Depois de uma passagem pela Porsche mais difícil do que inicialmente esperado, António Félix da Costa começa agora uma nova fase da sua carreira com a Jaguar. E, questionado pelo AutoSport / E-Auto sobre a sua abordagem a este novo desafio, AFC mostrou otimismo.

Recuemos alguns meses, até ao arranque da época 11 da Fórmula E. O que parecia mais um ano com boas perspetivas depressa se transformou num exercício muito exigente, com ambiente interno crispado. A relação entre Pascal Wehrlein e Félix da Costa azedou até ao ponto de não retorno. E a partir daí o ambiente na equipa tornou-se insustentável, um dos principais motivos para a saída do português.

A história que não quer ver repetida

Aquando da passagem da Porsche Cup Brasil pelo Estoril, onde Félix da Costa participou, o piloto de Cascais explicou ao AutoSport / E-Auto o que aconteceu para a sua passagem na Porsche não ter corrido como certamente desejaria:

“Quando me empregaram, contrataram um piloto que já tinha sido campeão. Esperavam um certo nível de performance que não conseguimos atingir logo. E, ao mesmo tempo, o meu colega de equipa estava muito forte. Acho que, inconscientemente, criou-se dentro da equipa uma ideia de que eu era o número dois. E quando finalmente consegui dar a volta às coisas, nunca me consegui desvincular dessa posição.”

Mesmo nas fases em que venceu corridas, sentiu-se sempre na sombra. “O problema foi que, apesar de ganhar corridas, o meu colega acabou por ser campeão. Rapidamente se esqueceu o que eu tinha feito. Muitas vezes ganhava quase só para roubar pontos aos outros. Estive sempre um bocadinho na sombra. E parte da culpa também é minha, por não ter entrado logo a bater o pé.”


Nova equipa, nova postura

Numa conferência de imprensa de apresentação da época, o AutoSport / E-Auto quesitonou se o agora piloto da Jaguar iria usar uma abordagem diferente para evitar o que aconteceu precisamente na Porsche:

“Eu sou uma pessoa fácil de se trabalhar e às vezes, neste mundo, confunde-se simpatia com fraqueza” começou por dizer AFC. “Acho que foi isso que aconteceu comigo na Porsche. A verdade é que a minha entrada na Porsche ficou aquém das expetativas. O meu colega de equipa estava a ganhar corridas e depois, com a minha simpatia, fui eu que me disponibilizei para ajudar o Pascoal a ser campeão no primeiro ano, o que não conseguimos. Acho que essa simpatia e disponibilidade foram vistas como fraqueza.

Foi uma conversa que tive com a Jaguar, porque uma pessoa não muda como é na sua essência. Eu não quero chegar aqui e ser uma má pessoa, não quero fazer coisas de forma que já não vou dormir bem à noite. Por isso, tive uma conversa muito aberta”.


AFC quer estar confortável para ser como é

Félix da Costa explicou de forma muito simples o que pediu à Jaguar para que esta passagem possa ser proveitosa para as duas partes:

“Pedi-lhes que quero muito chegar a um ponto em que estou confortável para ajudar. Se eu estiver ali nos três, quatro primeiros numa corrida, com o Mitch [Evans, colega de equipa] ali por perto e eu sentir que não tenho ou andamento, ou energia para ganhar uma corrida, quero estar confortável ao ponto de abrir a porta ao meu colega para ele ter um bom resultado, sem correr o risco de essa postura ser mal interpretada. Quero ter a confiança que quando os papeis se inverterem vai acontecer o mesmo da outra parte. Mas por favor, não confundam a minha simpatia com fraqueza, pois correu mal nos últimos três anos”.


“Aqui é outra onda”

A Jaguar pareceu entender a posição do português, que sente na sua nova equipa um ambiente mais favorável e agradável:

“Da parte da Jaguar senti que entenderam a minha posição. Aqui é outra onda. É tudo diferente, para melhor. Claro que, tecnicamente, a Porsche era uma equipa fortíssima, fazia muitas coisas bem e sabemos que temos que melhorar algumas coisas para continuar a elevar o nosso nível como equipa.

Há coisas em que a Porsche é melhor, outras em que a Jaguar é melhor. Por isso, espero que a minha entrada não seja só valiosa por aquilo que faço em pista, mas também pela experiência que possa trazer. Mas tenho vivido um ambiente de trabalho muito mais agradável para mim.

Eu não quero tratamento especial, nada disso. Vamos ter dias maus, isso é garantido, toda a gente os tem na Fórmula E. Mas tenho a certeza que a abordagem aos dias maus vai ser feita de uma forma muito mais humana e não tão robótica. Por isso não estou preocupado e sei que vai tudo correr melhor”.

Relação com Mitch Evans e confiança no futuro

António Félix da Costa acredita que a parceria com Mitch Evans será positiva e baseada em respeito e competitividade saudável. Os dois pilotos têm uma relação pessoal fora das pistas, mas AFC não está preocupado de que isso pode ter qualquer influência negativa:

“Tivemos uma conversa antes de eu assinar. Disse-lhe: ‘Estás pronto para isto?’ e ele respondeu que sim. Queremos ambos ganhar, mas com respeito. Não vejo qualquer problema, pelo contrário — facilita o trabalho.”

Sobre a época que se aproxima, o piloto português reconhece o elevado nível competitivo da Fórmula E:

“Vai ser ainda mais difícil. Todas as equipas estão muito fortes, e estamos no quarto ano desta geração técnica. Por isso, cada detalhe conta — desde o trabalho de casa até à execução em pista. Estou motivado e confiante de que podemos lutar desde São Paulo.”