Apesar de ter acontecido há cerca de 66 milhões de anos, o processo de extinção dos dinossauros continua a suscitar muito debate na comunidade científica. Muitos paleontólogos acreditam que se tratou de um processo gradual, e que as diferentes espécies já se encontravam perto da extinção mesmo antes da chegada do meteorito que os apagou da face da Terraa par de 80% de todas as espécies. Contudo, um novo estudo publicado esta semana na revista Science sugere uma versão contrária.

Um grupo de investigadores da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos da América, chegou à conclusão que a população de dinossauros na região sul do país — ao contrário do que muitos colegas acreditavam — continuava a florescer, e a diversidade de espécies não estava numa trajetória descendente. Assim, podem estar um passo mais perto de comprovar efetivamente que a extinção destes seres não foi gradual, mas sim algo súbito, causado por uma catástrofe natural.

O registo de fósseis correspondentes a esta “última” fase de dinossauros no planeta estava “bastante limitado à região norte do continente norte-americano”. Desta forma, o conjunto de especialistas recorreu a diferentes modelos ecológicos e a uma análise de diversidade da fauna presente na região mais a sul dos EUA para caracterizar as populações que ali habitavam no final do Cretácico Superior (dos 66,4 aos 66 milhões de anos).

Concluíram, então, que existia uma elevada diversidade de dinossauros não aviários, ou seja, que não voam — ou seja, uma larga quantidade de espécies num território que, durante vários anos se assumiu que tinha uma “fauna homogénea”, como explicam os autores do estudo. Esta ideia foi desmistificada, como escreve o investigador principal Andrew G. Flynn ao jornal El País, que refere que esta noção só existia “porque não tinham bons registos geológicos daquele período”.

Agora, com uma “base de dados mais consolidada”, consideram já ter as ferramentas para tirar fortes conclusões. “Tudo indica que os dinossauros estavam a prosperar até ao evento que os exterminou”, conclui o primeiro autor do estudo. O registo continua a ser algo limitado, uma vez que esta localidade que agora exploraram é a segunda região de exploração na América do Norte com as “idades bem controladas” — locais onde conseguem ter um catálogo que distingue os fósseis de diferentes eras. Não obstante, investigadores que não estiveram envolvidos neste estudo admitem que esta descoberta abre as portas para investigações adicionais neste tema noutras partes do mundo, não só com o objetivo de comprovar estes dados, mas também de aprofundar o conhecimento da fauna terrestre na altura em que os dinossauros foram extintos.

O estudo está muito localizado na América do Norte, mas o paleontólogo português Pedro Mocho admite que estas mesmas conclusões podem refletir a realidade tanto na Península Ibérica, como no resto do planeta. “O desaparecimento dos dinossauros não aviários foi um evento global. Tudo aquilo que marca a extinção destas espécies no continente norte-americano é o mesmo evento que marca a extinção em todos os outros”, explica ao Observador. O investigador do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que agora está a trabalhar em formações geológicas com 70 milhões de anos, refere que a diversidade de espécies que encontra no seu campo de estudos é “brutal”.

Na sua experiência profissional, Pedro Mocho conclui que apesar de registar mudanças na fauna nos diferentes territórios que investiga, de uma forma geral, estas não refletem uma diminuição de número de espécies presentes. Ou seja, independente das condições climatéricas, a tendência mantém-se a mesma: até ao momento de extinção, não havia qualquer registo de declínio populacional, tal como reforça o estudo conduzido nos EUA.

O português sublinha a importância destas conclusões, não só por dar uma resposta a esta questão que não tinha ainda uma resposta conclusiva, mas também por contribuir para “um dos debates mais clássicos em torno da extinção dos dinossauros não aviários”. “Para além de avançarem com esta ideia de que não houve um declínio na diversidade, avançam também com a ideia de que, claramente, o que conduziu a esta extinção foi a queda de um meteorito“, afirma Pedro Mocho.

A extinção destas espécies “foi um evento catastrófico bastante rápido, bastante reduzido no tempo“, e com os dados obtidos no estudo, a equipa da Universidade do Novo México “considera que, em termos de datação, só pode corresponder a um impacto meteorítico”, descredibilizando outras teorias que remetem para um episódio vulcânico na Índia que algumas correntes de pensamento apontam para a causa da extinção.

Ao mesmo tempo, continua o paleontólogo, este estudo permite também verificar “como uma fauna de dinossauros responde a um evento catastrófico”. “Esta investigação diz também uma coisa muito interessante: que a fauna recupera muito rapidamente“, acrescenta, indicando que com o passar do tempo, após o tal evento que conduziu à extinção dos dinossauros não aviários, a Terra voltou a ser populada com “uma fauna bastante diversa dominada por mamíferos”. Desta forma, faz o paralelismo com as “importantes alterações climáticas” a acontecer neste preciso momento — que estão a causar a diminuição da diversidade de espécies — e, assim, considera que este estudo “pode dar muitas informações de como é que o nosso ecossistema vai funcionar nos próximos milhares de anos”.

“Diria que, sem dúvida, saber como é que isto funciona vai nos dar informação muito útil para o futuro”, conclui o especialista português.

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