A Administração Trump revelou esta semana um plano para permitir a extracção de petróleo e gás natural na maior reserva natural norte-americana, o Refúgio Natural de Vida Selvagem do Árctico, incluindo a abertura de uma estrada numa zona intocada da planície costeira do sudoeste do Alasca.
O Departamento do Interior anunciou, em comunicado divulgado quinta-feira, que vai reabrir esta planície costeira de 697 mil hectares no Árctico, junto ao Mar de Beaufort, à exploração de combustíveis. Isto já tinha sido feito na primeira Administração Trump, embora o Presidente Joe Biden tenha revertido a decisão. Nos seus últimos dias na Casa Branca, travou também vários projectos de extracção offshore, incluindo no Alasca.
O secretário do Interior, Doug Burgum, anunciou a emissão de licenças de direito de passagem para permite a construção de estradas. Uma pretende servir uma pequena povoação costeira, atravessando uma outra reserva natural, desta vez a de Izembek, salienta o Washington Post. A outra, a estrada de Ambler, permitirá a construção de novas minas – um projecto de grande envergadura financeira, a que se opuseram 88 tribos nativas do Alasca e Primeiras Nações, salienta a organização Earth Justice.
“Estas acções reduzem barreiras de regulação, apoiam comunidades locais e reforçam o papel do Alasca na segurança energética nacional e crescimento económico”, diz o comunicado do Departamento do Interior dos EUA.
Povos originários contra e a favor
No entanto, as terras do Refúgio do Árctico são sagradas para a Nação Gwich’in, que se opõem à exploração de petróleo e gás ali, argumentando que dependem do rebanho de renas que ali vive e que seriam prejudicados com a chegada da indústria a uma zona até agora intocada.
Mas outros povos originários do Alasca, que vivem dentro do Refúgio do Árctico, estão a favor da exploração de combustíveis fósseis, como a comunidade Iñupiaq de Kaktovik, salienta a Associated Press.
Os direitos de exploração de combustíveis fósseis vão ser devolvidos à Autoridade de Desenvolvimento Industrial e Exportação do Alasca, uma agência estadual que esteve entre os poucos licitadores num leilão de direitos de perfuração na zona realizado nos últimos dias da primeira passagem de Trump pela Casa Branca. Desse leilão não resultou nada, por falta de licitadores.
Irá tudo isto avançar? “Será preciso pelo menos o tempo todo que dura um mandato na Casa Branca para o Departamento do Interior cumprir tudo o que Trump ordenou nos seus decretos presidenciais”, afirmou Aaron Weiss, vice-director do grupo de defesa do ambiente Centro para as Prioridades do Oeste, citado pela Associated Press. Já em Março, extensas áreas do Alasca tinham sido abertas pela Administração Trump à exploração de combustíveis fósseis.
E mesmo assim, frisou, precisará de ter a ciência do seu lado: “E sabemos que a ciência não suporta a exploração infinita de combustíveis fósseis”, salientou Aaron Weiss, referindo-se às consequências do aquecimento global no Árctico e nas comunidades do Alasca, que já se fazem sentir.