O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua a intensificar o reforço militar norte-americano nas Caraíbas. Depois de ter dito que a intervenção em “terra será o próximo” passo na guerra contra no narcotráfico, o líder norte-americano ordenou esta sexta-feira a mobilização do grupo do porta-aviões Gerald R. Ford para a América Latina, uma demonstração de força que excede em muito qualquer necessidade anterior no combate ao tráfico de droga e que representa a acção mais musculada de Washington até agora nesta região.
O envio faz parte do reforço militar de Trump no mar de Caribe, que inclui mais oito navios de guerra, um submarino nuclear e aviões F-35. A manobra pode gerar preocupação na região sobre as verdadeiras intenções da Administração Trump.
A mobilização marca uma escalada significativa na abordagem norte-americana, numa altura de tensões crescentes com a Venezuela, cujo governo Washington há muito acusa de abrigar traficantes de drogas e minar as instituições democráticas.
“O reforço da presença militar dos EUA na área de responsabilidade do USSOUTHCOM [sigla inglesa do Comando Sul dos Estados Unidos] irá reforçar a capacidade dos EUA para detectar, monitorizar e neutralizar actores e actividades ilícitas que comprometem a segurança e a prosperidade do território dos Estados Unidos e a nossa segurança no hemisfério ocidental”, publicou o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, na rede social X (antigo Twitter).
Parnell não especificou quando é que o porta-aviões vai ser mobilizado para a região, mas é sabido que o navio atravessou, há poucos dias, o estreito de Gibraltar, entre Espanha e Marrocos.
O Gerald R. Ford, em serviço desde 2017, é o maior porta-aviões do mundo e o mais recente da frota norte-americana – o primeiro de uma classe actualmente em produção para substituição dos navios actualmente disponíveis da Marinha dos EUA. O navio tem 333 metros de comprimento e capacidade para albergar cinco mil marinheiros.
Aviões F-18 a bordo do porta-aviões norte-americano Gerald R. Ford
STEPHANIE LECOCQ/LUSA
Os porta-aviões são dos recursos mais escassos do arsenal militar norte-americano, que conta apenas 11 em actividade. O Gerald R. Ford tem capacidade para 75 aeronaves militares, incluindo aviões como F-18 e E-2 (um avião táctico de alerta). Além de radares que permitem controlar o tráfego aéreo e a navegação, está também equipado com um arsenal de mísseis. As embarcações de apoio que viajam em grupo com o porta-aviões incluem cruzadores, contratorpedeiros e outros navios com capacidades de guerra antiaérea, anti-navio e anti-submarina.
O anúncio da mobilização do porta-aviões surgiu poucas horas depois de as Forças Armadas dos EUA terem realizado o décimo ataque a um barco suspeito de tráfico de drogas no mar das Caraíbas. Desde o início destas operações, no início de Setembro, pelo menos 43 pessoas foram mortas.
Face à crescente pressão dos EUA na América Latina, que tem incidido principalmente sobre a Venezuela, o líder venezuelano, Nicolás Maduro, tem deixado avisos ao homólogo norte-americano. Maduro, que alega que os Estados Unidos estão a usar a guerra contra o narcotráfico como pretexto para o afastar do poder, disse que o país tem cinco mil mísseis de fabrico russo preparados para combater uma eventual ofensiva norte-americana. E ameaçou, pouco depois de Trump ter falado em ataques por terra, com uma “greve nacional” e “revolucionária”, se acontecer no país um ataque que subverta a soberania do Estado.
Nos últimos dias, Washington entrou também em rota de colisão com a Colômbia, país vizinho da Venezuela, com Donald Trump a acusar o Presidente Gustavo Petro de ser um “líder do tráfico ilegal de drogas” e um “bandido” — linguagem que o governo de Petro considerou ofensiva.