige que a Tesla alcance uma valorização de 8,5 biliões de dólares até 2035, além da produção anual de centenas de milhões de unidades de robôs e do lançamento de veículos autónomos em larga escala.
Durante a exposição dos resultados aos analistas, Musk fez declarações ambiciosas sobre o que espera que o Optimus venha a fazer. Sugeriu que o robô poderá ser “um cirurgião incrível” e até uma máquina geradora de lucros constantes. No entanto, até agora, as demonstrações do Optimus incluíram façanhas como movimentos de kung-fu, servir pipocas ou manipular objectos simples — ainda longe de feitos médicos altamente especializados. Musk afirmou que a terceira versão do robô deverá ser revelada no início de 2026 e que a produção poderá atingir um milhão de unidades por ano.