Carlos Tavares, ex-CEO da Stellantis, diz que as operações europeias e norte-americanas do grupo poderão seguir caminhos separados.
Passaram 10 meses desde que Carlos Tavares, antigo diretor-executivo da Stellantis, deixou a liderança do grupo. Mas o executivo não parou. Acabou de lançar um livro em França — “Un Pilote Au Coeur De La Tempête” —, onde traça alguns cenários para o futuro do gigante que criou.
Segundo Tavares, as operações francesas, italianas e americanas do grupo podem ter de seguir caminhos distintos caso marcas como a Jeep e a FIAT não consigam resistir às pressões dos acionistas nos seus mercados domésticos.
“Estou preocupado com a quebra do equilíbrio entre Itália, França e EUA”, lê-se. Para o antigo líder, a sobrevivência do grupo como empresa independente depende da atenção dada pela administração à unidade, que está sujeita a manipulações em múltiplas frentes.

Carlos Tavares admitiu que uma divisão das operações europeias e norte-americanas da Stellantis é possível no futuro. “Um cenário possível, e há muitos outros, seria um dia um fabricante chinês fazer uma oferta pelas operações na Europa, com os americanos a retomarem as operações na América do Norte”, disse.
Recorde-se que o executivo português foi o responsável pela fusão entre a PSA e a FCA, que deu origem à Stellantis. Atualmente, o grupo reúne 14 marcas: Peugeot, FIAT, Citroën, Jeep, Opel, Alfa Romeo, Maserati, Lancia, DS Automobiles, Abarth, Vauxhall, Ram, Dodge, Chrysler. Ou 15, se contarmos com a chinesa Leapmotor, da qual a Stellantis detém 20%.
Saída da Stellantis ainda em discussão
A 1 de dezembro de 2024, Tavares demitiu-se da presidência do grupo, antes do fim do seu mandato, após divergências com os principais acionistas.
“O sucesso da Stellantis desde a sua criação baseou-se numa perfeita sintonia entre os acionistas de referência, o Conselho e o diretor-executivo (Carlos Tavares). Contudo, nas últimas semanas, surgiram divergências que levaram à decisão”, explicou na altura Henri de Castries, diretor independente da Stellantis.
Entre os pontos de discórdia estaria a situação do grupo nos EUA, afetado por quebras de vendas e receitas, embora esta hipótese tenha sido posteriormente descartada pelo conselho.
No novo livro, Tavares contestou a descrição de eventos que levaram à sua saída da empresa. Os representantes da Stellantis recusaram-se a comentar.
Defender os interesses europeus
Com a liderança de Antonio Filosa, desde junho passado, vários investimentos na Europa foram cancelados, reorientando 13 mil milhões de euros para investir nos EUA. A decisão suscitou preocupações entre sindicatos franceses e italianos.
“Com a minha saída, não tenho a certeza se os interesses franceses que sempre tive em mente, serão tão bem defendidos”, escreveu Tavares.
Recentemente, a Stellantis encerrou temporariamente várias unidades europeias por operarem abaixo da capacidade. Segundo Filosa, a produção local só deverá recuperar com regras de emissões mais flexíveis por parte da União Europeia (UE).
Sabe esta resposta?
Qual foi o primeiro modelo da Leapmotor a chegar à Europa?