Gostava de ver como ela se chamava. Às tantas o senhor chama-nos assim: “Senhor general, você está a olhar para a viatura numa perspectiva errada.” Eu disse: “Sim, senhor.” “Você tem de vir comigo para dentro da viatura.” Eu fui para dentro da viatura e ele diz-me assim: “Você já sabe, é que 70% do preço desta viatura está aqui dentro.” Portanto, toda a digitalização e o ferro eram mais o sistema digital que estava dentro da viatura: sensores situacionais, controlo de tiro. Isto para dizer que os fundamentos podem não variar muito, mas a tecnologia vai ser enorme.
Nós sabemos que os ciclos de evolução dos nossos equipamentos e sistemas de armas vão ser muito mais curtos. Isto é hoje. Nós chegámos a ter ciclos de 40 anos; depois passou para 20. Na Pandur já estamos em 10, e as próximas viaturas, se calhar, vão ter ciclos de dois ou três anos — vão ter de estar constantemente atualizadas.
Ora, isto é uma novidade para o Exército, mas não é uma novidade para a Força Aérea, por exemplo. Os sistemas estão em constante atualização e isto vai ser uma realidade com que o Exército terá de viver: as atualizações constantes dos seus sistemas de armas.
Quando falo de atualizar o carro de combate, sei que o carro de combate vai atingir o limite da sua evolução até 2040 e que a sua evolução vai ser sobretudo na sua digitalização. Já nos inscrevemos no consórcio internacional que está a desenvolver a viatura que vai substituir o carro de combate.
Trabalhamos com a Força Aérea: a Força Aérea já sabia quando o F-16 ia acabar e quando teria de ter uma nova plataforma. O Exército é exatamente igual; não tem nenhuma diferença. Mas nós não estávamos habituados a isto — nós, sociedade e Exército, não estávamos habituados. Mas vai ser assim. São os novos tempos.
Portanto, quando falamos de 2045 estamos a falar em termos de estrutura de forças; estamos a falar em termos de estrutura de sistemas de armas e equipamentos complexos que vão evoluir ao longo destes anos.
Qual vai ser a base principal desse Exército em 2045, em termos de meios e carros de combate? Quantos? Como é que vai ser?
Esta força responde àquilo que são os requisitos da NATO. Nós vamos ter que, a partir do sistema de forças, que também terá de ser revisto depois da revisão do Conceito Estratégico de Defesa Nacional e da afirmação do Conceito Estratégico Militar, gerar duas brigadas: uma brigada média, que terá equipamentos e meios da atual Brigada de Intervenção, e uma brigada pesada, que terá quatro unidades de escalão batalhão e todas as suas valências de proteção, fogos e sustentação.
E em termos de meios, tem ideia de quantos carros?
Cada uma destas brigadas terá cerca de 100 viaturas base, cerca de 400 viaturas no total.
É disto que estamos a falar. Mas o grande desafio que nós temos é que vamos ter de duplicar a artilharia antiaérea, duplicar as unidades de apoio logístico e de campanha, incluindo o apoio sanitário.
Essas unidades ainda não existem — terão de ser criadas de novo. É um desafio enorme para o Exército, que obrigará a rever o seu efetivo estrutural. Vamos ter mais gente.
Precisarão de mais quantas pessoas? Qual será o quadro mínimo?
Entre mais 2 000 e 2 500 militares no efetivo estrutural.
No total?
Teremos de ir para 22 500 a 23 000 efetivos estruturais, e atualmente somos cerca de 20 mil. Portanto, teremos de crescer em média mil efetivos por ano.
E com militares altamente qualificados. Todos eles altamente profissionais e qualificados. Tecnológicos e tudo. Mas isto, também na perspetiva do país, é importante: o Exército é um instrumento fundamental para qualificar os seus cidadãos e fazê-los evoluir.
O que é que o faz acreditar que daqui a 20 anos ainda vamos precisar de “botas no chão” para defender o país?
Tenho visto a história — a história toda — e a evolução do combate. Ainda não vi quem inventasse a capacidade de conquistar e manter a posse do terreno. Ainda não vi nenhum Estado prescindir do seu território e das suas fronteiras.