Valerii Apetroaiei / stock.adobe.comNova orientação para a rede pública permite ampliar prevenção.Valerii Apetroaiei / stock.adobe.com

Novas recomendações do Ministério da Saúde para a realização de mamografia no Sistema Único de Saúde (SUS) permitirão ampliar o cuidado e a prevenção do câncer de mama. Além da alteração da idade de rastreamento ativo, mulheres mais jovens passarão a poder realizar o exame.

Antes da mudança, uma paciente com menos de 50 anos só receberia o encaminhamento de mamografia em uma unidade de saúde se houvesse indicação médica com justificativa, como sintomas ou histórico familiar. Agora, para mulheres de 40 a 49 anos, a solicitação será possível sob demanda, isto é, mediante solicitação, mesmo sem sintomas.

A nova orientação ocorre em meio a um aumento de casos de câncer de mama entre mulheres abaixo de 50 anos, conforme dados do Ministério da Saúde. No Rio Grande do Sul, os registros têm aumentado ano a ano – na faixa etária dos 40 anos, o aumento foi de 50% de 2015 a 2024 –, embora tenham apresentado redução de 5,6% em 2024 em relação ao ano anterior. A faixa de 40 a 49 anos concentrou 20,5% (1.032) dos registros em 2024.

A mudança não significa que a idade do início do rastreamento ativo para a realização do exame – ou seja, do acompanhamento padrão preventivo de dois em dois anos – foi reduzida. O ministério manteve os 50 anos para começar o rastreio, mas ampliou a faixa etária dos 69 para até 74 anos. Assim, mulheres dos 50 aos 74 anos de idade entram automaticamente no esquema de rastreamento.

A ampliação da faixa etária foi necessária devido ao aumento da longevidade da população, representando um ganho importante, conforme Andrea Damin, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional RS (SBM-RS) e chefe do Serviço de Mastologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

A mamografia é o exame mais importante para a detecção precoce do câncer de mama, sendo capaz de identificar nódulos e alterações antes mesmo de se tornarem palpáveis. De acordo com o Ministério da Saúde, o SUS realizou 4,4 milhões de mamografias em 2024.

Como vai funcionar

Dos 40 aos 49, a realização do exame sob demanda da paciente deve ser uma decisão dividida entre a mulher e o profissional de saúde, após o médico apresentar os riscos e benefícios. O risco é um pouco maior do que na faixa etária de 50 a 75 anos. 

Pelo fato de a mama ser mais densa antes dos 50 anos, a mamografia tem precisão menor, explica José Barreto Carvalheira, diretor do Departamento de Atenção ao Câncer do Ministério da Saúde. Isso pode culminar em procedimentos sem necessidade, como biópsia, segundo o diretor. Andrea, por outro lado, aponta que os riscos são mínimos, com necessidade de exames complementares, como ecografia.

— É só ela (a paciente) querer fazer, e ela pesar os riscos e os benefícios, que ele (o médico) vai solicitar. A decisão é dela, só que precisa ter uma orientação — informa Carvalheira.

O exame poderá ser solicitado por qualquer médico – de forma geral, é solicitado pelo médico de família, ginecologista ou clínico geral. A indicação do profissional sem solicitação da paciente deve ser baseada em uma avaliação de risco.

— É uma luta das sociedades médicas, e estamos, há muito tempo, mostrando que as pacientes estão cada vez mais jovens. Têm estudos brasileiros mostrando um índice de 42% de pacientes com diagnóstico de câncer de mama com menos de 50 anos — avalia Andrea.

A médica lembra que países como os Estados Unidos já diminuíram a idade do rastreamento ativo para abaixo de 50 anos. Na rede privada brasileira, o rastreamento é recomendado anualmente a partir dos 40 anos. A presidente da SBM-RS aponta que, no Brasil, não há rastreamento adequado para toda a população. 

— Já ganhamos uma batalha. Não a guerra, mas a batalha — afirma.

Alguns estudos populacionais mostram que a realização do exame na faixa etária dos 40 anos leva à diminuição da mortalidade, segundo Carvalheira. Em relação à possibilidade de redução da idade de rastreamento ativo para incluir essas mulheres, o diretor afirma que, para que a diretriz mude, é necessário aumento de evidências. O país segue diretrizes adotadas na Austrália e em alguns países europeus.

Lidando com a nova demanda

O Brasil tem 3.309 mamógrafos, com capacidade subutilizada. Segundo Carvalheira, há uma reorganização em andamento e os mamógrafos serão “suficientes” para dar conta da nova demanda. A gestão das filas, por sua vez, é responsabilidade dos Estados e municípios, segundo o ministério.

O principal problema é o acesso aos exames, o que dificulta a realização, pondera Andrea. Procurada, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que não regula exames, portanto, não possui dados sobre fila para a realização de mamografia no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, em setembro, havia 157 pessoas na fila, conforme painel da prefeitura.

Abaixo dos 40

Antes dos 40 anos, a incidência do câncer de mama é baixa, pontua a mastologista Andrea Damin. Nessa faixa etária, é importante o autoconhecimento da mama para identificar se há alguma alteração, por meio do autoexame – que não deve substituir a mamografia na idade indicada para rastreamento.

Um nódulo ou líquido saindo pela mama demandam avaliação médica, pois podem representar um sinal de alerta. A médica desmistifica a noção equivocada de que o câncer de mama acomete principalmente pacientes com histórico familiar – apenas 10% dos casos têm origem familiar. Não há um único motivo específico para o câncer de mama, que é multifatorial.

Nessa faixa etária, a precisão da mamografia é ainda mais baixa, conforme Carvalheira. Normalmente, para o diagnóstico, é indicada uma ressonância nuclear magnética.

Andrea reforça a importância dos cuidados em relação aos fatores de risco para o câncer de mama

  • evitar a ingestão de álcool 
  • realizar atividade física
  • manter peso corporal adequado, pois a obesidade é fator de risco 
  • gestação tardia, após os 35 anos 
  • estresse