
A volatilidade apoderou-se do mercado dos metais preciosos após meses de grandes ganhos. Irão os investidores abandonar o barco?
Os investidores em matérias-primas têm navegado uma onda de lucros em 2025, com o ouro e a prata num trajeto rentável para quem procura proteger as suas carteiras de investimento.
Em primeiro lugar está o ouro, cujo preço registou nos últimos 12 meses uma subida de cerca de 56% e uma valorização de 60% no acumulado do ano, medido pelo índice de referência SPDR Gold Shares (GLD).
A prata disparou ainda mais, tendo registado uma subida de 62,6% ao longo do último ano e 78,4% no acumulado anual, medida pelo índice de referência iShares Silver Trust (SLV).
Contudo, na última semana, ambos os metais preciosos registaram uma inversão de tendência, com o ouro a perder 2% e a prata a cair 5%.
Esta tendência manteve-se: na tarde de terça-feira, o GLD estava a cair 6% no dia, enquanto o SLV registava uma descida de 7,9%, à medida que os investidores reajustaram as suas posições em metais preciosos.
Nos preços de referência da AORP, o ouro estava em 123,165 €/grama na terça-feira (21), tendo descido para 118.202 na quarta, e estando esta quinta-feira nos 117,533 €/grama. A prata, que atingiu os 1.587,78 €/kg na segunda-feira, registou quedas sucessivas nos dias seguintes, estando hoje a 1.460,91 €/kg.
“A tendência ascendente do ouro e da prata parece ter perdido fôlego no início da semana”, afirmou Daniela Sabin Hathorn, analista sénior de mercados da Capital.com, citada pelo Quartz.
“A operação tinha-se tornado bastante saturada e estava a aquecer demasiado, considerando os níveis em que ambos os mercados se encontravam, pelo que uma inversão não é totalmente inesperada”
Mas investidores em matérias-primas não devem entrar em pânico devido aos problemas de curto prazo do ouro e da prata, considera Sabin Hathorn. Pelo menos, ainda não. Há três razões para a queda recente do preço dos dois metais, explica a analista.
“Tanto o ouro como a prata estavam prontos para uma correção, pelo que é provável que haja alguma realização de lucros, o que aprofundou a reação”, observa Hathorn.
“Os fundamentos não mudaram, com o apoio a longo prazo ainda presente. No entanto, a força do rally durante o último mês foi de certa forma injustificada, levando à possibilidade de uma correção mais profunda na sequência destas notícias sobre desenvolvimentos comerciais positivos.”
Esta não é a única razão pela qual os preços do ouro e da prata inverteram na última semana, segundo os mercados de matérias-primas, sendo estes três fatores particularmente responsáveis pela descida dos preços.
Uma surpresa de Xangai em jogo
Uma das razões pelas quais os preços do ouro e da prata estão a inverter prende-se com o facto de os requisitos de margem na Bolsa de Xangai terem sido aumentados na semana passada, o que forçou a uma venda massiva que se propagou da Ásia para o resto do mundo.
“A acentuação das correções que estamos a observar é um indicador de que parte da atual galopada foi impulsionada por especulação“, afirma Brett Elliott, diretor de marketing da American Precious Metals Exchange (APMEX).
O mercado dos metais está a apertar
Outra causa subjacente à subida do preço da prata é a escassez na oferta física, que ainda não foi aliviada e que poderá estar a abalar a confiança dos investidores.
“Uma venda acentuada à medida que mãos mais fracas e especuladores são expulsos do mercado não seria surpreendente, mas não tenho a certeza de que isso travaria uma nova escalada, impulsionada por uma escassez física“, observa Elliott. “O que é certo é que não travou o preço da platina“.
Também a tensão geopolítica entre os EUA e a China está a pesar contra os principais mercados de metais. Uma das razões pelas quais os preços do ouro subiram, em primeiro lugar, foram as preocupações sobre as relações entre os EUA e a China.
“Isso é especificamente o caso, dada a especulação de que a China poderá estar a transferir recursos das Obrigações do Tesouro dos EUA para o ouro como seu principal refúgio seguro”, afirma Wyatt McDonald, presidente da Coinfully, um mercado de serviços para colecionadores de moedas. “Isso levou a uma queda esperada nas taxas de juro, juntamente com um potencial declínio do dólar“.
Os metais preciosos e outros mercados movem-se e reagem principalmente com base no que os investidores pensam que vai acontecer, e não no que já aconteceu, afirma McDonald. “Quando surgem novas informações que colocam essas expectativas em causa, os preços ajustam-se“.
“O ouro tornou-se uma operação popular recentemente, e isso é evidente na subida de preços que vimos até agora. Neste tipo de ambiente, não é preciso muito para assustar os investidores e motivá-los a realizar alguns lucros. É muito provavelmente o que estamos a ver neste momento”, conclui.
Avalie o seu risco face à volatilidade
Se o atual aumento da volatilidade dos mercados do ouro e da prata for excessivamente preocupante, é altura de fazer uma avaliação clara da sua exposição aos metais preciosos.
“Dada a subida e a incerteza na economia global neste momento, é provável que os metais se mantenham voláteis”, explica McDonald.
“Se não se sente confortável com essa volatilidade, então talvez deva reconsiderar uma alocação elevada”, adverte McDonald. “Se não se importa com a volatilidade, e tem uma forte convicção de que continuarão a aumentar ao longo do tempo, então a história é diferente“.